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Francisca Martins de Assis Wood
Francisca Martins de Assis Wood nasceu a 4 de outubro de 1802, em Lisboa, na freguesia de Santos-o-Velho. Filha de Narciso Martins e Teresa de Jesus Martins, foi batizada, um mês após nascer, na Igreja de Santos-o-Velho. Viveu em Lisboa os primeiros catorze anos de vida e emigrou com os pais para Inglaterra. Casou-se a 17 de julho de 1852, em Londres, com o professor de música e compositor William Thorold Wood. A análise da documentação existente comprova que o casal vivia junto já há algum tempo antes do casamento, o que, num contexto oitocentista, revela o espírito rebelde do casal. Em Inglaterra, Francisca Wood foi professora de línguas e frequentou a elite intelectual londrina. A análise da correspondência revela que Francisca Wood estabeleceu amizade com nomes importantes do movimento feminista como Marie Goegg-Pouchoulin e Victoire Léodile Béra. Francisca viveu por trinta e cinco anos na Inglaterra antes de regressar a Portugal com o marido e dois filhos. Em meados de 1860, fixou morada em Lisboa, na freguesia da Lapa, e fundou, em parceria com o marido, a tipografia Luso-Britânica.
Francisca Wood foi uma das primeiras mulheres portuguesas a militar pelo direito feminino ao sufrágio, à instrução, lutou pela aprovação da lei do divórcio e independência financeira das mulheres. Foi a redatora principal dos periódicos A Voz Feminina (1868) e O Progresso (1869) – publicados um na continuidade do outro –, ambos fundados em parceria com seu marido William Wood. Foi através da imprensa que passou a divulgar as suas ideias feministas, bastante polêmicas para a época. Em A Voz Feminina, Francisca Wood possibilitava que outras mulheres também tivessem voz através da escrita: durante seus primeiros três números, o periódico apresentou-se como “Exclusivamente colaborado por Senhoras”. Francisca, além de redatora, também assinava a coluna “O que se faz lá fora”, para onde trazia debates de outros países para serem discutidos em Portugal. Para além de abrir espaço em Portugal para o que era mais abertamente questionado em outros países, Francisca costumava responder às cartas dos leitores e publicar “cartas abertas”, destinadas a influenciar as autoridades civis e políticas. De início, a temática dessas cartas estava centrada na proteção dos animais, contudo, progressivamente, os temas avançaram para discussões mais acaloradas, de cunho feminista (como o direito das mulheres ao voto e à instrução que era dada ao sexo masculino). Com esta estratégia retórica, publicou, a 2 de maio de 1869, uma de suas cartas mais polémicas, “Breve de sua Santidade Pio IX”, onde interpela o Papa a propósito da abertura dos cursos secundários aos estudantes do sexo feminino.
Por ousar defender publicamente o poder interventivo das mulheres portuguesas (que serão em muito influenciadas pela sua pena), Francisca Wood começa a ser perseguida pela ala conservadora da imprensa portuguesa, que passa a atacá-la com publicações em outros periódicos. Devido à odiosa publicidade que passou a estar associada ao seu nome, Francisca anuncia, em publicação de O Progresso (continuação de A Voz Feminina), que deixará o cargo de redatora e que este passará a ser ocupado, exclusivamente, pelo seu marido. Mas devido ao forte apelo de amigos e leitores, Francisca permaneceria na redação até à última publicação do periódico. Para além de manter uma participação ativa na imprensa portuguesa oitocentista, Francisca Wood também traduziu obras de autoras inglesas, como Charlote Brontë, e alguns contos dos Irmãos Grimm. Seu primeiro e único romance, intitulado Maria Severn, foi publicado em 1868. A escritora faleceu em Lisboa, a 27 de novembro de 1900.
Maria Luísa Taborda Santiago
Para saber mais:
TENGARRINHA, José. História da imprensa periódica portuguesa. Lisboa: Caminho, 1989.
Publicação do verbete: maio 2024.