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A imprensa literária no Rio Grande do Sul do século XIX

 

A imprensa teve papel fundamental na formação literária do Rio Grande do Sul, face às dificuldades relativas à confecção e divulgação de livros no século XIX. A difusão da literatura, desta maneira, encontrou guarida nas páginas periódicas, seja em jornais, revistas e almanaques exclusivamente dedicados à divulgação cultural, seja em órgãos noticiosos.

O jornalismo no Rio Grande do Sul inicia-se com o Diário de Porto Alegre, que dura um ano, de junho de 1827 a junho de 1828. O primeiro jornal do interior, O Noticiador (1832-1836), da cidade de Rio Grande, mesclava o teor político-econômico com o assunto literário, sob a direção de Francisco Xavier Ferreira. No decênio farroupilha, espocam vários jornais, contra e a favor da revolução, com destaque para O Povo (1838-1840), órgão oficial de divulgação da República Rio-Grandense, com sede primeiro em Piratini, depois em Caçapava do Sul. Na segunda metade do século XIX, dois jornais da Capital polarizam o cenário, A Reforma (1869-1912), baluarte do Partido Liberal e da causa monárquica, e A Federação (1884-1937), porta-voz do Partido Republicano Rio-Grandense. No fecho do século, surge em 1º de outubro de 1895, e circulando até hoje, o Correio do Povo, de Porto Alegre, combatendo o partidarismo extremado e buscando uma postura mais branda e neutra, politicamente falando.

Entre os especificamente literários, pode-se começar com A Rosa Brasileira (1851), de Rio Grande, que, sem inclinação noticiosa, apresentava-se como periódico de instrução e recreio, podendo ser considerada, assim, a primeira revista sul-rio-grandense de pendor literário. De propriedade de Cândido Augusto de Melo, circulou ao longo de três números (1º de março, 30 de março e 13 de abril), publicando poemas e crônicas, muitos deles assinados pelo pernambucano Joaquim Lopes da Costa Albuquerque. A pequena duração explica-se pela acusação de plágio que Albuquerque recebeu, o que precipitou o fim do periódico. Cândido de Melo logo tomou outros rumos, editando o jornal A Imprensa (abril a outubro de 1851) ainda em Rio Grande, para logo a seguir transferir a sua tipografia para a vizinha Pelotas, onde editaria o primeiro jornal da cidade, O Pelotense (1851-1855).

Tendo em vista a experiência frustrada de A Rosa Brasileira, com o decorrente descrédito e ostracismo, a crítica unanimemente aponta O Guaíba como o primeiro periódico literário da então Província. Sendo editor responsável e principal redator Carlos Jansen, circulou semanalmente em Porto Alegre, de 3 de agosto de 1856 a 26 de dezembro de 1858, estampando poemas, contos, novelas, crônicas, charadas e artigos de cunho diverso. Na produção poética, a mais abundante, destaque para os nomes de Rita Barém de Melo, Félix da Cunha, João Vespúcio de Abreu e Silva, Eudoro Berlink e Maria Clemência da Silveira Sampaio, em composições que tratam, em sua maioria, de questões relacionadas ao amor, à desilusão, à morte, à infância e ao nacionalismo, distantes, portanto, dos assuntos regionais.

Em Porto Alegre, na década de 1860, marcam época O Diógenes (1863-1864) e Atualidade (1867), que trazem em suas fileiras nomes de destaque na imprensa literária, como Inácio de Vasconcelos Ferreira, chefe de redação do primeiro, e Apolinário Porto Alegre, José Bernardino dos Santos, Aurélio Veríssimo de Bittencourt, Hilário Ribeiro e Rita Barém de Melo, colaboradores frequentes do segundo. Já em Rio Grande, vale a pena ressaltar o surgimento da Arcádia, que somou, entre 1867 e 1870, quatro séries (parte da 4ª série foi publicada em Pelotas), e da Inúbia, empreendimento que durou de março a novembro de 1868, fruto da iniciativa de empregados do Artista (1862-1912), jornal diário da cidade rio-grandina. Um destaque da Arcádia, cujo responsável era Antônio Joaquim Dias, português imigrado para o Rio Grande do Sul, é a publicação dos primeiros poemas regionalistas de nossa literatura, em 1869, casos de “Canto do campeiro”, de Apolinário Porto Alegre, e “Rio Grande do Sul”, de Bernardo Taveira Júnior:

 Canto do campeiro

Avante, ginete
Dos campos do sul!
Quem pode contigo,
Que, afeito ao perigo,
A sanha do imigo
Não temes, taful?
(Arcádia, Rio Grande, 4ª série, n. 5, p. 38, 1869)

 Rio Grande do Sul

Altiva amazona
Das plagas do Sul –
Mimosa safira,
Num límpido azul –
(Arcádia, Rio Grande, 4ª série, n. 8, p. 62, 1869)

 Na sequência, tem-se a Sociedade Partenon Literário (1868-1886), agremiação fulcral na formação do sistema literário da Província, por ser a mantenedora da Revista Mensal (1869-1879), introdutora do Romantismo e do Regionalismo no Rio Grande do Sul. O grande nome da revista, sem dúvida, era o de Apolinário Porto Alegre, mentor da agremiação, tendo como parceiros Aquiles Porto Alegre, Apeles Porto Alegre, José Antônio do Vale Caldre e Fião, José Bernardino dos Santos, Bernardo Taveira Júnior, Vítor Valpírio, Luciana de Abreu e Amália dos Passos Figueiroa. Afora as manifestações literárias, o Partenon Literário destacou-se de todas as congêneres do século XIX também pela atividade social, por meio de ações como a discussão da emancipação feminina, a defesa antiescravocrata e republicana, a manutenção de uma biblioteca, a criação de um museu de ciências naturais, o oferecimento de aulas noturnas e a realização de saraus artísticos.

O próximo periódico a surgir no horizonte é Murmúrios do Guaíba, revista que circulou por seis números, de janeiro a junho de 1870, sob a direção de José Bernardino dos Santos, em edições caprichadas que traziam a inserção de propagandas, uma novidade para a época. Na seara literária, destaque para a peça de teatro “Frei Cristóvão de Mendonça: episódios históricos das Missões do Uruguai” e “A douda: romance original rio-grandense” (incompleto), ambos de Bernardino dos Santos, e “Parecer do Sr. Apolinário Porto Alegre, membro da Comissão de Crítica da Associação Partenon Literário, sobre o romance A douda, do Sr. José Bernardino dos Santos” e “O monarca das coxilhas: conto rio-grandense”, os dois de Apolinário. Este último, publicado originalmente nos números 4 e 5 da revista, e depois, com algumas modificações, no livro de contos Paisagens, é um dos textos modelares do regionalismo sul-rio-grandense do século XIX. A narrativa curta mostra, de forma bem-humorada, a oposição que existe entre os mundos rural e urbano, por meio da inadaptação do Sr. Oliveira, comerciante português radicado em Rio Grande, ao campo, e do “monarca” Sancho Escafuza, morador da região das Missões, aos costumes e leis da cidade rio-grandina, para onde vai com a intenção de resolver problemas relativos aos negócios da família.

Eram comuns na época os jornais satíricos e caricaturais. Entre os primeiros, o porto-alegrense O Mosquito (1874), com o subtítulo “Periódico Joco-Sério”, reunindo nomes relevantes da cena literária: Damasceno Vieira, Silvino Vidal, Múcio Teixeira, Artur Rocha; entre os segundos, A Sentinela do Sul (1867-1869) e O Guarani (1874), de Porto Alegre, e O Diabrete (1875-1881) e Bisturi (1888-1915), de Rio Grande, esses dois com a colaboração do caricaturista Thadio Alves de Amorim, famoso na cidade pelos seus desenhos. Na sequência, quatro outras revistas contribuem com as letras sulinas: Ensaios Literários (1875-1877), órgão da sociedade de igual nome, de Porto Alegre, com vários partenonistas, como Damasceno Vieira, Aurélio Veríssimo de Bittencourt, Argemiro Galvão, Lobo Barreto, José de Sá Brito e Silvino Vidal; igualmente da Capital era o Álbum de Domingo (1878-1879), que trazia a colaboração de nomes com inegável prestígio, como Apolinário, Carlos von Koseritz, Carlos Jansen, Múcio Teixeira, Fontoura Xavier e Sarmento Mena; além de Tribuna Literária (janeiro a abril de 1882), de Pelotas, e Arauto das Letras (agosto de 1882 a junho de 1883), de Rio Grande, que comungavam formatos e propostas semelhantes, a partir da reunião de literatos importantes da região Sul da Província: Lobo da Costa, Paulo Marques, Francisco de Paula Pires, Laranja Filho, Otaviano Melo, Eduardo Lobo, Cândida Abreu, Luísa Cavalcanti Filha, Tercília Nunes Lobo, Revocata Heloísa de Melo e Julieta de Melo Monteiro.

No último quartel do século XIX, as irmãs Revocata e Julieta, escritoras e jornalistas, foram proprietárias de dois periódicos em Rio Grande: Violeta (1878-1879) e Corimbo (1883-1944). Este último ressalta-se pela duração, longevos sessenta anos, com uma periodicidade que variou entre o semanal, o quinzenal e o mensal. Representante da pequena imprensa, a folha deu guarida a muitos poetas que encontravam ali a única maneira de publicarem as suas composições, sendo que também destinava espaço prioritário à produção e à discussão das questões relacionadas às mulheres, tornando-se, por isso mesmo, uma das mais importantes revistas femininas do Brasil.

Por fim, devem ser lembrados três almanaques, em cujas páginas encontram-se, em profusão, material literário, embora o escopo das publicações fosse mais amplo. São eles: o Anuário da Província do Rio Grande do Sul (depois renomeado Anuário do Estado..., 30 edições, de 1885 a 1914), de Porto Alegre, dirigido até 1909 por Graciano Alves de Azambuja, e depois por Alcides Cruz; o Almanaque Literário e Estatístico do Rio Grande do Sul (29 edições, de 1889 a 1917), de Rio Grande, coordenado por Alfredo Ferreira Rodrigues; e o Almanaque Popular Brasileiro (15 edições, de 1894 a 1908), de Pelotas, editado por Alberto Ferreira Rodrigues, irmão de Alfredo. Os três chegaram a circular simultaneamente entre o final do século XIX e o começo do século XX, o que indicia, naquele momento, a popularidade do formato.

 Mauro Nicola Póvoas

 

Para saber mais:

ALVES, Francisco das Neves; PÓVOAS, Mauro Nicola. Periodismo e literatura no Rio Grande do Sul do século XIX. Lisboa: Cátedra Infante Dom Henrique para os Estudos Insulares Atlânticos e a Globalização; Rio Grande: Biblioteca Rio-Grandense, 2018.
ALVES, Francisco das Neves. De crayon à mão: a arte caricatural de Thadio Alves de Amorim. Rio Grande: Biblioteca Rio-Grandense, 2016.
______. A pequena imprensa rio-grandina no século XIX. Rio Grande: Ed. da FURG, 1999.
BAUMGARTEN, Carlos Alexandre. Literatura e crítica na imprensa do Rio Grande do Sul: 1868-1880. Porto Alegre: EST, 1982.
CESAR, Guilhermino. História da literatura do Rio Grande do Sul. Porto Alegre: Globo, 1971.
FERREIRA, Athos Damasceno. Imprensa literária de Porto Alegre no século XIX. Porto Alegre: Ed. da UFRGS, 1975.
______. Imprensa caricata do Rio Grande do Sul no século XIX. Porto Alegre: Globo, 1962.
HESSEL, Lothar F. et al. O Partenon Literário e sua obra. Porto Alegre: Flama; IEL, 1976.
PÓVOAS, Mauro Nicola. Uma história da literatura: periódicos, memória e sistema literário no Rio Grande do Sul do século XIX. Porto Alegre: Buqui, 2017.
SILVA, Jandira M. M. da; CLEMENTE; Ir. Elvo; BARBOSA, Eni. Breve histórico da imprensa sul-rio-grandense. Porto Alegre: CORAG, 1986.
VIANNA, Lourival. Imprensa gaúcha: 1827-1852. Porto Alegre: Museu de Comunicação Social Hipólito José da Costa, 1977.

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Tópico(s): periódico
Assunto: I