Autor: Evelyn Caseira Nunes (Currículo Lattes)
Resumo
O presente trabalho, com suas bases teóricas ancoradas na Semântica (Sócio)Cognitiva, visa desenvolver o exame dos processos de recategorização do discurso bíblico neopentecostal no álbum Sobrevivendo no Inferno (1997), do grupo de rap brasileiro Racionais Mc's. Sendo assim, o estudo partirá das concepções da filosofia clássica acerca dos conceitos de referente e categoria até o desenvolvimento da teoria do lógico Gottlob Frege (2011[1892]). Contudo, a partir das formulações da teoria do valor linguístico de Ferdinand de Saussure (2012[1916]) e dos postulados de Ludwig Wittgenstein (1999[1953]), será possível compreender as categorias e os referentes linguísticos - tratados como objetos de discurso (Mondada e Dubois, 2015) - como instáveis, submetidos às pressões da instanciação discursiva e às conceptualizações culturais (Sharifian, 2011). Nesse ponto, encontram-se os autores que permitem o trabalho com a Semântica (Sócio)Cognitiva: Lakoff (1987), Lakoff e Johnson (1999), Fauconnier e Turner (2002), Sharifian (2011) e Mondada e Dubois (2015). A partir desta tomada de posição teórica, verifica-se a possibilidade de trabalhar o processo de recategorização no caso analisado enquanto sustentação da significação do evangelho marginal (Oliveira, 2018) dOs Racionais. Desviando de uma compreensão essencialista da relação entre língua e mundo, o sujeito do discurso é concebido a partir de uma mente corporificada socio-historicamente situada (Lakoff e Johnson, 1999), passível de assimilar o cognitivo e o social, imbricado no semântico. Assim, através dos estudos de Fauconnier e Turner (2002) e Mondada e Dubois (2015) - em suas contribuições acerca do conceito de mesclagem conceptual e de recategorização dos objetos de discurso, respectivamente -, tem-se como objetivo a compreensão dos processos cognitivos, semânticos e culturais que possibilitam a significação de um culto neopentecostal adaptado, recategorizado, às significações do cotidiano de uma periferia múltipla, expressão máxima das contradições de um sistema de opressão de raça e classe.