Tese - Memória e ressignificação histórica em Ungulani Ba Ka Khosa

Autor: Salomão António Carlos Massingue (Currículo Lattes)

Resumo

Ao discutir a memória e ressignificação da história na obra literária de Ungulani Ba Ka Khosa, a presente pesquisa coloca em foco as relações sempre imbricadas entre memória, história e literatura, tomando como objeto de análise o texto literário. Tal análise decorre das possibilidades oferecidas pela obra do autor em estudo em todos os seus vetores, temático, estético e simbólico. Na tentativa de compreender os procedimentos escriturais tomados pelo autor para tomar a memória na ressignificação da história, analisamos as imbricações entre ficção e história, a partir da abordagem de White (1992, 1994, 2001), considerando que a obra de Khosa se inscreve, mutatis mutandis, como um indeclinável convite à reflexão e conhecimento da história da Nação moçambicana, a partir da releitura e revisitação dos fenômenos e eventos que marcam a memória nacional e coletiva, mormente no pós-independência. A esse respeito, defendemos e embasamos que estamos diante de um tipo de literatura pós-colonial. Com efeito, os fundamentos da crítica pós-colonial atravessam a análise de toda a tese. Dela vincamos a perspectiva e visão de dois autores africanos: Appiah (1997) e Mata (2007, 2008, 2014), dentre outros, cujas abordagens se tornaram fecundas no campo literário africano. A partir de uma análise relacional, estabelecemos um diálogo entre esta perspectiva e a de Pollak (1989), de quem emprestamos a categoria analítica da segunda seção da tese, em estreita relação com a perspectiva de memória coletiva de Halbwachs (2012) e de Seixas (2004), em quem exploramos a categoria do ressentimento, a partir da análise feita das memórias subterrâneas. Dessa análise decorre a noção de memórias silenciadas que operam numa lógica de confronto e numa relação dicotômica com as memórias oficiais. Desse modo, agrupamos essas memórias (subterrâneas e silenciadas) no quadro do que Assmann (2018) designa de memórias inoficiais. Concomitantemente, diante da representação de circunstâncias catastróficas em que a principal vítima é a memória, vincamos, por um lado, os diferentes e criativos mecanismos adotados pelos sujeitos ficcionais para a (re)existência entre violência, trauma e esquecimento, partindo da dialética memória e identidade estabelecida por Candau (2019), e, por outro, as formas de ressignificação dos lugares pela memória corporal, a partir dos pressupostos teóricos de Casey (2009), Merleau-Ponty (1999) e Ricoeur (2007). A análise efetuada permitiu-nos constatar que a escrita de Khosa se processa pela lógica de subversão e questionamento da história oficial, (re)criando a história pelas estórias ficcionais, e (re)construindo o passado pela costura da memória. É assim que, por meio da memória, o autor vai (re)inscrevendo os fragmentos de tempos e espaços e, por esse intermédio, sua escrita acaba propondo novas formas de relação com o próprio passado, numa lógica que rompe com o discurso histórico oficial e homogeneizante e persegue o que Bhabha (1998) chama de um discurso "performático". No fundo, as memórias silenciadas e subterrâneas vincadas pelo autor atuam como memórias funcionais criticamente subversivas (ASSMANN, 2018) e tencionam deslegitimar, a partir da margem dos trilhos do discurso, a memória oficial, servindo, em última instância, de estratégias estético-literárias que Ungulani Ba Ka Khosa adota para reler e ressignificar a história.

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Palavras-chave: MemóriaHistóriaLiteraturaLiteratura moçambicanaMoçambiqueRessignificação históricaKhosa, Ungulani Ba Ka, 1957-