Autor: Emerson Luis Maurmann Lemos (Currículo Lattes)
Resumo
O neoliberalismo nasceu, se desenvolveu e foi aplicado nas agendas políticas da burguesia no século XIX, tendo seu grande momento de destaque nas gestões da primeira-ministra Margareth Thatcher na Inglaterra e do presidente Ronald Regan nos Estados Unidos. Esse cenário social, político e econômico é palco das interações entre sujeitos responsivos e responsáveis, aptos a redirecionarem sentidos na e pela linguagem, balizada pela doutrina neoliberal e suas valorações sobre o mundo, a vida, e a sociedade. Com intuito de ver a expansão destes valores, divisamos as mídias digitais como esfera de intensa circulação discursiva de locutores que se posicionam semântica e axiologicamente, afetados pela doutrina neoliberal, ecoando distintas vozes sociais ao construírem enunciados. Por isso, tendo em vista o protagonismo no Estado na garantia da liberdade econômica por intermédio de suas instituições e as mídias sociais como mola propulsora de discursos na sociedade, divisamos um conteúdo propagandista produzido e publicado pelo Banco do Brasil (BB) no Youtube. Nosso objetivo é analisar a interação entre sentidos em trechos do vídeo "O Futuro do Trampo - Ep. 01 O Futuro da Saúde", a partir do enlace entre distintas vozes sociais e liberais que balizam esta materialidade. Buscamos chegar no destino pretendido fundamentados nos estudos do Círculo de Bakhtin, destacando a bivocalidade como um conceito-chave que rege este trabalho. Nosso caminho metodológico se guiou pela contextualização histórica do BB desde os anos 1990, do episódio "O futuro da saúde" e seus conteúdos complementares disponibilizados em outras mídias sociais (Instagram e X), das concepções sobre mídias e o discurso propagandista ancoradas, principalmente, nos estudos de Patrick Charaudeau. Na análise, percebemos um intenso processo de bivocalização em distintas partes do discurso em foco, de forma que as valorizações sobre a sociedade, a realidade e os sujeitos, surgidas nos antros de formulação teórica do neoliberalismo, são os meios pelos quais o banco se apresenta como instrumento de vitória em um jogo competitivo e os personagens do vídeo como modelos desse estilo de vida. A empresa encontra nesse ambiente teórico a possibilidade de se mostrar uma aliada preocupada com o futuro de trabalho dos jovens, na formulação de um conteúdo educativo com acessibilidade em uma mídia digital que participa do cotidiano deste público. Concluímos afirmando que embora parte dos cidadãos brasileiros acreditem que o neoliberalismo fora derrotado ou enfraquecido pela crise de 2008, pudemos perceber que seus valores seguem latentes na linguagem, sobretudo nas mídias pela orientação de sentidos advindas de sujeitos que modificam a realidade enquanto são modificados por ela.