Dissertação - Racismo, segregação e morte : análise dialógica do discurso das organizações Ku Klux Klan e White Lives Matter em mídias digitais

Autor: Marcos Alexandre Fernandes Rodrigues (Currículo Lattes)

Resumo

Como fenômeno planetário, averígua-se a ascensão da extrema direita neonazista e, com efeito, a fragilização de humanidades, democracias e suas instituições políticas. Para tanto, as mídias digitais propiciam situações de interação discursiva que superam barreiras geográficas, visto que possibilitam que organizações de ódio racial instaurem locutores que pregam a filiação de novos membros, a doutrinação acerca da superioridade e inferioridade racial, cultural e moral, intimidação do outro humilhado, viralização e polemização de posições ideológicos extremistas e aterrorização do branco no que tange à crença de um genocídio em massa do qual seria vítima. Nessa conjuntura, esta dissertação prossegue em direção à análise dialógica do discurso das organizações Ku Klux Klan (KKK, doravante) e White Lives Matter (Vidas Brancas Importam, WLM, doravante), pois suas palavras são avaliadas e respondidas tanto por estadunidenses quanto por brasileiros. Para justificar esta proposta, reclamam-se duas orientações: a defesa dos valores ideológicos (históricos, sociais, éticos, políticos, jurídicos) atinentes aos direitos humanos (dignidade, justiça, liberdade) como contrapalavra ao ódio racial com respaldo do III Programa Nacional de Direitos Humanos (PNDH-3, doravante); a expectativa de contribuir às Ciências Humanas, Sociais e da Linguagem com especificidade para teoria dialógica do discurso. Como objetivo geral, analisam-se, dialogicamente, os discursos da KKK e WLM com a finalidade de compreender seus estilos discursivos com vistas a perceber as imagens produzidas sobre o branco e o negro. Da generalidade à especificidade, objetiva-se: i) verificar a construção de cronotopos (espaço-tempo) internos e externos com o propósito de entender o emprego de índices espaciais e temporais para avaliar os Estados Unidos da América (EUA, doravante); ii) examinar a constituição do discurso paródico de tipo racista com o intuito de interpretar como seus espelhos semânticos deformam o outro; iii) indagar, em cotejamento, como os discursos da KKK e WLM são apreendidos, orientados e ressignificados pela organização brasileira Orgulho Branco (OrBr, doravante) para o cenário nacional com a intenção de identificar relações dialógicas expressas em suas posições extremistas. No que se relaciona aos pressupostos teóricos e filosóficos, escolheu-se a teoria dialógica do discurso e da linguagem fomentada pelas obras do grupo russo de pensadores formado dentre outros por Mikhail Bakhtin, Pável Medviédev e Valentin Volóchinov, porque, com seu potencial analítico-interpretativo, permite estudar o repetível (linguístico, significado, geral) e irrepetível (discursivo, sentido, singular) no projeto arquitetônico das organizações. Ao planejar a metodologia, usaram-se estes procedimentos: i) caracterização e escolha das organizações; ii) observação e registro das interações discursivas; iii) esboço das questões de pesquisa; iv) análise dialógica dos enunciados; v) escrita e apresentação dos resultados. Por fim, a conclusão desta pesquisa é que, por não subverterem sua conjuntura política, histórica e cultural, as organizações estadunidenses sinalizadas, cada uma a sua forma, proclamam a segregação, a morte e o encarceramento em massa da população negra, atribuindo-lhe tanto a pecha de miscigenar e contaminar a população branca quanto a de aumentar a criminalidade e cometer assassinatos.

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