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Oscar Leal

  Oscar Leal nasceu em julho de 1862, no Rio de Janeiro, mas, de família portuguesa – seu pai era o comendador Jacinto Leal de Vasconcelos, natural da Ilha da Madeira –; em seguida deslocou-se para terras lusas, onde realizou seus estudos na cidade do Funchal. Sua formação educacional e acadêmica foi empreendida no eixo Brasil-Portugal, vindo a formar-se em cirurgia craniana e dentária. Apresentava-se como especialista em doenças da boca, dentes e correções das deformidades nasais e como diplomado na América e Escola Médica de Lisboa. Empreendeu inúmeras viagens, notadamente pelos sertões brasileiros, percorrendo o país entre as décadas de 1880 e 1890, permanências entremeadas por retornos a Portugal.  A partir de 1894, se fixou definitivamente em Lisboa, estabelecendo residência e consultório, intensificando sua ação como homem de letras, até a sua morte em abril de 1910.

Ao lado de suas práticas profissionais, como odontólogo, desenvolvidas muitas vezes de maneira itinerante, à medida que empreendia viagens por várias partes do mundo, Oscar Leal promoveu uma significativa produção intelectual. Sua obra inclui variados títulos, dentre os quais podem ser destacados: os versos Flores de abril e Flores de maio; os romances Uma mulher galante e Zélia: amores de uma brasileira; o esboço biográfico Brasileiros ilustres (perfis contemporâneos); a história ligeira O Manoel de Soiza; a novela A filha do miserável; a opereta Palomita; os discursos A questão do abade; a conferência As regiões de terra e água; os apontamentos gramaticais A linguagem dos Cocamas; a novela naturalista O parteiro; a crítica Dentistas e “dentistas”; e o romance histórico Um marinheiro do século XV. Ainda aparecem como de sua autoria Brasileiros célebres; Um conto do sertão; Excursões; e Clínica odontológica. Especificamente no que tange à literatura de viagem, o autor publicou as impressões de seu itinerário na Europa no livro Do Tejo a Paris, de 1894 e o relato Através da Europa e da África (viagens), de 1901. Já no que tange às suas permanências e deslocamentos no Brasil, escreveu os livros Viagem ao centro do Brasil (impressões), editado em Lisboa, no ano de 1886; Viagem às terras goianas (Brasil central), publicado igualmente em Lisboa, em 1892; Contos do meu tempo, levado à publicidade na cidade do Recife, no ano de 1893, trazendo textos em prosa e verso, além de um segmento voltado às excursões; e Viagem a um país de selvagens, publicado em prelos lisbonenses, em 1895. Além disso, publicou O Amazonas, conferência realizada na Sociedade de Geografia de Lisboa em novembro de 1894 e editada no mesmo ano.

Ao longo de seus itinerários e permanências, estabeleceu contato com vários representantes do mundo intelectual, mormente no contexto luso-brasileiro. A partir de sua obra e reconhecimento, militou junto a várias instituições acadêmico-culturais, compondo os quadros da Sociedade Espanhola de História Natural, da Sociedade de Geografia de Madri, da Sociedade de Geografia de Nova York, da Sociedade de Geografia de Lisboa, da Sociedade de Geografia do Rio de Janeiro, da Sociedade Espanhola de História Natural, do Instituto Histórico e Geográfico de São Paulo, do Instituto Geográfico e Histórico da Bahia, da Arcádia Americana do Pará, do Grêmio Literário da Bahia, da Academia Literária do Real Instituto de Lisboa e da Sociedade dos Homens de Letras do Porto. Além dos livros, também teve destacado papel como editor e colaborador junto à imprensa periódica, meio pelo qual também divulgou suas impressões de viagem. Atuou como editor de periódicos, como foi o caso do Dentista, publicado em Goiás e Uberaba; da Tesoura, na Bahia; do Bragantino, no Pará; do Boêmio, em São Paulo; do Correio dos Clubes e do Popular, no Rio de Janeiro; da Antessala, em Lisboa; do Viajante, em Corumbá; e do Tributo às Letras, em Cuiabá Também esteve à frente da revista ilustrada noticiosa, crítica, literária, biográfica e bibliográfica A Madrugada, editada em Lisboa, entre 1894 e 1896, e dirigiu a Revista de Lisboa, entre 1901 e 1908.

A realização de viagens foi uma prática constante na existência de Oscar Leal, tendo percorrido várias regiões portuguesas, brasileiras e africanas, e visitado Paraguai, Bolívia, Argentina, Uruguai, França, Espanha, Itália, Suíça e Inglaterra. Seus mais extensos e duradouros itinerários, e consequente produção intelectual voltada à literatura de viagem, foram realizados no interior do Brasil, que praticamente atravessou de Norte a Sul, concentrando suas excursões nas selvas e rincões do norte e centro-oeste.

A literatura de viagem que elaborou, ainda mais a realizada sobre o Brasil, foi fortemente orientada por alguns pressupostos norteadores de seu pensamento, como o cientificismo, o republicanismo, o abolicionismo e o anticlericalismo, revelando nesses três últimos pressupostos um significativo antagonismo para com alguns dos pilares do Império brasileiro, regime predominante durante a maior parte de suas viagens. Além disso, ele foi um leitor contumaz dos relatos de viagens acerca do Brasil, empreendidos desde o século XVI e mesmo entre os seus contemporâneos dos Oitocentos, chegando a corresponder-se com alguns deles. Ao lançar um olhar civilizatório sobre o Brasil, Leal repetiu e reforçou várias das visões que vinham se construindo ao longo desse largo período de tempo em meio às narrativas de viagem. Uma das mais fundamentais foi a de imputar aos brasileiros adjetivações vinculadas à malemolência, indolência, inércia, inépcia, além de desmotivação e/ou incapacidade para o trabalho, como fatores que estariam atravancando o desenvolvimento e o progresso do país em direção à civilização, tão almejada pelo autor.

 Francisco das Neves Alves

 

Para saber mais:

ALVES, Francisco das Neves. Literatura de viagem: um país de selvagens na óptica de um escritor luso-brasileiro (Oscar Leal, 1886-1895). Lisboa: CLEPUL; Rio Grande: Biblioteca Rio-Grandense, 2020.
______. Digressões literárias: os Contos do meu tempo de Oscar Leal. Lisboa: CLEPUL; Rio Grande: Biblioteca Rio-Grandense, 2020.
______. O viageiro jornalista: Oscar Leal e a imprensa periódica (fragmentos). Lisboa: CLEPUL; Rio Grande: Biblioteca Rio-Grandense, 2020.
______. Viajor, conferencista e estudioso: o “naturalista” Oscar Leal. Lisboa: CLEPUL; Rio Grande: Biblioteca Rio-Grandense, 2020.
______. O viajante sob o crivo do jornalismo: apreciações acerca da obra de Oscar Leal. Lisboa: CLEPUL; Rio Grande: Biblioteca Rio-Grandense, 2020.
______. Impressões de viagem: estudos de caso sobre Oscar Leal. Lisboa: CLEPUL; Rio Grande: Biblioteca Rio-Grandense, 2020.
BLAKE, Augusto Victorino Alves Sacramento. Dicionário bibliográfico brasileiro. v. 6. Rio de Janeiro: Imprensa Nacional, 1899, 1900.
PEREIRA, Esteves; RODRIGUES, Guilherme. Portugal – dicionário histórico, corográfico, biográfico, bibliográfico, heráldico, numismático e artístico. v. 4. Lisboa: João Romano Torres & Cia. Editores, 1909..
SILVA, Inocêncio Francisco da. Dicionário bibliográfico português. t. 17. Lisboa: Imprensa Nacional, 1894.