Autor: Cláudia Carneiro Peixoto (Currículo Lattes)
Resumo
O presente estudo tem como objetivo relacionar as categorias ético-políticas da vida precária e não enlutável, da filósofa Judith Butler, com a contística de Bernardo Élis, tendo como chave de leitura a estética do grotesco. Ao longo do texto, a análise da obra de Bernardo Élis foi desenvolvida de maneira abrangente, com a abordagem de diversas narrativas literárias, crônicas e textos biográficos. Foram escolhidos os seguintes contos para análise mais detida da estética do grotesco: "As morféticas", "André Louco" e "A enxada". O corpus selecionado possibilitou refletir acerca da existência de vidas que valem menos que outras, que não contam como vidas dignas de serem vividas e estão excluídas de enquadramentos normativos de reconhecimento como humanas, vidas excluídas do direito ao luto e, portanto, também de proteção e cuidado. Nesse contexto, a categoria do grotesco foi articulada em seus aspectos sociais e em sua capacidade crítica de confrontar a realidade por meio do estranhamento e do desconforto, com a desacomodação e desnormalização da violência contra o Outro. Desta maneira, foram de grande relevância para a pesquisa os elementos constitutivos da categoria estética do grotesco, como a deformação, o exagero corporal, o uso da ironia e a fusão natureza/humano/animal. Entende-se que os elementos do grotesco carregam a potência crítica que desestabiliza, desestrutura e desvela o olhar para a sensibilidade e alteridade, como uma convocação à responsabilidade pelo Outro a partir do choque com o desumano/inumano que o grotesco promove.