Autor: Angélica da Cruz Gonçalves Carlos (Currículo Lattes)
Resumo
Esta dissertação objetiva analisar o processo de memoricídio da literatura brasileira de autoria feminina do século XIX a partir do livro Eles e elas (1910), de Júlia Lopes de Almeida (1862-1934). Júlia foi uma das autoras mais reconhecidas em sua época, publicando cerca de 30 títulos, que consistem em contos, crônicas, romances, peças de teatro, poemas e textos didáticos, e participando ativamente dos círculos intelectuais. Em sua escrita, defendeu a educação formal das mulheres, a abolição da escravidão e a República. Apesar de sua imensa contribuição para a formação cultural e literária brasileira, ela foi omitida dos estudos da crítica literária após sua morte em 1934 e não foi incluída nas histórias da literatura sobre o período da belle époque. A recuperação da sua obra ocorreu somente a partir da década de 1980 pelas pesquisadoras da Crítica Literária Feminista que passaram a problematizar a ausência de arquivos sobre as autoras brasileiras do século XIX. A partir destas inquietações, pretende-se analisar a obra da autora como um caso do que Constância Lima Duarte (2020; 2022) define como memoricídio, baseada na teoria de Fernando Báez (2009) e nas reflexões sobre o mal de arquivo, de Jacques Derrida (2001). Além disso, busca-se realizar uma investigação sobre a relação simbólica da noção de mulher enquanto espelho, do discurso da sua inferioridade e da imposição da sua reclusão doméstica (elementos presentes no texto e no discurso patriarcal da época) com a solidificação de um memoricídio contra as mulheres.