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Ilustração Popular

Capa de uma edição da Ilustração Popular

A Ilustração Popular foi um periódico lançado por Charles Francis de Vivaldi e Corina de Vivaldi – após o casamento, em 1880, passou a ser conhecida como Corina Coaracy – em 1876. Infelizmente, a folha teve duração efêmera, até 1877, circulando em menos de um ano; entretanto, foi uma revista de grande importância para a época devido à sua proposta instrutiva e à estratégia econômica. Foi uma das revistas mais baratas que circulou no Rio de Janeiro naquele momento e, segundo o programa, foi um periódico “acessível a todas as classes sociais”. A revista fora lançada após o suposto sucesso da Ilustração do Brasil, uma versão mais cara e mais robusta da Popular. Em ambas as versões, o editor Vivaldi e sua filha tinham como intuito divulgar e propagar conhecimentos úteis. Enquanto a Ilustração do Brasil difundiu conhecimentos científicos e técnicos por meio de seu conteúdo imagético e textual, a versão menor ficou a cargo de anunciar os problemas dos hábitos e comportamentos dos brasileiros.

O fato é que só foi possível lançar uma revista ilustrada de baixo custo de produção devido à importação dos clichês imagéticos do exterior. As imagens publicadas na Ilustração Popular já haviam sido também publicadas na L’Illustrazione Italiana, o que, provavelmente, leva-se a supor que Vivaldi tenha fechado contrato para adquirir as chapas com as gravuras, por um preço módico, uma vez que as estampas já haviam circulado na imprensa internacional. Essas revistas ilustradas, consideradas “universais” por terem uma diversidade de conteúdos imagéticos e textuais, trazem consigo também o discurso civilizador e de consolidação do Estado-Nação. Foram frutos, portanto, da ideologia dos oitocentos, de difundir as luzes, o conhecimento, hábitos e comportamentos que achavam adequados para um país atingir o grau máximo de civilização, em um Estado-Nação forte e bem-estruturado.

Na Ilustração Popular publicou-se um conteúdo intensamente doutrinador da cultura e dos ideais norte-americanos, sendo os Estados Unidos um país modelo de nação. Os comportamentos e hábitos da Europa, principalmente os franceses, foram alvo de crítica. O modelo de homem cidadão era o branco, pertencente à classe social média urbana ou à elite. O papel da mulher na sociedade também foi muito comentado, principalmente por Corina de Vivaldi, que admitiu que à mulher fossem dados trabalhos que a elevavam como ser cuidadora do lar. Se se interessava pela leitura e escrita, o motivo era devido a estas atividades servirem como formadora para a educação dos filhos e como aconselhadora do marido. Mas a profissionalização da mulher, como médica ou advogada, era banida pela escritora. Foi possível verificar no conteúdo da Ilustração Popular que havia certa defesa em relação à emancipação da mulher, principalmente para ocupar espaços públicos, como a própria imprensa, que já estava sendo ocupada por Corina de Vivaldi, porém essa defesa apresentava-se enviesada ainda por um certo conservadorismo. A mulher constituía um ser frágil e responsável pelo lar e pela família, segundo os editores.

A Ilustração Popular, portanto, foi um empreendimento audacioso realizado por Charles de Vivaldi, uma vez que a proposta era difundir uma revista mais barata, diferente das grandes revistas luxuosas que circulavam pelo Brasil e no exterior. E por estar inserida num mercado de impressos inseguro, como era o brasileiro, o risco da empreitada era ainda maior. Tais constatações explicariam por que a revista foi tão efêmera, durando menos de um ano completo.

Helen de Oliveira Silva

Para saber mais:

ANDRADE, Joaquim Marçal Ferreira de. História da fotorreportagem no Brasil: a fotografia na imprensa do Rio de Janeiro de 1839 a 1900. Rio de Janeiro: Elsevier, 2004.
AZEVEDO, Silvia Maria. O Brasil em imagens: um estudo da revista Ilustração Brasileira (1876-1878). São Paulo: Ed. da UNESP, 2010.
COARACY, Vivaldi. Todos contam sua vida: memórias de infância e adolescência. Rio de Janeiro: José Olympio, 1959.
SILVA, Helen de Oliveira. A trajetória de Corina de Vivaldi na imprensa brasileira entre 1874 e 1880. História e Cultura, Franca, v. 8, n. 1, 2019.

SILVA, Helen de Oliveira. Instruir, moralizar e civilizar: nação e sociedade nas Ilustração do Brasil (RJ, 1876-1880) e Ilustração Popular (RJ, 1876-1877). Dissertação (Mestrado em História) – Faculdade de Ciências e Letras de Assis, Universidade Estadual Paulista, Assis, 2020.

Sobre o periódico:

A Ilustração Popular pode ser consultada nos microfilmes do acervo do Centro de Documentação e Apoio à Pesquisa (CEDAP) da Unesp de Assis e da Biblioteca Nacional.

Publicação do verbete: mar. 2025.