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A Quotidiana Fidedigna

Capa de um dos números do periódico (n. 71, 1834)

             A  Quotidiana  Fidedigna: periódico político, moral, literário e noticioso. Recife.

1833 a 1836. Provavelmente, começou a circular em outubro ou novembro de 1833 (NASCIMENTO, 1966, p. 28). Diário. Com interrupção.

            O escritor e comendador legitimista e conservador Bernardino José de Senna Freitas (São José, Rio de Janeiro, 31.10.1808 ou 1812 – São Pedro de Maximinos, Braga, 17.10.1872) é o único nome dado como “autor” do periódico pela Brasiliana. Segundo Luiz do Nascimento (que nunca refere Bernardino de Senna Freitas, nome que não surge nos cabeçalhos de 1834), no entanto, nele colaboraram – embora escassamente – mais pessoas e havia muita colaboração com pseudônimos curiosos e estrambóticos. Entre eles se destaca o padre frei Miguel do Sacramento Lopes Gama (O sonâmbulo), ou seja, o conhecido padre Carapuceiro, irreverente, moralista e conservador.

            Era impresso na tipografia Fidedigna, de João Nepomuceno de Melo (rua das Flores, n. 17). Na tipografia se recebiam subscrições, anúncios e correspondência. Subscrevia-se mensalmente (e antecipadamente), por 600 réis, auferindo os assinantes de anúncios e correspondências gratuitos “até 50 linhas impressas” e 20 réis a linha depois desse limite. Os não assinantes pagavam 40 ou 20 réis por linha de correspondências e artigos ou de anúncios. Segundo Luiz do Nascimento, o jornal media 20 cm x 30 cm (Nascimento 1966, 28). Chegou a fazer uma concorrência perigosa ao Diário de Pernambuco. Tinha muitas secções, incluindo noticiário, anúncios, correspondência, câmbios, movimento do porto – e, claro, “artigos” de opinião, manifestos políticos, além de muitos textos trazidos de outros jornais lusógrafos e europeus. Por vezes incluía um Suplemento para abrigar o excesso de colaborações.

            Entre as suas secções havia “Variedades”, “Máximas e Pensamentos” (nem em todos os números apareciam as duas secções) – aquelas que mais se aproximavam da literatura, a par das prosas dominadas pela oratória partidária. Nos números disponíveis em linha não deparei, porém, com textos de relevo artístico. Na secção de “Variedades” incluem-se geralmente citações de autores da família conservadora, ou pelo menos de autores canónicos, entre eles se destacando Xavier de Maistre como referência literária das mais conhecidas na época e Montesquieu.

            Valeria Severina Gomes integra o periódico na tendência político-panfletária, caraterística da primeira fase da imprensa brasileira (GOMES, 2010). Dentro dessa tendência representa os defensores do absolutismo português e os conservadores em geral (postura política mantida pelo redator até ao final da sua vida). A Quotidiana Fidedigna estaria moderadamente alinhada com os interesses dos Caramurus e dos monárquicos legalistas brasileiros, alinhando-se com a figura de D. Pedro II, criticando D. Pedro I e mantendo-se tendencialmente miguelista (A Quotidiana Fidedigna, 1834). O principal motivo da existência deste diário terá sido uma campanha intensa contra o movimento sedicioso dos Cabanos, mas ele movimentava interesses políticos e comerciais além desse episódio.

            O redator foi viver para os Açores, onde a família recebera propriedades e, mais tarde, por questões de saúde, fixou residência em Braga. Em Portugal publicou seus livros e mal lhe conheciam o passado brasileiro. Foi, no entanto, um luso-brasileiro de ilhas e de portos, até se fixar na capital do Minho. Já no tempo de A Quotidiana Fidedigna se relacionava com portugueses e com residentes em Angola (ou no Recife, mas mantendo negócios e interesses em Angola). A julgar pelos subscritores, alguns dos seus leitores estavam (ou estiveram) ligados ao tráfico negreiro.

            Sediado numa cidade-porto muito relacionada com Luanda, o periódico foi subscrito, entre outros, por António de Queirós Monteiro Regadas, tio-avô do poeta angolano José da Silva Maia Ferreira. O pai do poeta e o negociante António de Queirós Monteiro Regadas viram seus negócios prosperar na colónia de Angola e no Recife durante o período miguelista em Portugal e o pai do poeta migrou para o Rio de Janeiro no fim desse período (1834). O nome de António de Queirós na lista de subscritores confirma-nos a clientela conservadora e absolutista do jornal e que ela se estendia a Luanda, onde o comerciante continuava a manter interesses e negócios.

 Francisco Soares

 

Para saber mais:

A Quotidiana Fidedigna: periódico político, moral, literário e noticioso. Confrontações históricas ou Meditação em Rennes, 7 fev. 1834, p. 351.
GOMES, Valéria Severina. Traços de mudança e de permanência em editoriais de jornais pernambucanos: da forma ao sentido. Berlim; Nova Iorque: Walter de Gruyter, 2010.
NASCIMENTO, Luiz do. História da imprensa de Pernambuco (1821-1954): diários do Recife – 1829/1900. v. II. Recife: Ed. da UFPE, 1966.