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O Guaíba

Capa da edição de 19/10/1856. Acervo do Museu de Comunicação Hipólito José da Costa

O jornal O Guaíba foi lançado no dia 3 de agosto de 1856 e circulou até 26 de dezembro de 1858, em Porto Alegre. Foi o primeiro jornal literário do Rio Grande do Sul de longa duração para os padrões da época – antes dele, circulou em Rio Grande A Rosa Brasileira, com três edições publicadas entre março e abril de 1851 (PÓVOAS, 2018). O Guaíba era impresso nas oficinas da Tipografia Brasileira-Alemã, apresentava formato 30 cm x 20 cm, composto de oito páginas e com circulação dominical. Sua assinatura anual custava 12$000 e era paga em trimestres adiantados.

Seus redatores eram Carlos Jansen, editor e também proprietário da tipografia, e João Vespúcio de Abreu e Silva. Em torno da redação do jornal, reuniram-se nomes promissores da época, como: Félix da Cunha (um dos seus fundadores, ao lado de Jansen e Abreu e Silva), Pedro Antônio de Miranda, Miguel Meirelles, Rita Barém de Melo, Zeferino Vieira Rodrigues Filho, João Capistrano Filho, Catão Damasceno Ferreira, Eudoro Berlink e Furtado Coelho, entre outros. Como salienta Ferreira (1975, p. 17), o número de colaboradores era extenso e sua presença era assídua nas páginas do jornal. Configura-se, assim, uma publicação tipicamente local, que reflete de modo bastante acentuado as preocupações e tendências do meio, sem deixar de contemplar as influências vindas de fora, com destaque para a presença do romance-folhetim. Na coleção disponível para consulta no Museu de Comunicação Hipólito José da Costa (Porto Alegre/RS), foi identificada a publicação dos romances “Cherubino e Celestino”, de Alexandre Dumas; “Cain, o pirata”, de Frederick Marryat; e “A donzela pálida”, de Reinaldo Carlos Montoro.

Embora alguns textos aparecessem soltos, a redação do periódico já demonstrava preocupação em organizar o conteúdo, dividindo-o em seções. É o caso da seção “Revista”, que traz relatos do cotidiano da cidade de Porto Alegre (os jantares, a moda, as peças de teatro, os eventos religiosos e as pequenas contravenções), em uma verdadeira miscelânea de gêneros textuais. Estão presentes ali a crônica, a nota, a poesia, as cartas de leitores (devidamente respondidas) e as charadas.

Na obra de Ferreira (1975, p. 13-16), temos acesso ao texto de apresentação publicado na primeira edição do jornal, no qual a imprensa aparece como espaço privilegiado para as lutas da inteligência: “O jornal é a inteligência do povo, advogando seus interesses e proclamando seus direitos”. No mesmo texto, os diretores reconhecem a força e fragilidade de seu combate, que se dá no campo das letras. E fazem um protesto: desejam ser uma entidade neutra no campo da política provincial. Não desejam, assim, advogar interesses de partido ou de pessoa alguma, mas pretendem falar do povo, revelando-lhe seus direitos, ensinando-lhes os seus deveres. Mesmo que impossível de ser alcançado em sua totalidade, o discurso da neutralidade já aparece nesse momento, em 1856, período marcado pela prática do jornalismo político-partidário. O novo jornalismo literário e noticioso que ganha corpo na segunda metade do século XIX iria, então, especializar-se na difusão de notícias e na discussão de assuntos da atualidade, como mostra Rüdiger (2003, p. 60). 

A primeira geração romântica sul-rio-grandense teria, nas páginas de O Guaíba, seu veículo de expressão. A contemplação, a melancolia, a tristeza e o abandono passam a ocupar o lugar antes reservado aos aspectos mais genuinamente gaúchos. De acordo com Cesar (1971, p. 153), tivemos, no Rio Grande do Sul, uma corrente “casimiriana” antes mesmo de Casimiro de Abreu. Com esse jornal, os poetas e escritores locais começaram a aparecer em grupo, unidos por ideais e aspirações comuns.

O Guaíba foi um jornal pioneiro, que ofereceu suas páginas aos escritores e poetas de então. Influenciados pelo Romantismo, deixaram de lado as preocupações da vida campeira e dedicaram-se às dores do amor proibido, ao desespero da separação e à saudade da infância, entre outros temas. Sua influência na vida jornalística da Província seria profunda, não apenas representando o início de uma vertente que se fortificaria até o final do século, mas representando as primeiras experiências profissionais de nomes que iriam figurar em grandes jornais do período, fazendo história no campo da imprensa, mas também, em alguns casos, na atividade política. Em uma cidade que ainda não contava com bibliotecas públicas e onde o livro era produto de luxo, a circulação da literatura nos jornais ampliava, e muito, o universo de leitores.

 Aline Strelow

 

Para saber mais:

BAUMGARTEN, Carlos Alexandre. Literatura e crítica na imprensa do Rio Grande do Sul: 1868 a 1880. Porto Alegre: Escola Superior de Teologia de São Lourenço de Brindes, 1982.
CESAR, Guilhermino. História da literatura do Rio Grande do Sul: 1737‑1902. Porto Alegre: Globo, 1971.
FERREIRA, Athos Damasceno. Imprensa literária de Porto Alegre no século XIX. Porto Alegre: Ed. da UFRGS: 1975.
PÓVOAS, Mauro Nicola. Precedência malograda: A Rosa Brasileira (1851), o primeiro jornal literário do Rio Grande do Sul? In: ALVES, Francisco das Neves; PÓVOAS, Mauro Nicola. Periodismo e literatura no Rio Grande do Sul do século XIX. Lisboa: Cátedra Infante Dom Henrique para os Estudos Insulares Atlânticos e a Globalização; Rio Grande: Biblioteca Rio-Grandense, 2018.
RÜDIGER, Francisco. Tendências do jornalismo. Porto Alegre: Ed. da UFRGS, 2003.
STRELOW, Aline. Primórdios da imprensa literária no Rio Grande do Sul: a história do jornal O Guayba. Revista Brasileira de Ciências da Comunicação, São Paulo, v. 39, n. 2, p. 19-38, maio/ago. 2016.

 Sobre o periódico:

A coleção do jornal que compõe o acervo do Museu de Comunicação Hipólito José da Costa foi digitalizada, no âmbito do projeto de pesquisa “Imprensa literária no Rio Grande do Sul no século XIX – Textos e contextos”, e está disponível para consulta em www.ufrgs.br/jornaisliterarios.

(IMPRENSA LITERÁRIA NO RS NO SÉCULO XIX - Textos e Contextos)

Tema(s): periódico
Sujeto: G