Tese - Vozes femininas em travessia no Atlântico negro : repensando o ser, o saber e o corpo negro a partir das encruzilhadas literárias de Chimamanda Ngozi Adichie, Buchi Emecheta e Sefi Atta

Autor: Natália Regina Rocha Serpa (Currículo Lattes)

Resumo

Investigo nesta tese como a escrita literária das escritoras nigerianas Buchi Emecheta (1944 - 2017), Sefi Atta (1964 -) e Chimamanda Adichie (1977-) podem, a partir de uma análise afrocentrada, nos ajudar a repensar o Ser, o Saber e a Estética do corpo negro. Nos romances em questão, a construção das personagens nos permite compreender como as identidades são reconstruídas à medida que os corpos negros são submetidos a deslocamentos voluntários ou não. As personagens Ifemelu, Enitan e Nnu Ego são, respectivamente, as protagonistas dos romances Americanah (2014), Tudo de bom vai acontecer (2013) e As alegrias da maternidade (2018), e, em algum momento da narrativa, são colocadas em travessia física ou psicológica e, ao deslocarem-se, nos fazem questionar a identidade, as opressões de gêneros, raça e classe numa Nigéria marcada pelos efeitos do colonialismo. É importante ressaltar que as três autoras, em certo ponto, experimentaram o que é ser um corpo negro africano em diáspora e talvez essa experiência tenha transformado as escritas dessas mulheres em narrativas escreviventes capazes de enunciar o não-lugara ao qual os corpos negros foram relegados, uma escrita que é também um ato de resistência e, ao resistir, elas quebram o silenciamento e driblam as epistemologias ocidentais e hegemônicas, revelando outras formas de conhecer, Ser e aparecer no mundo. Minha análise parte de uma perspectiva não ocidental e agencia a epistemologia dos òrìsàs como operador teórico capaz de elaborar um Devir negro que não está necessariamente ligado a um ente corpóreo, um devir que não se pensa universal. Em minha pesquisa, a partir de outras agências negras, os corpos negros não são percebidos a partir de um espelhamento com o branco, por isso evoco o abebé de Òsùn para analisar a estética do corpo negro. Os três romances analisados buscam dar voz às mulheres subalternizadas, vítimas de um projeto de morte do Estado, da violência de gênero e da fome que assola a Nigéria. Em minha investigação, também priorizei dar voz a teóricos negros, dentre eles, cito os trabalhos de Audre Lorde (1978), Oyèrónk Oywùmí (2020), Achille Mbembe (2017), Maldonado Torres (2018), Carla Akotirene (2019), bell hooks (2018), Jurema Werneck (2000), Molefi Kete Asante (2009), Patricia Collins (2003), Paul Gilroy (1993), (1990), Sueli Carneiro (2011), Stuart Hall (2003), Abdias Nascimento (2019) e outras contribuições que foram imprescindíveis para a finalização desta pesquisa, como Reginaldo Prandi (2001), Ivan Poli (2019), Juana Elbien dos Santos (2012).

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