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Josué Guimarães

Josué Marques Guimarães nasceu em São Jerônimo/RS, cidade conhecida por suas minas de carvão, no dia 7 de janeiro de 1921. Antes de completar um ano, sua família mudou-se para a cidade de Rosário do Sul, próxima à fronteira com o Uruguai, onde seu pai iria trabalhar como telegrafista e sua mãe como auxiliar de telegrafista. Posteriormente seu pai irá se tornar pastor leigo na Igreja Episcopal Brasileira, igreja de orientação protestante.

Com o acontecimento da Revolução de 1930, seu pai terá de se exilar em Rivera, cidade do Uruguai que faz fronteira com a cidade brasileira de Quaraí. Sozinha, sua mãe chega a ser ameaçada de agressões. Quando volta para Rosário do Sul, seu pai ficará detido na prisão por um tempo. Com sua liberação, sua família se muda para Porto Alegre, onde Josué Guimarães terminará os estudos primários. Irá completar o curso secundário no Ginásio Cru­zeiro do Sul, mesma escola onde estudou Erico Verissimo. Este escritor já estava se tornando conhecido em 1933 e havia um retrato seu na escola. O fato de estudar na mesma escola que Erico foi motivo de orgulho para o jovem Josué Guimarães.

 Em 1934, irá fundar o Grêmio Literário Humberto de Campos, trabalhando na redação do jornal escolar e contribuindo com cinco ou seis artigos por edição. Irá escrever também algumas peças teatrais, que seriam encenadas nas festas de final de ano da escola.        Antes de completar vinte anos de idade, se muda em 1939 para o Rio de Janeiro onde irá iniciar carreira de jornalista. Lá irá trabalhar como redator da Ilustração Brasileira e ilustrador na revista ilustrada O Malho. Em 1940, aos dezenove anos de idade, casa-se com Zilda Marques, com quem teria quatro filhos: Marília, Elaine, Jaime e Sônia. Por ser casado, foi recusado como voluntário na Força Expedicionária Brasileira (FEB), para lutar na Segunda Guerra Mundial.

Em 1942, funda em Porto Alegre uma revista de rádio, intitulada “Ondas sonoras”. Também na cidade, irá retomar seu trabalho como jornalista em 1944, no Diário de Notícias. Nesse jornal será também repórter, colunista, comentarista, editor, analista político, correspondente internacional, secretário de redação e diretor. Com o pseudônimo de Dom Xicote, manteve no Diário de Notícias uma coluna em que fazia agudos comentários políticos, que vinham acompanhados de uma caricatura feita pelo próprio Josué. Essa coluna seria posteriormente retomada no jornal A Hora. Em 1945, integra o grupo de teatro da Rádio Farroupilha. Em 1948, deixa o Diário de Notícias para se tornar repórter exclusivo da revista O Cruzeiro, viajando pelo Rio Grande do Sul, Santa Catarina, Paraná, Uruguai e Argentina. Em 1949, colabora na revista Quixote n. 4, com a crônica "Sangue e pó de arroz". Nesse período irá produzir, às próprias custas, um periódico de sátira política, intitulado D. Xicote.

Em 1951, foi eleito vereador de Porto Alegre pelo Partido Trabalhista Brasileiro (PTB), ocupando a vice-presidência da Câmara, durante o governo Ernesto Dorneles. No exercício de seu cargo, foi chefe de gabinete do então deputado federal João Goulart, trabalhando na Secretaria do Interior e Justiça do Rio Grande do Sul. Sua atuação como vereador não impediu que exercesse o jornalismo, sendo que a partir de 1952 passa a assinar a coluna “Ronda dos jornais”, no semanário carioca FLAN. No ano seguinte, como correspondente especial do jornal Última Hora, do Rio de Janeiro, fez parte da primeira delegação de jornalistas brasileiros a visitar a União Soviética e a China. Esta última apenas alguns anos havia se tornado comunista. Essas experiências seriam registradas no livro As muralhas de Jericó, em que se compilam os artigos feitos nessas viagens de Josué Guimarães na década de 1950

Em 1954, passa a produzir para o jornal Folha da Tarde, lançando uma coluna que assinava com o pseudônimo D. Camilo. Ao longo desse mesmo ano, irá escrever a coluna “Um dia depois do outro”, que será publicado no jornal Última Hora. Pouco tempo depois passa a exercer as funções de subsecretário do jornal A Hora, onde irá transformar o jornalismo gaúcho, ao lado do então diagramador Xico Stockinger. Em 1956, irá trabalhar como redator na Agência MPM Propaganda, em que posteriormente trabalhariam também Barbosa Lessa e Luis Fernando Verissimo. No ano seguinte será chamado, por Assis Chateaubriand, para auxiliar na reformulação do jornal carioca Diário da Noite, trabalhando no conjunto de periódicos do grupo Diários Associados.

Em 1960, funda sua própria agência de propaganda, que fechará um ano depois para que Josué Guimarães possa assumir a direção da Agência Nacional, durante a presidência de João Goulart. Nessa importante instituição, que hoje se chama Empresa Brasileira de Notícias, permaneceu até 1964. Nesse período, em momentos de recolhimento, aproveita para escrever contos e crônicas. Ainda em 1960, Josué Guimarães será premiado no II Concurso de Contos do Estado do Paraná, na época um dos mais importantes prêmios literários no Brasil. Será premiado pelos contos “João do Rosário”, “Mãos sujas de terra” e “O princípio e o fim”, que posteriormente irão integrar o livro Os ladrões. Em 1962, participa de uma antologia de contos publicada pelo Instituto Estadual de Letras (IEL) – Nove do Sul.

Com o golpe militar de 1964, Josué Guimarães tornar-se indivíduo suspeito por seu vínculo de amizade com o presidente deposto, João Goulart, assim como por suas viagens à União Soviética e à China continental. Irá optar por não se tornar exilado da ditadura e passa a viver na clandestinidade. Abandona seu cargo no Tribunal de Contas no Rio Grande do Sul, com medo de que sua presença no local o fizesse vulnerável a uma detenção.

Perseguido, irá se afastar do jornalismo e se refugiar em Santos, no estado de São Paulo. É na clandestinidade que passa a se dedicar com mais afinco a sua produção literária, feita sob pseudônimo Jericó. Trabalha dezesseis publicações diferentes, assim como oferece consultoria para empresas privadas nas áreas comercial e publicitária. Disfarçado com a alcunha de Samuel Ortiz, chega a abrir uma livraria em Santos. Entre 1969 e 1971, terá de se defender de inquéritos movimentos pela ditadura militar, conseguindo provar sua inocência e extinguir os processos.

Sem a ameaça iminente de prisão, também nesse ano Josué Guimarães passa a colaborar com artigos de crítica política no jornal Pato Macho, de Porto Alegre. Mantém também, no porto-alegrense Zero Hora, as colunas “Seção de livros” e “A volta ao mundo”, essa última sob o pseudônimo de Phileas Fogg.

Apenas com 49 anos de idade é que o nome de Josué Guimarães passa gradualmente a ser associado à sua carreira de escritor de ficção. Em 1970, publica o livro de contos Os ladrões (Rio de Janeiro: Fórum Editora), no qual se incluíam seus três contos premiados. Em 1972, publica o primeiro volume de A ferro e fogo: tempo de solidão (Rio de Janeiro: Editora Sabiá; José Olympio), muito bem recebido pela crítica. No ano seguinte, publica Depois do último trem, também editado pela José Olympio, em que é possível notar a influência do realismo mágico latino-americano.

De 1974 a 1976, irá trabalhar como jornalista correspondente da empresa jornalística Caldas Júnior, que edita o Correio do Povo. É assim que Josué Guimarães irá viajar para Portugal e África, onde acompanha a Revolução dos Cravos e as lutas por independência das colônias portuguesas. Os artigos que produz nessa época registram seu testemunho desses acontecimentos históricos. Ainda vivendo em Lisboa, lançará em 1976 o jornal de humor gráfico Chaimite. Nesse ano o escritor se desvincula das suas funções Empresa Jornalística Caldas Júnior e retorna para o Brasil.

Enquanto isso, no Brasil haviam sido publicados em 1975 a coletânea de artigos nomeada Lisboa urgente, editada pela Editora Civilização Brasileira. Também em 1975 havia sido publicado o segundo volume da trilogia A ferro e fogo: tempo de guerra, pela Editora José Olympio. Também nesse ano, o escritor será agraciado com o 1º Prêmio Erico Verissimo de Romance, promovido pela Editora Globo. O prêmio será relativo a seu quarto romance, Tambores silenciosos, que será então lançado em 1977, pela mesma editora que outorgou a homenagem.

De volta ao Rio Grande do Sul, no final de 1976, implanta e dirige uma sucursal da Folha de S. Paulo na cidade de Porto Alegre, onde também colabora como comentarista político dos acontecimentos na região Sul. No contexto de reabertura política, começa a escrever na “Página Dois” da Folha de S. Paulo, colaborando também com artigos, reportagens e textos de ficção.

Em 1977, o escritor irá publicar seu quinto romance, intitulado É tarde para saber, editado pela L&PM (sediada em Porto Alegre). Em 1978, Josué Guimarães irá publicar o romance Dona Anja, e as novelas Pega pra kapput! (junto a Moacyr Scliar, Luis Fernando Verissimo e Edgar Vasques) e Enquanto a noite não chega, ambas editadas pela L&PM. Também em 1978 publicará uma longa reportagem feita com a presa política Flávia Schilling, brasileira encarcerada pela ditadura do Uruguai desde 1972, por haver lutado no Movimento de Libertação Nacional (grupo conhecido como Tupamaros). Em 1979, publicará pela Editora Globo seu livro de contos O cavalo cego.

Em 1980, Josué Guimarães publica pela editora L&PM um de seus mais célebres livros de ficção, Camilo Mortágua. No ano de 1981, Josué Guimarães se divorcia de Zilda Marques e se casa com Nídia Moojen Machado, união da qual nascem os filhos Rodrigo e Adriana. Nesse mesmo ano, seu romance Dona Anja será traduzido para o Espanhol e publicado no México como Doña Angela, pela Edivisión Compañía Editorial S. A. Em 1982, lançará o romance Um corpo estranho entre nós dois, que se será exibida como uma peça de teatro em três atos, assim como outro livro de contos, de nome O gato no escuro, ambos pela L&PM.

No dia 23 de março de 1986, Josué Guimarães vem a falecer, em Porto Alegre, com 65 anos, vítima de um câncer intestinal. Na ocasião será homenageado em uma sessão solene na Câmara Municipal de Porto Alegre, por iniciativa do vereador Isaac Ainhorn. Postumamente, haveria ainda duas publicações de inéditos, a novela Amor de perdição e o infantil A última bruxa, ambos lançados em 1986 pela L&PM.

Jonas Kunzler Moreira Dornelles

Para saber mais:

ANDRETTA, Luana Maria. O pó da memória: acervo literário de Josué Guimarães e patrimônio cultural”. LaborHistórico, Rio de Janeiro, v. 6, n. 1, p. 272-287, jan./abr. 2020.
AUTORES GAÚCHOS 15. Josué Guimarães. Porto Alegre: Instituto Estadual do Livro, 1988.
GOMES, Celina Oliveira Barbosa; SILVA, Vicentônio Regis do Nascimento. Josué Guimarães nas trincheiras femininas. Londrina: EDUEL, 2019. 
MOURA, Vanessa dos Santos. Josué Guimarães: uma análise de sua trajetória político-intelectual e de sua produção literária ficcional. Dissertação (Mestrado em História). Universidade Federal do Rio Grande do Sul, Instituto de Filosofia e Ciências Humanas, Porto Alegre, 2011.
REMÉDIOS, Maria Luiza Ritzel (Org.). Josué Guimarães: o autor e sua ficção. Porto Alegre: EDIPUCRS; Ed. da Universidade/UFRGS, 1997.
RETTENMAIER, Miguel; REMÉDIOS, Maria Luíza Ritzel. Josué Guimarães, um revisor da História. Desenredo – Revista do Programa de Pós-Graduação em Letras da Universidade de Passo Fundo, v. 2, n. 1, p. 117-126, jan./jun. 2006.
 

Sobre o autor:

 A Universidade de Passo Fundo (UPF) mantém o Acervo Literário Josué Guimarães (ALJOG), onde podem ser encontradas diversas informações sobre o autor: https://www.upf.br/aljog/.

 

Referências bibliográficas da obra do autor:

Os ladrões (contos). Rio de Janeiro: Fórum, 1970.
A ferro e fogo, I: tempo de solidão (romance). Rio de Janeiro: Sabiá, 1972.
Depois do último trem (romance). Rio de Janeiro: José Olympio; Sabiá, 1973.
A ferro e fogo, II: tempo de guerra (romance). Rio de Janeiro: José Olympio, 1975.
Lisboa urgente (coletânea de artigos). Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, Coleção Documentos da História Contemporânea, 1975.
É tarde para saber (romance). Porto Alegre: L&PM, 1977.
Os tambores silenciosos (romance). Porto Alegre: Globo, 1977.
Dona Anja (romance). Porto Alegre: L&PM, 1978.
Pega pra kapput! (novela, com Moacyr Scliar, Luis Fernando Verissimo e Edgar Vasques). Porto Alegre: L&PM, 1978.
Enquanto a noite não chega (novela). Porto Alegre: L&PM, 1978.
O cavalo cego (contos). Porto Alegre: Globo, 1979.
A casa das quatro luas (infantil). Porto Alegre: L&PM, 1979.
Camilo Mortágua (romance). Porto Alegre: L&PM, 1980.
Era uma vez um reino encantado (infantil). Porto Alegre: L&PM, 1980.
A onça que perdeu as pintas (infantil). Rio de Janeiro: Salamandra, 1981.
Doña Angela (romance). México; Edivisión Compañía Editorial S. A. (tradução Stela Mastrangelo), 1981.
Xerloque da Silva em “O rapto da Dorotéia” (infantil). Porto Alegre: L&PM, 1982.
O gato no escuro (contos). Porto Alegre: L&PM, 1982.
Meu primeiro dragão (infantil). Porto Alegre: L&PM, 1983.
Xerloque da Silva em “Os ladrões da meia-noite” (infantil). Porto Alegre: L&PM, 1983.
Um corpo estranho entre nós dois (teatro – peça em três atos). Porto Alegre: L&PM, 1983.
História do agricultor que fazia milagres (infantil). São Paulo: Nacional, 1984.
O avião que não sabia voar (infantil). São Paulo: Nacional, 1984.
Amor de perdição (novela). Porto Alegre: L&PM, 1986.
A última bruxa (infantil). Porto Alegre: L&PM, 1987.

As muralhas de Jericó (relato de viagem). Porto Alegre: L&PM, 2001.

Publicação do verbete: mar. 2025.