E
Escrínio
Capa da primeira edição do Escrínio, de 2 jan. 1898.
Publicado por uma mulher no Rio Grande do Sul, o Escrínio foi lançado em Bagé em 2 de janeiro de 1898, passando por algumas cidades até chegar na capital Porto Alegre, onde se encontram publicações até 25 de junho de 1910. O periódico, que teve como redatora e proprietária a gaúcha Andradina de Oliveira, circulou com pelo menos cinco diferentes denominações, sendo ora jornal, ora revista.
Em 1898, o jornal Escrínio apresenta 4 páginas divididas em três colunas. “Folhetins”, “Seção poética”, “Teatro”, “Movimentos Literários” e espaço publicitário disputam seções de entretenimento e notas diversas. Entre janeiro e fevereiro utiliza a tipografia do jornal O Comércio e, depois, possivelmente da Livraria Popular. Os valores eram diferenciados: “Para a cidade”, mensal 2$000 (dois mil réis) e trimestral 5$000 (cinco mil réis); “Para fora”, trimestral 6$000 (seis mil reis), na modalidade de “pagamento adiantado”. Colaborações e assinaturas eram recebidas na redação, à Rua General Caetano Gonçalves, residência de Andradina; o escritório do periódico sempre se situava na casa da diretora.
Ao migrar para a cidade de Santa Maria, em 1900, transforma-se em Escrínio – Revista literária dedicada à mulher rio-grandense, contando 10 páginas. Apresenta capa com o nome da diretora, a cidade e a tipografia J. Gomes & Comp., entremeados aos efeitos artísticos. Gêneros variados de literatura, notas ligeiras sobre arte e cultura, relatos de viagens e avanços feministas, distribuem-se em seções internas não fixas entre duas colunas. A redação localizava-se à Rua do Acampamento, n. 36.
Em 12 de junho de 1901, reaparece o Escrínio – Jornal dedicado à mulher rio-grandense (ano IV, n. 1), em Porto Alegre. Destaca-se um longo prospecto sobre o periódico e as cidades de publicação: “Bagé, Rio Grande e Santa Maria” – nesta ordem. Em 20 de dezembro de 1903 (ano VI, n. 36), encontra-se o título: Escrínio – Jornal literário, artístico e noticioso – dedicado à mulher rio-grandense. Enquanto jornal, os anos IV e VI apresentam 4 páginas e 5 colunas estreitas com textos variados de literatura, concursos literários, notas sobre teatro, cultura, sociedade, informes sobre conquistas das mulheres no mundo e propagandas comerciais. A redação teve dois endereços distintos: Rua Riachuelo, n. 12 (sobrado) e Rua d’Alfândega, n. 10 (sobrado).
Entre 1906 e 1908, o Escrínio suspende as publicações, mas reaparece em 16 de setembro de 1909, com o título Escrínio – Revista semanal ilustrada (ano X, n. 1). No cabeçalho, além da diretora, o nome da secretária Lola de Oliveira, a filha. Aparecem fotografias na capa que têm frequentes alterações, com desenhos artísticos, e se abundam nas seções internas, com registros do desenvolvimento de Porto Alegre. As fotografias seguem no ano XI, misturando-se com literatura, artigos sobre emancipação feminina e suas conquistas no mundo das letras. Impresso na Livraria Americana, à Rua dos Andradas, n. 363, e redação à Rua Avaí, n. 105, onde também se vendiam exemplares.
No cenário literário, o Escrínio foi divulgador da literatura produzida pelas mulheres. Escritoras celebradas na literatura mundial e nacional, assim como no cenário regional, publicavam poesias românticas, crônicas, contos, narrativas de cunho social urbano, muitas vezes em forma seriada, como o romance realista A seduzida, de Inês Sabino (1893), e O perdão, de Andradina (1910), com viés regionalista, contemporâneo a Simões Lopes Neto e Alcides Maia. Em 1910, o Escrínio contava com mais de oitenta nomes entre colaboradores e colaboradoras, como Júlia Lopes de Almeida, Carmen Dolores, Revocata Heloísa de Melo, Julieta de Melo Monteiro e Delminda Silveira, e de Portugal, Modesta, assim como Mariana Coelho, portuguesa radicada em Curitiba, além de Damasceno Vieira, Bernardo Taveira Júnior, Zeferino Brasil, Cipriano Porto Alegre e Casinano Monegal, do Uruguai.
No cenário social é “devotado propagador [...] à emancipação intelectual da mulher” (ano IV, n. 5, 1901, p. 8). Estampa discursos sobre divórcio, voto, emancipação pelo trabalho e direito à educação, assinados por reconhecidas feministas, chegando a ter edição especial com o assunto “Mulher”, ainda em 1898. As “Notas feminis” misturam-se às publicações das palestras que Andradina fazia pelo Brasil e países vizinhos: “Sobre a nossa causa”, “A mulher através dos tempos”, “A mulher e sua educação”.
Entre os anos X e XI, a revista não tinha número de páginas fixas, chegando a ter mais de 200. Já os valores alcançaram, ao final, 20$000 (vinte mil réis) no ano para a capital e 23$000 (vinte e três mil réis) “Para fora”. Enquanto jornal publicava-se semanalmente; enquanto revista, quinzenalmente.
Rosa Cristina Hood Gautério
Para saber mais:
ESCRÍNIO – Jornal dedicado à mulher rio-grandense. Ano IV, n. 1. Porto Alegre, 12 jun. 1901.
______. Ano IV, n. 5. Santa Maria, 15 mar. 1901.
______. Ano IV, n. 36. Porto Alegre, 20 dez. 1903.
______. Ano X, n. 1, Porto Alegre, 16 set. 1909.
GAUTÉRIO, Rosa Cristina Hood. Escrínio, Andradina de Oliveira e sociedade(s): entrelaços de um legado feminista. 390 p. Tese (Doutorado em Letras) – Programa de Pós-Graduação em Literatura da Universidade Federal de Santa Catarina, 2015. Disponível em: https://repositorio.ufsc.br/handle/123456789/158435.
Sobre o periódico:
Exemplares do Escrínio podem ser encontrados na Biblioteca Rio-Grandense, em Rio Grande; no Instituto Histórico e Geográfico do Rio Grande do Sul e no Museu da Comunicação Hipólito José da Costa, ambos em Porto Alegre; no Museu Dom Diogo de Souza, em Bagé; no acervo particular da historiadora Hilda Flores; e na Fundação Biblioteca Nacional, do Rio de Janeiro, na seção “Periódicos raros”.
Publicação do verbete: dez. 2021.
Espelho, O
O Espelho – Revista Semanal de Literatura, Modas, Indústria e Artes foi um periódico que circulou na cidade do Rio de Janeiro no século XIX, entre 1859 a 1860. Sua edição inicial aconteceu no primeiro domingo de setembro de 1859, perdurando até o segundo domingo de janeiro de 1860, em um total de dezenove edições. Destinado principalmente ao público feminino, ou ao “belo sexo”, como aparece no prospecto da primeira edição, o periódico tinha a intenção de ter “a maior circulação possível” (“Prospecto”, 1859, n. 1, p. 1) e, para isso, era preciso torná-lo prazeroso e variado, de forma que instruísse com moralidade tanto o rico como o pobre.
A revista foi dirigida por Francisco Eleutério de Sousa, sendo impressa, nas quatro primeiras publicações, na Tipografia de Francisco de Paula Brito, localizada na Praça da Constituição, n. 64 (atual Praça Tiradentes). Paula Brito é um nome importante no cenário literário da época, já que foi o precursor da imprensa negra no Brasil e o primeiro editor de Machado de Assis. Da mesma praça, só que no n. 9, saíram, sem interrupção, as outras nove edições (da 5ª à 13ª) e, mais tarde, a 18ª e a 19ª edições, com a Tipografia Comercial de F. O. Queirós Regadas. As outras quatros publicações, da 14ª até a 17ª, ficaram sob a responsabilidade da Tipografia Americana, de José Soares de Pinho, na rua da Alfândega, n. 197.
Constância Lima Duarte, em Imprensa feminina e feminista no Brasil – Século XIX: dicionário ilustrado, afirma que, a partir da 13ª edição, quem assume a direção da revista foi Silva Rabelo. Todavia, durante a análise dos materiais originais da revista, nada foi encontrado que confirmasse essa informação, sendo Eleutério de Sousa o responsável pela direção e redação em todos os números.
O periódico permaneceu com o mesmo design gráfico em todas suas edições, ainda que tenha sido impresso em locais diferentes. Com uma apresentação simples, de páginas divididas ao meio por um traço na vertical, cada publicação tem entre dez e treze páginas. Possui poucos anúncios publicitários e ilustrações. Colunas que aparecem com regularidade são: “Revista de teatros”, dedicado a comentários e críticas teatrais; “Crônica elegante”, que oferecia dicas e tendências da moda da época; e “Notícias à mão”, onde eram noticiados os últimos acontecimentos da semana.
Há o predomínio da estética romântica, reflexo do período literário vivido no Brasil no século XIX, com um repertório marcado pela diversidade textual: capítulos de romances, poemas, trechos de peças de teatros, lendas e músicas. Escrito apenas por homens, o periódico é marcado pela idealização física e moral das mulheres e de elementos e nomes da Igreja Católica. Contou com a contribuição literária de escritores importantes, como Machado de Assis, Casimiro de Abreu, Paula Brito e Alexandre Dumas.
Recorrente na revista, Machado de Assis contribuiu com textos de temas e gêneros diversificados. Alguns dos seus trabalhos para a revista foram as colunas “Revista de teatros” e “Ideias sobre teatro”; a publicação de uma crônica intitulada Aquarelas, uma sátira em quatro capítulos que critica personagens típicos da sociedade brasileira: “Os fanqueiros literários” (n. 2), “O parasita” (n. 3 e 6), “O empregado público aposentado” (n. 7) e “O folhetinista” (n. 9); poesias, como “A estrela da tarde” (n. 1); e lendas, como Os imortais (I. O caçador de Harz, n. 3; II. O marinheiro batavo, n. 4).
Ainda que não fizesse parte do objetivo da revista, a política não ficou de fora das colunas do O Espelho. Na primeira edição foi publicada uma nota de pesar pelo falecimento de D. Estefânia, rainha de Portugal casada com o rei D. Pedro V, e que ilustra a relação, não só política, mas afetiva que o Brasil ainda matinha com Portugal. Além da política, a relação entre Brasil e Europa esteve presente nas tendências da moda. Os trajes que chegavam da França eram descritos pela revista como parte do que era belo nas mulheres de bom gosto, mostrando a influência masculina e europeia nas vestes femininas brasileiras.
Júlia Bezerra Sisnando
Para saber mais:
BRITO, Francisco de Paula Brito. Heróis de todo mundo. Fundação Roberto Marinho, 2010. Disponível em: http://antigo.acordacultura.org.br/herois/heroi/franciscobrito. Acesso em: 28 ago. 2020.
COSTA, Maria Ione Caser. O Espelho – Revista Semanal de Literatura, Modas, Indústria e Artes. Biblioteca Nacional Digital Brasil. Fundação Biblioteca Nacional, 2020. Disponível em: https://bndigital.bn.gov.br/dossies/periodicosliteratura/titulosperiodicosliteratura/o-espelho-revista-semanal-de-litteratura-modas-industria-e-artes. Acesso em: 8 out. 2020.
DUARTE, Constância Lima. Imprensa feminina e feminista no Brasil – Século XIX: dicionário ilustrado. Belo Horizonte: Autêntica, 2016.
HEMEROTECA digital brasileira. O Espelho - Revista Semanal de Literatura, Modas, Indústria e Artes. Biblioteca Nacional Digital Brasil, 2020. Disponível em: http://bndigital.bn.br/acervo-digital/espelho/700037. Acesso em: 8/10/2020.
O ESPELHO – Revista Semanal de Literatura, Modas, Indústria e Artes. Ed. fac-similar. Rio de Janeiro: Fundação Biblioteca Nacional, 2008.
Sobre o periódico:
A Biblioteca Nacional, no Rio de Janeiro, por meio da Biblioteca Nacional Digital do Brasil, disponibiliza cópias dos exemplares originais, menos a 19ª edição, que se encontra no acervo da Fundação Casa de Rui Barbosa, também no Rio de Janeiro. A edição fac-similar (2008), editada pela Biblioteca Nacional, reúne as dezenove edições.
Publicação do verbete: dez. 2021.
Estética
Capa do primeiro número da revsita
Estética foi um importante periódico do movimento modernista brasileiro. Contou apenas com três números, que foram suficientes para estampar polêmicas, difundir tendências e incitar o movimento que estava tão em alta no país. O primeiro número foi lançado em setembro de 1924 e os outros dois no ano seguinte, de janeiro/março e abril/junho. Esta foi uma revista que fez parte de uma série de outros títulos periódicos que foram lançados pelo grupo que realizou, em fevereiro de 1922, a Semana de Arte Moderna. Também foi uma revista lançada fora de São Paulo, cidade destaque do movimento.
Os responsáveis por Estética foram Prudente de Moraes, neto e Sérgio Buarque de Holanda, na época apenas dois jovens estudantes, respectivamente 20 e 22 anos, da Faculdade Nacional de Direito. A edição da revista marcou a pouca profissionalização, pois, para editarem o periódico, os diretores e outros interessados reuniam-se na Livraria Odeon, na Avenida Rio Branco, 157, Rio de Janeiro, e encetavam longas conversas informais sobre como se daria a publicação do periódico. A impressão do primeiro número ficou a cargo de Pestana & Irmãos, já os demais foram impressos na gráfica editora Paulo, Pongetti & Cia. Os valores dos exemplares variaram em 2$000 (dois mil réis) no primeiro número e 3$000 (três mil réis) nos dois seguintes. Também há a menção, nos dois primeiros números, de uma assinatura anual de 8$000 (oito mil réis), por quatro exemplares.
Em relação ao projeto gráfico, Estética foi uma revista modesta comparada a sua congênere Klaxon, mensário de arte moderna (São Paulo, 1922-1923). Enquanto esta revista possuía uma capa arrojada, a revista carioca apelou para a simplicidade, cuja primeira página continha apenas informações essenciais do número. Vale ressaltar que tal decisão pode ter sido influência de outro periódico, The Criterion (Londres, 1922-1923), que possuía muitas semelhanças com a capa de Estética. A revista distribuía, ao longo de 120 páginas de cada exemplar, textos com legibilidade, espaçamentos bem alternados e muito pouco anúncios, em sua maioria ilustrados por Pedro Nava. Além do Rio de Janeiro, a revista também foi distribuída na capital paulista pela Livraria Garroux, então dirigida por José Olympio; também foi distribuída em Belo Horizonte, por Pedro Nava, e em Recife, por Joaquim Inojosa.
Estética reuniu distintos colaboradores, a exemplo de Manuel Bandeira, Mário de Andrade, Graça Aranha, Renato de Almeida, Couto de Barros, Álvaro Moreyra, Menotti del Picchia, Carlos Drummond de Andrade, Sérgio Milliet, e ainda colaboraram com textos críticos os diretores da revista, Prudente de Moraes, neto e Sérgio Buarque de Holanda.
Estética ansiava ser a continuação de Klaxon, revista já mencionada de grande importância ao movimento modernista no Brasil. No entanto, a revista carioca não se limitou apenas a ser a continuação de sua congênere. Embora tenha sido publicada no Rio de Janeiro, Estética foi uma revista que reuniu o grupo do eixo Rio e São Paulo para a sua produção. Na opinião dos diretores, enquanto Klaxon rompia com uma série de ditames da então “cultura brasileira”, Estética visava sair desse campo polêmico e construir algo concreto.
Apesar de então desejar ser um periódico conciliador, Estética apresentou diversos desentendimentos. A revista foi palco de diversas disputas ideológicas, como a cisão do grupo de Graça Aranha. Embora no número de estreia a revista tenha estampado o ensaio “Mocidade e estética”, de Graça Aranha, no número 3, Mário de Andrade publicou o texto “Carta aberta a Alberto de Oliveira”, indagando que o Modernismo não havia sido trazido da Europa por Graça Aranha, pois aqui já havia um grupo formado por Anita Malfatti, Victor Brecheret e Oswald de Andrade. E ainda, em outra publicação, ressalta-se a modernidade na obra Memórias sentimentais de João Miramar, o que fez com que o grupo de Graça Aranha desconfiasse que os jovens de Estética estivessem coniventes com os paulistas.
É importante frisar que, diferente de Klaxon, a matéria única de Estética foi a literatura. Enquanto aquela revista publicava textos de cinema, música e artes plásticas, a revista carioca publicou muitos ensaios e resenhas de obras do movimento ou que estivessem com afinidade ao movimento. Diversos poemas também foram publicados. Merecem destaque as publicações do terceiro número: o “Noturno de Belo Horizonte”, de Mário de Andrade, que abriu o volume, e os poemas do então jovem Carlos Drummond de Andrade, “Construção”, “Sentimental” e “Raízes e caramujos”, os dois primeiros incluídos em seu livro de estreia, publicado anos mais tarde.
As revistas literárias e culturais sempre enfrentaram dificuldades financeiras, e com Estética não foi diferente. Assim, sua curta duração pode ser explicada por este fato. Porém, é inegável a sua importância para o movimento modernista brasileiro. Com Estética, o modernismo estava pronto para expandir-se para outras localidades do país, como aconteceu com o lançamento de diversos outros periódicos.
Helen de Oliveira Silva
Para saber mais:
SILVA, Helen de Oliveira. Dados editoriais. Disponível em: https://br.revistasdeideias.net/pt-pt/estetica/foreword/editorial-data. Acesso em 27 nov. 2024.
Sobre o periódico:
Exemplares de Estética estão disponíveis na Hemeroteca Digital da Fundação da Biblioteca Nacional.
Publicação do verbete: mar. 2025.