Autor: Amanda Silveira (Currículo Lattes)
Resumo
Ao subverter a norma, ao romper com a mordaça da censura, a autora de vanguarda do Modernismo português, Judith Ramos Teixeira (1888-1959), constituiu-se na memória da história da literatura como sinônimo de resistência à moralidade. A eu lírica de seus versos transgride as concepções enraizadas na cultura sobre os marcadores do ser mulher em um período afamado pela censura e exclusão dessas figuras. Assim, o presente estudo baseia-se na análise de cinco poemas, todos concentrados na obra Judith Teixeira. Poesia e Prosa (2015), tendo como principal temática norteadora o lesboerotismo. As discussões fundamentadas ao longo da dissertação serão embasadas pela teoria feminista e pela teoria literária, tendo como principais nomes Judith Butler, Monique Wittig, Sophia Mello Breyner Andresen, Tania Navarro Swain e, por esse viés, vislumbrar uma perspectiva diferente do que é ser mulher lésbica em uma sociedade marcada pelo jogo de poder inspirado em um discurso androcêntrico, pautado na dominação do corpo e do desejo feminino. O tempo clivou o desprazer na história das mulheres, seja pelo sexo como compromisso no matrimônio, seja pela impossibilidade de realização em outras esferas da vida, para além do espaço doméstico. Justamente por isso, o lesboerotismo na obra de Judith contrapõe a ausência do prazer pela presença do desejo. Para tanto, tem-se o desejo como simbólico e político, o principal caminho para romper com a heterossexualidade compulsória, tida como a única forma de performar gênero e sexualidade. Ao compreender, por meio da poesia, que o discurso implícito na cultura portuguesa ao longo do século XX parte do binarismo imbricado na patologização do desejo lésbico, objetiva-se encontrar na renovação do cânone modernista um caminho para a reparação das marginalizações e exclusões que compuseram a história da literatura lusitana.