Dissertação - O protagonismo na BNCC e a proposta pedagógica de Bakhtin : pontos e contrapontos com o discurso de professores do Ensino Fundamental II, no eixo de produção textual

Autor: Dominique de Melo Franco Campelo Oliveira (Currículo Lattes)

Resumo

O presente trabalho, ancorado na abordagem filosófica da linguagem (Bakhtin, 1997), propõe um diálogo entre a Base Nacional Comum Curricular (BNCC), o protagonismo discente (Sobral, Guimarães e Giacomelli, 2022) e a voz do professor, a fim de verificar em que medida a BNCC proporciona aos professores das redes pública e privada caminhos para uma proposta pedagógica que promova o protagonismo dos alunos do ensino fundamental II como agentes de aprendizagem em aulas de produção textual. Compreende-se aqui que a concepção de protagonismo estabelece um diálogo entre a perspectiva dialógica de Bakhtin (1997) e a BNCC, que são próximas das proposições filosóficas da teoria dialógica, conforme mencionam Sobral, Guimarães e Giacomelli (2022). Nesse sentido, avalia-se que a voz do professor é o melhor caminho para compreender como a BNCC tem sido de fato implementada nas aulas de produção textual no ensino básico. A pesquisa é composta por duas etapas distintas: uma análise teórica da BNCC, com ênfase no mapeamento de termos como protagonismo e autonomia, além do papel que o professor e o aluno desempenham, em termos teóricos; e uma pesquisa prática realizada por meio de um formulário online direcionado a professores de língua portuguesa que atuam no ensino fundamental II. Iniciamos com a análise da BNCC, mapeando alguns conceitos caros à nossa pesquisa: protagonismo e autonomia. Além disso, rastreamos, através das orientações de trabalho do documento, como ele menciona o papel do professor e do aluno. Em seguida, em um diálogo com essa discussão teórica, avaliamos as respostas coletadas em um formulário confeccionado a partir dessas avaliações teóricas da implementação da base. Este formulário foi construído através do Google Forms. A amostra incluiu a participação de 17 professores de diferentes estados e modalidades de escolas. Os resultados apontam para: (a) a necessidade de um maior suporte para formação continuada docente. Mesmo que muitos tenham recebido formação continuada (com percentagens variando entre 29,4% e 35,3%), os resultados demonstram uma ineficiência nesse processo formativo; (b) a imposição da implementação da BNCC em várias instituições de ensino, o que denota, em muitos discursos docentes, uma falta de apoio à base, compreendendo-a apenas como um documento de cunho político; (c) a complexidade das percepções dos professores em relação à BNCC, destacando desafios e os usos superficiais desse documento, como, por exemplo, em situações em que a BNCC somente é utilizada para a construção teórica do plano de aula e/ou currículo escolar; (d) os problemas enfrentados pelos docentes durante a pandemia de COVID-19, onde a BNCC não foi um instrumento facilitador, por exemplo; (e) a noção da Base, nas aulas de língua portuguesa, no eixo de produção textual, como algo positivo em muitos aspectos, como os textos multimodais, a abrangência dos gêneros textuais e os novos modelos de avaliação promovidos pelo que se estabelece no documento. Em síntese, o professor, de acordo com essa abordagem prática dos processos de inserção da base em sala de aula, continua a enfrentar situações desgastantes decorrentes de instituições superiores e de aspectos específicos do ambiente escolar em que trabalha, como no caso das formações continuadas. O contexto no qual o docente está inserido é fundamental para sua percepção do desenvolvimento prático dos conceitos relevantes para nossa pesquisa, pois, dependendo do tempo e espaço, a visão de mundo desse profissional também se modifica.

TEXTO COMPLETO

Palavras-chave: Língua portuguesaProfessoresEnsino fundamentalProdução textualBase Nacional Comum Curricular (BNCC)ProtagonismoEnsino dialógico alteritário