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Machado de Assis
Foto de Machado de Assis, escritor-jornalista
Joaquim Maria Machado de Assis, autor maior das letras brasileiras, em trajetória ascendente de reconhecimento mundial, deve ser considerado o maior escritor-jornalista brasileiro do século XIX. Ele nasceu no Rio de Janeiro em 21 de junho de 1839 e ali viveu até 29 de setembro de 1908. Apesar de sempre ter vivido no Rio de Janeiro e de raramente ter deixado essa cidade, o literato estava imerso em uma “civilização do jornal”, que pode ser definida como uma época de grande expansão do jornal e da leitura de periódicos em geral, a qual coincide, em parte do mundo ocidental, com o caráter massivo da produção desses impressos. Naquele tempo, passou também a existir a possiblidade de difundi-los amplamente, além de as grandes transformações sociais, econômicas, políticas e culturais da modernidade terem representado, ao mesmo tempo, causa e consequência de novos ritmos no curso dos dias e dos acontecimentos.
Machado de Assis foi jornalista, contista, cronista, crítico literário, romancista, poeta e teatrólogo. No final do século XIX, empreendeu tarefa de grande importância para a institucionalização das letras no Brasil, pois participou da fundação da Academia Brasileira de Letras em 20 de julho de 1897, tornando-se o primeiro presidente dela (1897-1908). O ano de 1897, aliás, representou um marco de mudança na luta de Machado de Assis em prol da literatura brasileira e das letras em geral. Até então, ele fora incansável colaborador dos periódicos da Corte e publicara grande parte de sua obra nos jornais. No que se refere à ficção, parte dela passou do suporte periódico ao livro.
Entre seus nove romances, apenas quatro não ocuparam as páginas dos periódicos: Ressurreição, 1872; Dom Casmurro, 1899; Esaú e Jacó, 1904; e Memorial de Aires, 1908. Importante observar que, em relação aos três últimos, Machado já abandonara a escrita periódica (sua última crônica da série “A semana” foi publicada na Gazeta de Notícias em 4 de novembro de 1897), tendo ele voltado esporadicamente a esse e a outros periódicos até o ano de sua morte. Os outros cinco romances de Machado de Assis apareceram primeiramente na imprensa fluminense: A mão e a luva foi publicado no jornal O Globo, entre 26 de setembro e 3 de novembro de 1874; Helena, também em O Globo, entre 6 de agosto e 11 de setembro de 1876; Iaiá Garcia apareceu no rodapé do jornal O Cruzeiro, entre 1º de janeiro e 2 de março de 1878; Memórias póstumas de Brás Cubas foi publicado na Revista Brasileira, entre março e dezembro de 1880; Quincas Borba, quando apareceu em livro em 1891, já havia saído na revista A Estação, entre 1886 e 1891, em uma versão diferente.
No que se refere aos contos, a maior parte deles foi publicada primeiramente na imprensa para, mais tarde, a partir de seleção rigorosa, ocupar as páginas dos livros. Na verdade, a maior parte deles jamais abandonou as páginas efêmeras dos periódicos durante a vida de Machado de Assis, como se tivessem sido moldados para os inúmeros jornais e revistas nos quais o escritor colaborou. Dentre os cerca de 200 contos machadianos, 114 ficaram dispersos. Eles foram publicados entre a década de 1850 e os primeiros anos 1900, cronologicamente, em A Marmota, O Futuro, Jornal das Famílias, A Época, A Estação, Gazeta Literária, A Quinzena, Almanaque dos Fluminenses (para o ano de 1890), Almanaque da Gazeta de Notícias, Almanaque Brasileiro Garnier e Revista Brasileira. Esses 114 que permaneceram nos periódicos foram recolhidos mais tarde por pesquisadores da obra machadiana, tendo sido Raimundo Magalhães Júnior o pioneiro da tentativa de publicar os inéditos em livro, visando à completude do conjunto. Eles contrastam com os 76 textos, mais ou menos quarenta por cento da produção contística total de Machado de Assis, os quais o próprio escritor retirou dos periódicos cariocas e republicou nas recolhas e miscelâneas: Contos fluminenses (1870), seis contos, a maior parte retirados do Jornal das Famílias; Histórias da meia-noite (1874), seis contos, também retirados do Jornal das Famílias; Papéis avulsos (1882), doze contos, a maior parte retirados de A Estação, A Época e Gazeta de Notícias; História sem data (1884), dezoito contos retirados da Gazeta de Notícias, A Estação e Gazeta Literária; Várias histórias (1896), dezesseis contos retirados da Gazeta de Notícias; Páginas recolhidas (1899), oito contos retirados da Gazeta de Notícias, Gazeta Mercantil, A Estação e A Semana; por último, Relíquias de Casa Velha (1906), única miscelânea onde a maioria dos contos era inédita, mas, mesmo assim, alguns deles vieram de A Estação, Gazeta de Notícias e do Almanaque Brasileiro Garnier.
No século XIX, a crônica da semana parece ter sido uma tarefa que desafiou alguns de nossos melhores escritores, entre eles Machado de Assis. No que tange às crônicas escritas por Machado de Assis, foram cerca de 600 textos, sem considerar a atribuição de autoria que recentemente acrescentou ao conjunto cerca de 300 “Badaladas”, publicadas entre junho de 1869 e março de 1876 na “Revista da semana”, da Semana Ilustrada (ASSIS, 2019). Foram, portanto, 900 crônicas, distribuídas em 14 séries que variavam muito quanto ao estilo e natureza do assunto (crônica de variedades, de crítica literária, comentários políticos, escritas com tom galhofeiro ou profundamente irônico etc.), ao longo do tempo (1859-1897) e a depender do periódico em que apareceram. Uma relação das crônicas completas de Machado de Assis (considerando-se apenas o folhetim-variedades, e não a crítica literária, teatral, entre outros) deve ser extraída da seguinte colaboração jornalística do escritor: “Comentários da semana”, Diário do Rio de Janeiro, 12 de outubro de 1861 a 5 de maio de 1862; “Crônica”, O Futuro, 15 de setembro de 1862 a 1º de julho de 1863; “Ao acaso”, Diário do Rio de Janeiro, 5 de junho de 1864 a 16 de maio de 1865; “Badaladas”, junho de 1869 e março de 1876, na “Revista da semana” da Semana Ilustrada; “Histórias de quinze dias”, Ilustração Brasileira, 1º de julho de 1876 a 1º de janeiro de 1878; “História de trinta dias”, Ilustração Brasileira, fevereiro de 1878 a abril de 1878; “Notas semanais”, O Cruzeiro, 2 de junho de 1878 a 1º de setembro de 1878; “Balas de estalo”, Gazeta de Notícias, 2 de julho de 1883 a 22 de março de 1886; “A+B”, Gazeta de Notícias, 12 de setembro de 1886 a 24 de outubro de 1886; “Gazeta de Holanda”, Gazeta de Notícias, 1º de novembro de 1886 a 24 de fevereiro de 1888; “Bons dias!”, Gazeta de Notícias, 5 de abril de 1888 a 21 de agosto de 1888; “A Semana”, Gazeta de Notícias, 24 de abril de 1892 a 28 de fevereiro de 1897. Disso temos que a Gazeta de Notícias foi o periódico ao qual mais se dedicou Machado de Assis, ali publicando exclusivamente as suas crônicas posteriormente aos anos 1880 e onde apareceram dezenas de seus contos.
Essa imensa atuação nos periódicos brasileiros, sobretudo cariocas, não lhe assegurou presença na imprensa de outros espaços lusófonos. Seus poemas circularam espaçadamente na imprensa portuguesa (SAYERS, 1983) e o romance Memórias póstumas de Brás Cubas começou a ser publicado em um jornal do Porto, mas foi descontinuado (A Folha Nova, 12 de outubro a 22 de novembro de 1883, apenas até o capítulo XXVIII, “Contanto que...”).
Em conclusão, alguns traços daquilo que é compreendido pela crítica literária como a singularidade na obra machadiana deve ser reinterpretada como resultado da fixação de Machado de Assis ao suporte periódico: a sua escrita ficcional mais valorizada é tributária da crônica e a experiência do jornalista foi fundamental para a formação do escritor de ficção. Mais que isso, em Machado de Assis, a fusão entre o escritor e o jornalista é basilar para um fazer literário que se constrói com uma leitura crítica e, ao mesmo tempo, plástica dos suportes periódicos na qual a obra foi primeiramente veiculada.
Lúcia Granja
Para saber mais:
ASSIS, Machado de. Badaladas do Dr. Semana, por Machado de Assis. Pesquisa, organização, apresentação e notas de Sílvia Azevedo. São Paulo: Nankin, 2019.
GRANJA, Lucia. Machado de Assis- antes do livro, o jornal: suporte, mídia e ficção. São Paulo: Ed. da UNESP, 2018. Disponível em: http://editoraunesp.com.br/catalogo/9788595462816,machado-de-assis-antes-do-livro-o-jornal.
KALIFA, Dominique et al. La civilisation du jornal: une histoire de la presse française au XIXe siècle. Paris: Nouveau Monde, 2011.
MACHADO, Ubiratan. A viagem de Machado de Assis a Minas e o Quincas Borba. In: MACHADO, Ubiratan. Três vezes Machado de Assis. Cotia: Ateliê; São Paulo: Oficina do Livro Rubens Borba de Moraes, 2007. p 9-24.
SAYERS, Raymond. Onze estudos de literatura brasileira. Trad. Roberto Raposo. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira; Brasília: INL, 1983.
Sobre o autor:
O portal da página eletrônica "Referências na ficção machadiana" foi idealizado e dirigido pela pesquisadora Marta de Senna, que preparou a edição eletrônica de todos os romances e de todos os contos de Machado de Assis, com notas contextuais em hipertexto e uma introdução explicativa à trajetória de publicação de cada texto machadiano (ou grupo de textos, no caso dos contos). O portal conta ainda com um banco de dados que identifica e explica as referência intertextuais que aparecem nesses textos de ficção de Machado de Assis.
Publicação do verbete: dez. 2021.
Madrugada, A
Capa do n. 3 (27 dez. 1894) da revista A Madrugada
A Madrugada representou o profícuo encontro entre a imprensa ilustrada e a de natureza literária, dando ênfase aos propósitos de expansão da cultura, difusão da leitura e divulgação de criações literárias. Muitos escritores, desde os iniciantes até os mais renomados, encontravam na imprensa ilustrada-literária um elemento propulsor de sua obra. A revista esteve plenamente vinculada com tais tendências, promovendo por meio do texto e da gravura um mútuo conhecimento entre as realidades culturais lusa e brasileira. Sob a direção de Oscar Leal, circulou entre outubro de 1894 e dezembro de 1896, contando com quatro páginas e o tamanho de 46 centímetros. A Madrugada constituiu uma das culminâncias do projeto cultural de Oscar Leal, no sentido da consolidação de seu reconhecimento como intelectual.
Nessa linha, a revista caracterizou-se por ser praticamente uma execução unipessoal do escritor que, além de dirigi-la foi o seu mais importante redator. A execução e a redação da folha giravam em torno do próprio Leal, de modo que as diversas seções apresentavam textos de sua lavra, ou traziam interseções com as suas próprias atividades. Desse modo, por meio da Madrugada, Leal afirmou seus contatos e mesmo relações mais intrínsecas com a intelectualidade de então, o que trazia por repercussão uma ainda mais acentuada notoriedade para o diretor da revista e, consequentemente, sua incorporação definitiva no rol dos homens de letras de sua época, tanto no contexto português, quanto no brasileiro.
A folha literária e ilustrada apresentava em seu frontispício o dístico “Revista noticiosa, crítica, literária, biográfica e bibliográfica”, revelando a proposta bastante ampla de seu norte editorial. O diretor era Oscar Leal, aparecendo ainda F. Palmeirim, como administrador até a edição de agosto de 1895. A folha anunciava também que sua redação seria “composta dos melhores escritores portugueses”. Tinha uma proposta de circulação mensal, mas houve várias interrupções na sua edição, de modo que foi publicado um total de quatorze números. As assinaturas custavam para o Brasil: ano ou uma série – 10$000 fracos; e semestre ou meia série – 5$000 fracos; e, para Ilhas e Ultramar: ano ou uma série – 1$500; e semestre ou meia série – $800, chegando a passar por uma redução de custos na busca de ampliar o número de favorecedores. Chegou a ter uma tiragem bastante expressiva, atingindo 5.000 exemplares, os quais eram intercambiados no âmbito luso e com significativa quantidade de localidades brasileiras de suas várias regiões. A empresa encarregava-se de publicar “biografias de pessoas notáveis”, vindo a pedir “aos amigos do Brasil o seu valioso concurso, a fim de tornar cada vez mais interessante esta publicação”, que era ilustrada com gravuras de F. Pastor, responsável pela edição do Almanaque Ilustrado e parceiro de Leal desde a década de 1880.
Ao longo de seus quatorze números, foram editados extratos ou colaboraram nomes menos ou mais conhecidos e/ou notáveis, entre os quais: Arthur Goulart, Heráclio P. Placer, Fernandes Costa, J. A. Pimenta, Ramalho Ortigão, Guerra Junqueiro, Antero de Quental, Cláudia Campos, Teófilo Braga, Cyriaco de Nóbrega, Gomes Leal, Luiz Pinto Coelho, Maria Amália Vaz de Carvalho, Demóstenes de Olinda, Guiomar Torresão, Fernando Caldeira, Valentim Magalhães, Thomaz Ribeiro, Ulisses Pennafort, João de Deus, Olavo Bilac, Thargélia Barreto, Manoel Lobato, Raimundo Corrêa, Bulhão Pato, Bento Ernesto Júnior, Luiz Guimarães Filho, Casimiro Dantas, David Bensabat, Lourenço da Fonseca, Eça de Queirós, Wenceslau de Queiroz, Albertina Paraíso, Ernesto Paula-Santos, Augusto Ribeiro, Júlio Brandão, Heliodoro Salgado, Lopes Carqueja, Alberto Pimentel, F. Clotilde, Aquiles Porto Alegre, Brito Aranha, M. P. Ferreira Júnior, José Pereira de Sampaio Bruno, Padre Correia de Almeida, Guimarães Passos, Ernesto Santos, Horácio Nunes, Garcia Redondo, Teófilo Dias, Luiz Monteiro, Raul Pompeia, Teixeira Bastos, W. Battenberg, Machado de Assis, Gonçalves Cerejeira, Luiz Pistarini, Martinho Rodrigues, Euclides Dias, Rodrigues de Carvalho, Manoel Arão, Tito Litho, Lafaiete Silva, Álvaro Pinheiro, Guilherme Gama, João Chagas, Trindade Coelho, Francisco Cepeda, Alice Moderno, Lindolfo Gomes e Júlio de Lemos. A direção declarava que a revista concorria “patrioticamente para a prosperidade de uma empresa que trata, por todos os meios, de vulgarizar e tornar conhecidos cá e lá os homens e as coisas dos dois países”.
Francisco das Neves Alves
Para saber mais:
ALVES, Francisco das Neves. Excursões editoriais: Oscar Leal e A Madrugada (1894-1896). Lisboa: CLEPUL; Rio Grande: Biblioteca Rio-Grandense, 2020.
______. Oscar Leal: relatos de viagem e interações literárias. Lisboa: CLEPUL; Rio Grande: Biblioteca Rio-Grandense, 2020.
RAFAEL, Gina Guedes; SANTOS, Manoela. Jornais e revistas portugueses do século XIX. v. 2. Lisboa: Biblioteca Nacional, 2002.
Publicação do verbete: dez. 2021.
Manduco, O
Capa do número 1.
Publicado na ilha do Fogo, Cabo Verde, O Manduco teve uma vida efémera, que se estendeu de 1º de agosto de 1923 a 30 de junho do ano seguinte, não ultrapassando assim os 14 números. Nas cinco primeiras edições, figura como proprietário, diretor e editor Pedro Monteiro Cardoso; do número 6 até ao fim, os proprietários e editores passam a ser António J. Rodrigues e Miguel Soares Rosa, surgindo Augusto R. Monteiro como administrador e Eugénio Tavares como diretor.
O jornal era anunciado como quinzenal, com edições a 15 e a 30 de cada mês. No entanto, os três primeiros números não respeitaram essa periodicidade, tendo saído a 01.08, 01.09 e 30.09.1923, respetivamente. Também os dois últimos saíram com intervalos diferentes: o n. 13 a 08.05.1924 (quando o anterior tinha vindo a lume a 15.02, o que indica uma interrupção de cerca de três meses) e o n. 14 a 30.06 do mesmo ano.
Cada edição de O Manduco constava de 4 páginas, mas o n. 13, de 08.05.1924, teve 8 páginas. Os primeiros números custavam $25, ao passo que os dois últimos custavam o dobro. Não há informação sobre a tiragem do periódico nem sobre o número de assinantes. Refira-se ainda que o jornal não publicava anúncios nem publicidade.
Quanto ao conteúdo, observa-se que a atenção do periódico estava bastante voltada para a ilha do Fogo, embora a orientação de O Manduco não fosse propriamente regional. Nessa ilha do Sotavento cabo-verdiano nasceu o seu primeiro proprietário, editor e diretor, Pedro Monteiro Cardoso (1883-1942), poeta romântico-parnasiano de formação clássica, folclorista e articulista importante em que alguns têm visto um protonacionalista (cf. Cardoso, 2007).
O título do jornal, como escreveu João Nobre de Oliveira (1988, p. 349), era já um programa. Proveniente do crioulo da Guiné-Bissau, Manduco designa um cacete ou bastão. A palavra tinha começado a ser usada por Pedro Cardoso (sob o pseudónimo de Afro) em 1911, numa coluna intitulada “A manduco…”, no jornal A Voz de Cabo Verde. Mas a expressão não tinha um caráter ameaçador ou belicista; era sobretudo metafórica, indicando o compromisso firme do seu autor na luta pelo progresso de Cabo Verde.
Outro elemento paratextual que chama a atenção no jornal é a transcrição (que desaparece a partir do n. 6), abaixo do título, de um ponto da “Constituição Política da República Portuguesa”: “A expressão do pensamento, seja qual for a sua forma, é completamente livre, sem dependência de caução, censura ou autorização prévia, mas o abuso deste direito é punivel, nos casos e pela forma que a lei determinar”. Por outro lado, numa “Declaração prévia” incluída no número de estreia, o editor declara-se membro do partido socialista, embora se afirme empenhado exclusivamente na “defesa dos interesses da colectividade cabo-verdiana”, na sua “qualidade de cidadão luso-africano” (n. 1, 01.08.1923, p. 2).
E, de facto, alguns textos denunciam de forma contundente as falhas do poder colonial, por exemplo ao nível da instrução pública, considerada “Desorganizadíssima, um caos em toda a província, nomeadamente no Fogo.” (idem, p. 1), não valendo de nada, neste como noutros setores, os inquéritos: “Inquéritos, sindicâncias, inspecções, nunca deram resultado algum em terras que cobre a sublime bandeira lusitana. / Porque, toda a gente o sabe, porque toda a gente falta à verdade: o que inquire e os que depõem” (ibid.).
Ainda no n. 1, há um interessante poema de Pedro Cardoso, intitulado “Viva a França!”. Composto em alexandrinos, vem acompanhado de uma versão em francês feita por José Lopes, sendo dedicado “A Mr. Diagne, meu irmão de raça”. Trata-se de Blaise Diagne (1872-1934), líder político senegalês que foi o primeiro africano negro a ser eleito deputado do parlamento francês e a integrar o governo desse país. Embora se tenha batido pelos direitos dos africanos, era partidário da autoridade gaulesa e do seu modelo cultural e social. Cardoso proclama que “Entre as Nações do mundo a França é a primeira!” e destaca o alegado pioneirismo desse país no bom tratamento dos negros: “E, como sempre, audaz «Paladino» do Bem,/ os Negros nela só carinhos têm de mãe!” (p. 3).
As peças literárias são aliás uma constante no jornal, sobretudo as de Afro (pseudónimo de Pedro Cardoso), José Lopes e Eugénio Tavares (este último diretor do jornal a partir do n. 6, como ficou dito).
Uma última observação sobre o número de estreia diz respeito ao humor, presente de diversas maneiras. Uma delas consiste na transcrição, sem comentários, de um anúncio para o fornecimento de artigos para um quartel, em que o problema reside no posicionamento do complemento determinativo de matéria:
Arrematam-se os seguintes artigos, a quem apresente melhores propostas:
Travesseiros para soldados de palha;
Panelas para 50 homens de lata;
Marmitas para comerem praças;
Colheres para sopa de folha;
Mochilas de soldados de madeira;
Colchões para oficiais de arame. (p. 4)
Mas o jornal desenvolve muitos outros temas, uns de incidência mais local (como a arborização do Fogo como estratégia para amenizar o clima da ilha), outros de alcance mais regional, como a defesa de um ensino adaptado às necessidades do arquipélago ou a argumentação a favor do crioulo, num artigo não assinado incluído no n. 3 (30.09.1923, p. 2). Opondo-se à tese de que o crioulo seria um elemento que bloquearia o desenvolvimento da província, sustenta o autor que a sua “eliminação levaria a uma conclusão absurda: o desaparecimento do povo que o fala…”, recordando “que nele é que compôs e compõe o sr. Eugénio Tavares as suas admiráveis canções musicadas, pelo povo perfilhadas em toda a Provincia”. É precisamente Eugénio Tavares quem volta ao tema no n. 11, de 30.01.1924, num artigo ironicamente intitulado “Língua de pretos”.
Também “A questão colonial” merece tratamento, em artigo assinado por “José d’África” e incluído no n. 5 (31.10.1923, p. 1). Começa o articulista por explicar o conceito, bem diferente do atual:
Colonial não é o que preza as colónias só por amor de Portugal (e com aquele exclusivismo a que não repugna a ideia da alienação delas para desafogo financeiro dele), senão aqueles que amam Portugal por amor às colónias (e com tão levantado sentimento de dignidade nacional, que darão o sangue em defesa de Portugal antes de apoiar qualquer plano de alienação territorial do Ultramar).
Estamos ainda longe de uma defesa da autodeterminação ou da independência destes espaços. Mais modesta, a proposta vai no sentido de as colónias deixarem de ser encaradas como espaços de passagem e de enriquecimento rápido, e passarem a ser vistas como novas “Pátrias”, no sentido meramente etimológico da palavra:
Deixarão de ser possessões, porque já são Pátrias. Já não são minas abandonáveis mal se lhes esgotem os últimos filões; porque se erguerão a lares onde profundamente se terá raizado a felicidade doméstica; onde solidamente se terão cimentado, florescendo na coma de vigorosas aspirações, a dignidade cívica e a consciência social de uma raça.
Francisco Topa
Para saber mais:
OLIVEIRA, João Nobre de. A imprensa cabo-verdiana (1820-1975). Macau: Fundação Macau, 1998.
CARDOSO, Olavo Bilac Barbosa Monteiro. Pedro Monteiro Cardoso e o protonacionalismo em Cabo Verde. Dissertação (Mestrado em Estudos Africanos). Faculdade de Letras, Universidade do Porto, Porto, 2007.
CARDOSO, Pedro. Textos jornalísticos e literários. Parte I. Organização de Manuel Brito-Semedo e Joaquim Morais. Praia: Instituto da Biblioteca Nacional e do Livro, 2008.
O MANDUCO. a. 1, n. 1 (1º ago. 1923) - a. 1, n. 14 (30 jun. 1924). Ilha do Fogo: 1923-1924. Disponível em: http://purl.pt/25635. [Consulta realizada em 07/11/2020].
O MANDUCO. Edição fac-similada. [S.l.]: Pedro Cardoso Livraria, 2016.
Publicação do verbete: dez. 2021.
Manoelito de Ornellas
Manoelito de Ornellas nasceu em uma pequena cidade na região da fronteira Oeste do Rio Grande do Sul, onde o rio Uruguai separa duas fronteiras: Itaqui, do lado brasileiro, e Alvear, na Argentina. A fronteira geográfica – Brasil e Hispano-América – dois espaços na vida de Manoelito, que nasceu de mãe uruguaia, descendente de italiano com francesa, e pai brasileiro, descendente de portugueses. A língua também permaneceu dual para o menino, pois a mãe falava espanhol, enquanto o pai comunicava-se em português. A fronteira pautou a trajetória do homem e do escritor. Fluir, como o rio, entre dois espaços, unindo-os e separando-os, foi o destino de Manoelito desde o nascimento.
O escritor Manoelito, quando ainda morava no interior, iniciou sua atividade jornalística como colaborador do Correio do Povo, onde prosseguiu trabalhando, como jornalista, até o fim de sua vida. Foi redator do Jornal da Manhã, um órgão do governo, e redator-chefe de A Federação, o antigo jornal republicano de Júlio de Castilhos e Venâncio Aires. O golpe que instituiu o Estado Novo, em 10 de novembro de 1937, repercutiu intensamente no Rio Grande do Sul e A Federação, órgão oficial do governo, foi fechado, surgindo no seu lugar o Jornal do Estado, o qual Manoelito dirigiu, tendo sido também diretor da Imprensa Oficial, em 1939.
No Jornal do Estado, o autor escrevia crônicas sobre literatura, história, educação, personalidades rio-grandenses e sobre sua terra adotiva, Porto Alegre, cidade que descobriu na juventude e aprendeu a amar. As crônicas mostram a face jornalista do escritor e comprovam que a sua arte está presente tanto no texto literário quanto no jornalístico.
A fim de se estabelecer uma amostra do legado de Manoelito de Ornellas, destacamos as crônicas “Prosa das Terças”, que tiveram início na primeira quinzena de março de 1948 e permaneceram até o final de 1966, no jornal Correio do Povo. Pode-se caracterizar tal espaço como a tribuna de onde o autor defendeu suas ideias durante duas décadas. “Prosa das Terças”, como ele mesmo dizia, foi “uma janela aberta para o mundo”, através da qual seu espírito respirava.
A matéria predominante das crônicas é a história, seguido de biografia de personalidades literárias e políticas, literatura, ensino e memórias. O ambiente comum é o solo do Rio Grande.
O autor relata a história de cidades do Rio Grande do Sul, como em “Rincão da Cruz”. Nesta crônica refere-se à visita do pesquisador francês Saint-Hilaire ao Brasil e à região Sul, em busca de novos conhecimentos sobre a curiosa geografia brasileira, seu clima diferenciado e sua vegetação exuberante, tendo ficado maravilhado com a qualidade da terra favorável à criação de gado e ao cultivo da agricultura.
A influência da cultura árabe no mundo ocidental foi analisada em “A presença dos árabes na Itália”: “De começo, um certo preconceito religioso parecia interpor fronteiras entre ambas as civilizações: a muçulmana e a cristã [...], a redescoberta do grande filão histórico provoca uma notável atividade cultural”.
Em “A origem do gado e do cavalo rio-grandense”, trata da forte semelhança dos costumes do homem do deserto africano com o gaúcho, especialmente a proximidade dos elementos da vida primitiva e a semelhança do meio, em que o cavalo e o gado são os mais familiares à terra herdada dos antepassados.
Em “Lição e resposta de Palmeira das Missões”, Manoelito destaca o movimento que visa a recuperar o culto e o respeito à mais nobre herança humana – as raízes históricas, e enfatiza: “O que pretendemos é preservar o Patrimônio [...] que nos legaram aqueles que fizeram de sua vida uma aventura permanente [..]. Negá-los será renunciar à própria herança do sangue”.
Um texto que também caracteriza esse culto ao folclore e valoriza nossas lendas é “A origem das Salamancas”, crônica que completa o belíssimo texto de Simões Lopes Neto, “A Salamanca do Jarau”. Segundo Manoelito, a lenda contém traços fortes da cultura moura e da magia cultivada por esse povo que contribuiu para formar as raças que habitaram a Península Ibérica. A lenda, na versão sul-rio-grandense, guarda aspectos coloridos e movimentados, características dos povos mouros, que influenciaram as terras cisplatinas, extensão do nosso pampa.
Em “Minha cidade simbolista...”, Manoelito dedica a Porto Alegre um canto apaixonado, embora o desejo de mudança seja uma constante a dividir o coração do poeta: “Tu me esperavas, no outono, neste outono, que é do tempo e é meu, outono calmo e sereno, um pouco frio no espaço, mas cálido no coração e palpitante nas mãos que se entregam”.
Escreveu também sobre seus amigos e para eles. Em “Mansueto Bernardi”, por exemplo, o autor destaca: “parece que foi ontem meu encontro com o poeta de Terra convalescente, naquele primeiro andar da antiga Livraria do Globo, onde conheci todos os jovens intelectuais [...]. A esse tempo, Erico Verissimo, companheiro do Planalto Médio, amigo de Cruz Alta e Tupanciretã, já estava aqui [...], fora ele o meu primeiro amigo nas indagações da literatura. Como vai longe o tempo e como os homens se transfiguram”.
Interessante depoimento autobiográfico é a prosa “Por que escrevi Tiaraju”, em que o autor relata uma história de amor à terra gaúcha: “Dominamos, pelo espírito, a paisagem do mundo para melhor sentirmos os dramas humanos, nessa solidariedade que transcende as convenções territoriais. Mas, pelo complexo cultural, estamos presos à tradição do meio em que surgimos, ao grupo racial de cujas marcas características somos portadores, à terra que nos oferece aos olhos as primeiras visões de beleza”. Tiaraju é, conforme Manoelito, uma história contada ao modo dos velhos rapsodos, pode ser um poema ou mesmo um livro que pretende atualizar a figura de um herói legítimo do Rio Grande.
Manoelito dizia que escrevia “para não estar só ou para não deixar só”. Podemos acentuar mais uma característica dual do escritor: a solidão, traço que herdou da vida no campo, onde viveu entre os familiares junto à natureza, e a comunicabilidade, qualidade que desenvolveu e cultivou, pois amava os amigos e os cativava com facilidade. De um lado, o escritor solitário escreve sobre o passado, em um processo íntimo de reminiscências e, de outro, o jornalista que procura o contato com as pessoas e busca material no presente para seus escritos. O escritor/jornalista e o homem se revelam e se fundem para ser apenas um.
Maria Alice Braga
Para saber mais:
SPALDING, Walter. Manoelito de Ornellas: estudos. Porto Alegre: [s.n.], jul./set. 1969.
Referências bibliográficas da obra do autor:
Publicação do verbete: jul. 2024.
Mário de Artagão
Escritor e jornalista brasileiro. Nasceu na cidade do Rio Grande (Rio Grande do Sul/Brasil), em 19 de dezembro de 1866, batizado com o nome de Antônio da Costa Corrêa Leite Filho. Pertencia a uma família abastada, ligada ao comércio citadino, o que lhe permitiu viajar pela Europa, realizando seus estudos na Alemanha e em Portugal. Já nos anos 1880, voltou para o Brasil, assumindo funções na empresa familiar, atuando no Recife e no Rio de Janeiro. Naquela cidade, iniciaria sua carreira literária, com o lançamento de seu primeiro livro, As infernais, em 1889, com uma segunda edição no ano seguinte. Nessa época assumia definitivamente seu nome artístico – Mário de Artagão – pelo qual ficaria mais conhecido. Já no Rio, dava os seus primeiros passos no mundo do jornalismo, trabalhando na Tribuna Liberal. Retornaria para sua cidade natal e, diante da insistência paterna para que administrasse a firma familiar, o escritor optou pelo caminho das letras.
Artagão foi o típico representante da intelectualidade de seu tempo, agindo em múltiplas áreas, ao atuar como jornalista, poeta, professor, filósofo, conferencista, teatrólogo, administrador escolar, dramaturgo e polemista. Era um poliglota, pois falava e escrevia em português, inglês, francês, espanhol, alemão e italiano Seu reconhecimento como intelectual ultrapassou fronteiras, tendo pertencido a academias literárias em Paris e em Hamburgo, além de ser membro da Academia de Letras do Rio Grande do Sul, do Instituto de Coimbra, do Grêmio Literário da Bahia, do Centro de Ciências Letras e Artes de Campinas e do Instituto Histórico e Geográfico de Pernambuco. Em sua volta para o Rio Grande do Sul, Mário de Artagão conviveu com a transição da monarquia à república, assumindo uma posição político-ideológica que não abandonaria até o final de seus dias. Assim, defendeu um ideário monárquico, colocando-se abertamente contra o regime republicano. Em terras gaúchas, escreveu nos periódicos Correio Mercantil e Nacional, ambos de Pelotas, e atuou nos rio-grandinos Rio Grande do Sul e Eco do Sul.
Através da imprensa, expressou sua posição não só de oposição, mas também de combate e resistência ao republicanismo, notadamente contra o autoritarismo, fosse na esfera federal, fosse na estadual, em relação ao castilhismo. Para dar vazão às suas ideias, fundou A Atualidade, em 1892, jornal em que chegou ao apogeu de sua militância monarquista. As posições políticas do autor custaram-lhe muito caro, tendo de enfrentar constantemente o ódio dos adversários, as ameaças e a vigilância das autoridades públicas. Por tal motivo chegou a ter de buscar por alguns meses asilo no consulado britânico, quando a crise política se acirrou no Rio Grande do Sul, levando à deflagração da Revolução Federalista. Nesse meio tempo, em 1894, lançou seu segundo livro, intitulado Saltério, desdobrado depois, em 1896, em O saltério na quermesse. Além disso, contribuiu com o Almanaque Literário e Estatístico do Rio Grande do Sul e com o Almanaque Popular Brasileiro. As ferrenhas perseguições sofridas em muito marcaram a vida do escritor. Em 1897, ele mudou-se para cidade rio-grandense de Pelotas, onde fundou o Colégio Mário de Artagão e colaborou intensamente com o jornal A Opinião Pública. Nesta mesma cidade, ele editou, em 1901, mais um de seus livros, Música sacra. Após isolar-se, vindo a residir no litoral norte gaúcho, Artagão voltou à sua cidade natal, colaborando proficuamente com o Eco do Sul.
Mas ele continuava a ser alvo da coerção governamental, e mesmo que não fosse mais um jornalista eminentemente militante, não deixou de ser perseguido. Cansado de tanto cerceamento, Mário de Artagão optou por um autoexílio em Lisboa, partindo em 1905 com toda a sua família, para nunca mais voltar ao Brasil. Em Portugal, Mário de Artagão também foi reconhecido como intelectual, publicando várias de suas poesias em folhas literárias. Ele abandonou o jornalismo opinativo e, sem deixar de ser monarquista, buscou não mais se expressar abertamente sobre a vida política brasileira. No lar adotivo, dedicou-se à sua obra literária, publicando Janina (1907), uma segunda edição de O saltério (1912) e uma terceira de As infernais (1914) – nestes dois últimos, os textos originais foram em muito revistos e refeitos –, No rastro das águias (1925), Rimas pagãs (1933), Helláda, ninho dos deuses... (1934) e Feras à solta (1936). O escritor faleceu a 15 de agosto de 1937, vindo a conquistar reconhecimento internacional como literato e jornalista.
Francisco das Neves Alves
Para saber mais:
ALVES, Francisco das Neves. A produção literária de um poeta sul-rio-grandense: uma breve incursão ao pensamento e à obra de Mario de Artagão. Cadernos Literários, Rio Grande, v. 19, p. 49-58, 2011.
______. O debate político “monarquia X república” o discurso de um intelectual sul-rio-grandense. In: Anais do XI Encontro Estadual de História. Rio Grande: FURG, 2012. p. 360-369.
______. Um poeta brasileiro no exílio: duas obras de Mario de Artagão escritas e editadas em Lisboa. Navegações: Revista de Cultura e Literaturas de Língua Portuguesa. Porto Alegre, v. 7, n. 1, p. 40-48, 2014.
______. História e Literatura: interfaces na obra de um escritor sul-rio-grandense (Mario de Artagão, 1892-1894). Historiae. Rio Grande, v. 6, n. 1, p. 91-121, 2015.
______. A convicção através da pena: a obra jornalística e literária do escritor Mario de Artagão no âmbito brasileiro-lusitano. Lisboa: CLEPUL, 2016.
______. Um escritor brasileiro em Portugal: Mário de Artagão e as obras Rimas pagãs e Feras à solta. Lisboa: CLEPUL; Rio Grande: Biblioteca Rio-Grandense, 2016.
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Publicação do verbete: dez. 2021.