N
Notícia, A
A publicação do jornal A Notícia, dirigido inicialmente por Manuel Jorge de Oliveira Rocha, o Rochinha para os íntimos, representou um empreendimento original no segmento dos vespertinos, os quais eram dependentes das folhas da manhã, de onde retiravam suas notícias, e também de grupos políticos, que os financiavam para ter o editorial a seu serviço. Desde o primeiro número, de 17 de setembro de 1894, A Notícia contava com um corpo completo de redatores e um grupo escolhido de colaboradores com o objetivo de garantir noticiário próprio e artigos originais de qualidade. Assim, era possível todos os dias encontrar nesse vespertino notícias que não tinham sido divulgadas nos jornais da manhã e telegramas com a mesma data da edição, além de crônicas e ensaios originais.
No alto da primeira página, vinham duas datas, isto é, a data correta da edição e a data do dia seguinte, como forma de alertar o público sobre a “validade” do noticiário. Logo abaixo, em tipos de imprensa, encontrava-se o título do jornal em caixa alta e negrito, ladeado por informações sobre assinaturas e pela indicação do endereço do escritório, situado à Rua do Ouvidor, 123, no Rio de Janeiro. Com apenas seis colunas, duas a menos do que O País e a Gazeta de Notícias, A Notícia adotava tipos um pouco maiores e, portanto, mais legíveis do que os desses matutinos.
Antes mesmo de completar um ano, no dia 1º de julho de 1895, o vespertino passou a imprimir-se em papel cor de rosa de superior qualidade. Parecia a indicação material de sua moderação política no plano federal, considerando-se o fato de que priorizava questões municipais. A primeira página trazia o editorial, notícias e telegramas e, no rodapé, crônica ou artigo. Na segunda, vinham anúncios publicitários, cotações comerciais, telegramas de última hora, boletins da Câmara dos Deputados e do Senado Federal, informações sobre o câmbio e o turfe, espetáculos teatrais em cartaz, registro de publicações recebidas etc. O noticiário prosseguia na terceira página, acompanhado, no entanto, por anúncios de companhias de navegação e editais, charadas, publicações “a pedido” etc. A última página ficava tomada por anúncios de loterias, companhias teatrais e produtos manufaturados nacionais e importados. Debaixo de tudo isso, no rodapé, acomodava-se um romance-folhetim. Evidentemente, essa distribuição do material jornalístico e publicitário comportava pequenas variações e foi-se modificando ao longo do tempo.
Em seus primeiros anos, A Notícia contou com a pena de jornalistas experimentados como Ferreira de Araújo, Alberto Torres e Augusto Montenegro. Entre os colaboradores literários, figuraram Figueiredo Coimbra, Valentim Magalhães, Alfredo de Taunay, Capistrano de Abreu, Melo Morais, Gastão Bousquet, Figueiredo Pimentel e Olavo Bilac, que manteve, com grande sucesso de público, a seção de crônicas diária “Registro” de 1900 a 1908. Colunas que se tornaram referências no jornalismo carioca foram a crítica sobre “O teatro”, de Artur Azevedo, e a “Crônica literária”, de Medeiros e Albuquerque, iniciada em 1897. No começo do século XX, colaboraram no jornal do Rochinha Luís de Castro, João do Rio, Vieira Fazenda e Coelho Neto, entre outros intelectuais de prestígio.
Alvaro Santos Simões Junior
Para saber mais:
SIMÕES JUNIOR, Alvaro Santos. A sátira do Parnaso. São Paulo: FAPESP; Ed. da UNESP, 2007.
Sobre o periódico:
Há coleção do periódico, recobrindo o período de setembro de 1894 a dezembro de 1916, disponível on-line na Hemeroteca Digital da Fundação Biblioteca Nacional. Reprodução em microfilme do período de 1894 a 1908 está disponível para consulta no Centro de Documentação e Apoio à Pesquisa (CEDAP), pertencente à Faculdade de Ciências e Letras de Assis (UNESP).
Publicação do verbete: jul. 2024.