Autor: Simoni Machado Gomes (Currículo Lattes)
Resumo
Esta dissertação tem como objetivo discutir, à luz da Teoria da Enunciação de Émile Benveniste e seus desdobramentos, como a relação língua, indivíduo, sociedade e cultura configura os sentidos da representação da mulher em discursos publicitários nas sociedades brasileira e francesa. Com base na leitura de textos de Benveniste que integram as obras Problemas de Linguística Geral I (2005) e Problemas de Linguística Geral II (2006), bem como de estudiosos de seu pensamento, sistematizamos os pressupostos teóricos que fundamentam o nosso trabalho e propomos deslocamentos de conceitos fundamentais do campo enunciativo para desenvolver nossa abordagem do discurso publicitário, considerando a relação constitutiva entre língua, indivíduo, sociedade e cultura. Ao considerar a publicidade como um artefato cultural que testemunha a relação língua, indivíduo, sociedade e cultura, propomos analisar dois vídeos publicitários disponíveis no YouTube, um brasileiro e outro francês, os quais têm como temática central a representação da mulher. A exploração dos discursos publicitários se concentrou em verificar como são mobilizados os valores sociais e culturais acerca da mulher nas duas sociedades por intermédio do exame da configuração (inter)subjetiva e referencial interna ao discurso publicitário, ou seja, entre os próprios personagens participantes das cenas nas campanhas de um lado, e, de outro, a configuração (inter)subjetiva e referencial prospectada pelo discurso publicitário, ou seja, entre a campanha e o(s) interlocutor(es) projetado(s) por ela. Realizado esse percurso teórico, metodológico e analítico, constatamos que, nos dois movimentos enunciativos, o interno e o prospectado, a língua convertida em discurso carrega consigo os traços sociais e culturais conforme o aqui-agora da enunciação. De um lado, isso evidencia que a construção da referência no discurso se dá com base nos valores sociais que demarcam a experiência e o posicionamento do locutor em seu dizer. De outro, evidencia que é a partir da relação (inter)subjetiva que o locutor pode reproduzir a realidade em seu discurso, permitindo que o alocutário possa recriá-la. Sendo assim, concluímos que o olhar enunciativo para os discursos publicitários revela um movimento duplo de constituição de sentidos, ligado, inicialmente a uma configuração (inter)subjetiva e referencial interna às situações discursivas das publicidades e, posteriormente a uma segunda prospectada no e pelo discurso dos anúncios. Nesse engendramento, são tecidas as relações dos indivíduos com a sociedade e a cultura, produzindo sentidos singulares na e pela língua acerca da representação da mulher nas sociedades brasileira e francesa.