Autor: Elizabeth Suarique Gutierrez (Currículo Lattes)
Resumo
O tema desta pesquisa é o polissistema literário latino-americano como uma perspectiva historiográfica e metodológica que considere as diversas origens culturais do território de produção. A crítica latino-americana tem se perguntado pelo problema de construir uma narrativa historiográfica que inclua as diversas tradições desenvolvidas no território denominado América Latina -também denominado ancestralmente Abya Yala para os povos originários, e Améfrica Ladina, para as sociedades afrodiaspóricas e ancestrais-. Estas tradições trazem consigo suas próprias epistemologias que perduram ao longo dos tempos em novas formas, nas quais se percebem entrecruzamentos, especificidades e modos de recriação na sua própria língua originária, como na produção dentro dos códigos da língua escrita. A pesquisa se divide em quatro capítulos. Os dois primeiros apresentam a discussão teórica em torno da heterogeneidade cultural e epistemológica do território Abya Yala; seguidamente expõe-se os referentes teóricos pelos quais se constroem as categorias através das quais se realiza um exercício de leitura polissistêmica. Já no terceiro capítulo, aborda-se a leitura de três romances: Vidas secas, do brasileiro Graciliano Ramos; Siervo sin tierra, do colombiano Eduardo Caballero Calderón; e Governeurs de la rosée, do haitiano Jean Roumain. Com este exercício, demostra-se a continuidade do pensamento originário e ancestral por meio dos sentipensamentos do personagem popular a respeito da terra e o trabalho comunitário; assim mesmo, também é possível evidenciar a crítica colonial a partir da imagem do mundo ao avesso e do mestiço colonizado. Desse modo, comprovamos que é possível trabalhar com categorias que levem em conta as continuidades epistemológicas presentes na produção literária da região, estabelecendo vínculos com textos que são distantes pela diferença de línguas e geografias. A pesquisa encerra com uma discussão sobre a necessidade de pensar a historiografia e a metodologia a partir da diversidade epistêmica como uma perspectiva que aporte às reflexões sobre as mudanças nas estruturas curriculares dos cursos de letras como um ato de justiça cognitiva.