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Lábaro, O
Tendo como proprietário Joaquim José Teixeira de Azevedo Júnior, O Lábaro iniciou sua circulação no dia 10 de outubro de 1880, em Porto Alegre, existindo até 25 de dezembro de 1881. Sob a forma de folha literária e científica, de veiculação semanal, circulou durante 57 semanas, sempre com a mesma denominação, periodicidade e dia de distribuição, aos domingos.
A revista possuía um padrão fixo de quatro páginas de texto, formato de 34 cm por 24 cm, variando apenas em sua edição de número 12, na qual contou com 6 páginas de igual tamanho em que duas são dedicadas à poesia, a “Grinalda poética” (p. 3 e 4). Foi sempre impresso pela mesma tipografia, a de O Mercantil, localizada na capital gaúcha, e que anos depois também imprimiu as páginas de O Contemporâneo (1886-1888), de mesmo proprietário e diretor, e da Revista Literária (1881).
Os nomes mais representativos dos colaboradores eram: Azevedo Júnior (o proprietário), Lauro Sodré, Leopoldo Chaves, L. da Costa, L. de Albuquerque, J. Joaquim de Vasconcelos, Fontoura Xavier, Múcio Teixeira, José do Patrocínio, Hermengarda (correspondente de Rio Grande; na verdade, pseudônimo de Revocata Heloísa de Melo), Bibi, Castro Alves, Guimarães Júnior, Valentim Magalhães, César Ribeiro, Gonçalves Crespo, Dantas Barreto, Brasílio Machado, Viveiros de Castro, Fagundes Varela, Alberto de Oliveira, Pedro Lessa, Francisco Otaviano, B. Lopes, França Júnior, Macedo Papança, Teófilo Braga, Cândido Figueiredo, Guerra Junqueiro, Ramalho Ortigão e Fialho de Almeida.
A revista disponibilizou espaço à autoria local, dando alargamento efetivo ao sistema literário do Rio Grande do Sul, ao contribuir com as manifestações locais e relativamente isoladas, solidificando paulatinamente a unidade literária local e público leitor à literatura produzida na região e no país. Também encampou a defesa do sistema político-econômico republicano e a luta pela abolição da escravatura, baseado em ideias seculares, comentando acontecimentos sociais locais e ampliando a circulação de um discurso positivista, embebido de motivações de progresso científico e estético na região.
No texto que inaugura a revista, “Nossas ideias”, em outubro de 1880, aponta como prioridades o estudo de filosofia, história, ciências e literatura. Dentro do escopo desta última, alguns destaques em termos de publicação são: o romance Um drama social (out. 1880 a mar. 1881), de Alberto Blest Gana, romancista chileno e considerado o pai deste gênero no país de origem, traduzido por Azevedo Júnior, fundamental por difundir Gana no meio local, e os poemas “As três irmãs do poeta” e “A canoa fantástica”, de Castro Alves, publicados postumamente. Além destes, há narrativas breves; sonetos, sobretudo abordando temas amorosos; contos; crônicas; biografias; peças de teatro; algum conteúdo satírico; comentários do cotidiano de Porto Alegre; ensaios filosóficos de cunho positivista e traduções. Há, também, algumas referências intertextuais à literatura portuguesa, de escritores como Alexandre Herculano e Eça de Queirós.
Os textos, em sua maioria inéditos e voltados para os leitores do Rio Grande do Sul, em especial para os da capital, eram escritos por autores gaúchos, com algumas transcrições de textos provenientes de outras províncias ou países. Interessante para se conhecer um pouco da inclinação positivista do periódico é a biografia da personalidade francesa Émile Littré (1801-1881), lexicógrafo, médico e filósofo, defensor das ideias do Positivismo (artigo sem assinatura, março 1881).
Geanmarcos Garcia Terra
Para saber mais:
CESAR, Guilhermino. História da literatura do Rio Grande do Sul. Porto Alegre: Globo, 1971.
FERREIRA, Athos Damasceno. Imprensa literária de Porto Alegre no século XIX. Porto Alegre: Ed. da UFRGS, 1975.
Sobre o periódico:
A coleção completa dos números de O Lábaro pode ser encontrada na Biblioteca Pública de Porto Alegre. Vinte e quatro exemplares estão disponíveis na página digital do projeto de pesquisa “Imprensa literária no Rio Grande do Sul no século XIX – Textos e contextos”, coordenado pela professora Aline Strelow, da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS).
Publicação do verbete: dez. 2021.