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Renato Modernell
O autor no Mercado Público de Rio Grande, em 2024.
Renato Modernell é um jornalista, escritor, professor e pesquisador sul-rio-grandense. Nasceu na cidade do Rio Grande, no dia 19 de agosto de 1953, deixando-a ainda na juventude, quando partiu para São Paulo. Na capital paulista cursou Comunicação Social, habilitação Jornalismo, na Fundação Armando Álvares Penteado (FAAP), entre os anos de 1972 e 1975; um mestrado em Ciências da Comunicação, na Universidade de São Paulo (USP), entre os anos de 2002 e 2004; e um doutorado em Letras, na Universidade Presbiteriana Mackenzie, entre os anos de 2007 e 2009. Na última instituição de ensino, o autor exerceu a função de professor adjunto I, entre os anos de 2006 e 2021. Publicou, na sequência, algumas das suas reflexões acadêmicas relacionadas à área da Comunicação, algumas delas premiadas, como a sua dissertação de mestrado.
Modernell vive em São Paulo há algumas décadas, onde estabeleceu vínculos acadêmicos, profissionais e literários. É sobre esta metrópole, a terceira maior do mundo, a sua mais aclamada obra literária: Sonata da última cidade (1988), que lhe rendeu o Prêmio Jabuti de romance um ano após o lançamento do livro. Complementam a “trilogia paulistana” escrita pelo autor as obras Os jornalistas: o romance do carrossel (1995) e Edifício Mênfis (1996).
Atuou em grandes jornais e revistas como repórter, editor, chefe de redação, dentre outras funções atreladas ao segmento da comunicação. Trabalhou na Folha de S. Paulo, no Jornal da Tarde e no Jornal Agora; nas revistas Crescer, Claudia, Época e Quatro Rodas, apenas para citar alguns impressos que contaram com a sua colaboração jornalística. Publicou, ao todo, mais de 300 textos em periódicos nacionais. Na revista especializada em carros, Modernell trabalhou como repórter de viagens e conquistou o Prêmio Bastos Tigre de Jornalismo, organizado pela Associação Brasileira de Imprensa, pela Bayer e pelo governo da Alemanha. Foi laureado, ainda, com seis prêmios Abril de Jornalismo e com o terceiro lugar do Prêmio Jabuti, categoria Comunicação, com a obra A notícia como uma fábula: realidade e ficção se confundem na mídia.
É autor de um total de dezoito obras autorais de literatura, a maior parte, e de jornalismo. No âmbito literário publica desde o ano de 1979. Meados dos anos setenta (poesia) foi a sua obra inaugural e a única do gênero. Publicou, na sequência, Che Bandoneón (novelas), em 1984; O homem do carro-motor (contos), em 1984; Sonata da última cidade (romance), em 1988; Meninos de Netuno (romance), em 1988; O grande ladrão (infantojuvenil), em 1990; Os jornalistas: o romance do carrossel (romance), em 1995; Edifício Mênfis (romance), em 1996; Viagem ao pavio da vela (romance), em 2001; Em trânsito: um ensaio sobre narrativas de viagem (ensaio), em 2011; A notícia como uma fábula: realidade e ficção se confundem na mídia (ensaio), em 2012; Gird, o quarto mago (romance), em 2012; Mare Magnum: Colombo em busca da maçã azul (romance), em 2013; Um sábado que não existiu: ensaios sobre comunicação e cultura (ensaio), em 2015; Breve como verão (coletânea composta por três novelas ambientadas no Hotel Familiar, que pertenceu a sua família, no balneário Cassino), em 2016; Outras terras (reportagens), em 2017; Ípsilon (coletânea de textos curtos de vários gêneros), em 2018; e Ficções do extremo Sul (antologia), em 2022.
Além de São Paulo, morou em Roma, Londres, Barcelona e em Figueira da Foz, Portugal. Embora tenha deixado a sua terra natal com apenas dezoito anos, a manteve viva na sua literatura. O pouco tempo que morou em Rio Grande parece ter sido suficiente para estabelecer raízes e vivenciar fatos que ultrapassaram a individualidade das suas memórias, que tornaram-se ficcionais e coletivas. A distância do local de origem atuou como uma espécie de recurso para regar a saudade, renovar a crítica e cultivar a nostalgia sobre a cidade portuária e litorânea por meio da criação literária. De 1984 a 2022, o município do Rio Grande sempre esteve presente na sua produção.
Márcia Helena Barbosa, em verbete do Pequeno dicionário da literatura do Rio Grande do Sul, organizado por Luiz Antonio de Assis Brasil, Maria Eunice Moreira e Regina Zilberman, destaca o descompasso entre a qualidade da obra e a circulação restrita que possui a obra do escritor rio-grandino, algumas vezes assegurada com recursos do próprio autor. Pelo menos cinco livros evidenciam Rio Grande na produção literária de Renato Modernell, tornando-o o escritor que mais escreveu sobre a cidade mais antiga do Estado na literatura sul-rio-grandense e brasileira: Che Bandoneón (1984), O homem do carro-motor (1984), Meninos de Netuno (1988), Breve como o verão (2016) e, mais recentemente, Ficções do extremo Sul (2022). Os três primeiros livros, reforça o verbete, compõem, segundo classificação do próprio autor, a trilogia gaúcha: “Embora não formem uma sequência, elegem como cenário preferencial o Rio Grande do Sul e os países que com ele fazem fronteira, explorando aspectos da história e da cultura dessas regiões” (Barbosa, 1999, p. 158).
Em cada uma das obras o autor transita por diferentes gêneros literários (novela, conto e romance) sem perder a qualidade dos seus textos, haja vista o reconhecimento obtido através de premiações. Che Bandoneón conquistou o Prêmio Aquilino Ribeiro, concedido pela Academia de Ciência de Lisboa; O homem do carro-motor venceu o Prêmio Bienal Nestlé de Literatura Brasileira; e Meninos de Netuno o Prêmio Guimarães Rosa de Romance. Modernell conquistou outros prêmios literários ao longo da sua jornada como escritor, destaque para o Premio Letterario Internazionale Marengo D’Oro, do Centro Culturale Maestrale, da Itália, em 2002. Ganhou, ainda, além de outras honrarias, o Prêmio Julia Mann de Literatura, do Instituto Goethe, de São Paulo, em 1997; e o Prêmio Erico Verissimo, da União Brasileira de Escritores, em 2002. No ano de 1996 foi Patrono da XXIII Feira do Livro da Universidade Federal do Rio Grande (FURG).
O autor compartilha seus textos (na sua maioria, crônicas) no blog Adjazzcências e nas suas contas nas redes sociais Facebook e Instagram. O principal trabalho a que se dedica atualmente é a composição do que ele chama de “recitativos” (textos breves em prosa poética entremeados de vinhetas musicais), postados mais ou menos regularmente na plataforma de vídeo YouTube.
Tiago Goulart Collares
Para saber mais:
______. Che Bandoneón. São Paulo: Global, 1984.
Publicação do verbete: jul. 2024.
Revista Mensal da Sociedade Partenon Literário
Capa do primeiro número da revista (mar. 1869).
Marco da literatura do Rio Grande do Sul, a Sociedade Partenon Literário foi fundada em 18 de junho de 1868, em Porto Alegre, tendo existido até pelo menos o começo de 1886. A Revista Mensal foi o seu órgão de divulgação cultural, circulando entre 1869 e 1879, com interrupções, em um total de quatro séries, com diferentes denominações e periodicidade diversa: 1ª série, de março a dezembro de 1869, mensal, sob o nome de Revista Mensal da Sociedade Partenon Literário; 2ª série, de julho de 1872 a maio de 1876, mensal, sob os nomes Revista Mensal da Sociedade Partenon Literário (1872 e 1873) e Revista do Partenon Literário (1874 a 1876); 3ª série, de agosto a dezembro de 1877, quinzenal (até outubro) e mensal (novembro e dezembro), sob o nome de Revista do Partenon Literário; e 4ª série, de abril a setembro de 1879, mensal, sob o nome Revista Contemporânea do Partenon Literário, Consagrada às Letras, Ciências e Artes.
A revista tinha uma média de 40 a 50 páginas, passando por diferentes tipografias da capital gaúcha: do Jornal do Comércio, do jornal A Reforma, do Constitucional, da Imprensa Literária e da Deutsche Zeitung. Contava com uma Comissão de Redação, que regularmente mudava a sua composição, sendo designado, a cada edição, um redator do mês. Como não ostentava anúncios nem era vendida, a manutenção da revista se dava a partir do pagamento de mensalidades pelos sócios. Os colaboradores viriam a se tornar os mais significativos nomes da literatura do Rio Grande do Sul no século XIX: Amália Figueiroa, Apeles Porto Alegre, Apolinário Porto Alegre (escritor e professor, o principal mentor da agremiação, que muitas vezes assinava como Iriema), Aquiles Porto Alegre, Bernardo Taveira Júnior, Damasceno Vieira, Luciana de Abreu, José Antônio do Vale Caldre e Fião (médico e escritor já conhecido na época, tendo se tornado presidente honorário do grupo), José Bernardino dos Santos (em geral assinava como Daimã), Múcio Teixeira, Revocata Heloísa de Melo e Vítor Valpírio (pseudônimo de Alberto Coelho da Cunha).
A importância da revista e do grupo do Partenon, para a então Província sulina, radica-se, em primeiro lugar, por seu papel literário, ao introduzir aqui o Romantismo; ao propagar o Regionalismo, tema que viria a ser tornar um dos cernes da literatura sul-rio-grandense; e por, de certa forma, dar início efetivo ao sistema literário do Rio Grande do Sul, antes dominado por manifestações isoladas, que não concediam unidade nem público leitor à literatura produzida na região. Também a contribuição social da agremiação importa destacar, já que deu voz às mulheres; lutou pela república e pela abolição da escravatura (inclusive concedendo a alforria a negros em eventos festivos, organizados para este fim); estruturou um museu de ciências naturais; manteve, ao longo de vários anos, aulas noturnas às pessoas interessadas; organizou uma biblioteca; e abriu espaço em sua tribuna para manifestações sobre os mais variados assuntos.
Seus interesses, apontados no texto inicial da revista, o “Programa”, em março de 1869, era o estudo de filosofia, história e literatura, sendo esta última a prioridade, por meio de romances, contos, crônicas, biografias, relatos de viagem, registros históricos, poemas e peças de teatro, muitas vezes publicados em formato de folhetim. Alguns destaques são o romance O vaqueano (jul. a dez. 1872), de Apolinário Porto Alegre, fundamental por introduzir definitivamente os assuntos telúricos na literatura local; as lendas recontadas por José Bernardino dos Santos (“Boitatá”, maio 1869) e Vítor Valpírio (“A Mãe do Ouro”, jan./maio e jul./ago. 1873); os poemas de cunho lírico de Amália Figueiroa (publicados entre 1872 e 1874); os discursos de Luciana de Abreu, sobre a educação e a emancipação das mulheres (dez. 1873 e jun. 1875); os dramas e as comédias ambientados em Porto Alegre e em outras cidades do país; poemas e contos regionalistas; narrativas de cunho urbano; romances históricos; e a abordagem, em vários textos, da escravidão, tema caro ao grupo.
Voltada para o leitor do Rio Grande do Sul, os textos eram inéditos, em sua maioria escritos pelos sócios, em especial das cidades de Porto Alegre, Rio Grande e Pelotas, não havendo a transcrição de textos de autores de outras províncias ou países; há algumas traduções, como a de Charles Poncy (“Image”, por Bernardino dos Santos, out. 1869), Edgar Quinet (“Fragmento da prosa do Ashaverus”, set. 1875) e Shakespeare (cenas 1 e 2 do ato V de O mouro de Veneza, mar./abr. 1876), essas duas últimas por Elpídio Lima. Autores estrangeiros e brasileiros aparecem em necrológios ou esboços biográficos: Lamartine (por Bernardino dos Santos, maio 1869), Gonçalves Dias (por Hilário Ribeiro, mar. 1875) e José de Alencar (por Apolinário Porto Alegre, set./dez. 1873 e fev. 1874), o que demonstra a conexão que havia entre os partenonistas e a produção de escritores nacionais e internacionais da época.
Mauro Nicola Póvoas
Para saber mais:
CESAR, Guilhermino. História da literatura do Rio Grande do Sul. Porto Alegre: Globo, 1971.
HESSEL, Lothar F. et al. O Partenon Literário e sua obra. Porto Alegre: Flama; IEL, 1976.
MOREIRA, Maria Eunice (Coord.). Narradores do Partenon Literário. Porto Alegre: IEL; CORAG, 2002.
PORTO ALEGRE, Álvaro. Partenon Literário: ensaio lítero-histórico. Porto Alegre: Thurmann, 1962.
PÓVOAS, Mauro Nicola. Uma história da literatura: periódicos, memória e sistema literário no Rio Grande do Sul do século XIX. Porto Alegre: Buqui, 2017.
SALDANHA, Benedito. A mocidade do Parthenon Litterário. Porto Alegre: Alcance, 2003.
SILVEIRA, Cássia Daiane Macedo da. Sociedade Partenon Literário: literatura e política na Porto Alegre do século XIX. Curitiba: Prismas, 2016.
VELLINHO, Moysés. O Partenon Literário. In: PRIMEIRO SEMINÁRIO DE ESTUDOS GAÚCHOS. Porto Alegre: PUCRS, 1958.
ZILBERMAN, Regina; SILVEIRA, Carmen Consuelo; BAUMGARTEN, Carlos Alexandre. O Partenon Literário: poesia e prosa. Porto Alegre: EST; Instituto Cultural Português, 1980.
Sobre o periódico:
Exemplares da revista podem ser encontrados na Biblioteca Rio-Grandense, em Rio Grande, e na biblioteca da PUCRS e no Instituto Histórico e Geográfico do Rio Grande do Sul, em Porto Alegre. Em 2018, a EDIPUCRS publicou toda a coleção da revista em formato on-line, o que facilitou bastante a consulta ao material: aqui.
Publicação do verbete: dez. 2021.