Primeira página do n. 1 da revista, de 15 out. 1897.
Publicada em São Paulo, entre 1897 e 1900, a revista A Mensageira, como consta em sua capa, era direcionada à mulher brasileira. Presciliana Duarte de Almeida, diretora do periódico, conseguiu reunir uma plêiade de colaboradoras, entre as mais expressivas escritoras brasileiras do final do século XIX, tais como Júlia Lopes de Almeida, Júlia Cortines, Maria da Clara da Cunha Campos, Julieta de Melo Monteiro, além de participações eventuais de Guiomar Torrezão e Maria Amélia Vaz de Carvalho, de Portugal, e também de algumas francesas, entre elas, Mme. Blanche Xavier de Carvalho, Mme. Marguerite Durand, Mlle. Saint Croix. A Mensageira, além do Brasil, circulava no Chile e na França, sendo que, nesse país, tinha uma representante oficial, Mme. Blanche Xavier de Carvalho.
A Mensageira diferenciava-se de publicações da época com o mesmo direcionamento, uma vez que não veiculava notícias sobre moda, receitas culinárias, etiqueta, maneiras de cuidar das crianças ou agradar ao marido, consultório sentimental. Primava por literatura, crítica literária, artigos de opinião, cujo objetivo era, além de ilustrar, conscientizar as mulheres de seus direitos, defendendo, especialmente, o acesso à educação e ao universo profissional. A revista não vedava a colaboração masculina, percebendo-se que os colaboradores esposavam o ideário da revista. Pode-se dizer que a publicação tinha um caráter feminista, dentro das possibilidades da época, pois, ainda que defendesse os direitos das mulheres, procurava não polemizar.
O primeiro número da revista circulou em 15 de outubro de 1897, com frequência quinzenal, até 30 de setembro de 1898, sofrendo uma interrupção, a partir dessa data, até 15 de fevereiro de 1899. Essa interrupção deveu-se ao falecimento de Bolívar, filho mais jovem de Presciliana. A partir de então, a revista passou a ser editada mensalmente até seu encerramento definitivo em 15 de janeiro de 1900, perfazendo 36 números. Na verdade, o encerramento foi noticiado como uma suspensão temporária, veiculada na sessão “Notas pequenas”, em que a editora agradece aos colaboradores, editores e assinantes. A revista era mantida pelo sistema de assinaturas, com o custo anual de 12$000 (doze mil-réis) ou o número avulso por 1$000 (um mil-réis), mantendo o mesmo preço durante todo o período de publicação.
O primeiro texto veiculado pela revista, de autoria de Presciliana Duarte de Almeida, intitulado “Duas palavras”, propõe-se levar às leitoras novas ideias, por meio da literatura ou de reflexões. Também apresenta mulheres que se destacam, como é o caso da médica Ermelinda de Sá, ou de escritoras que participarão do periódico, além das já citadas, Adelina Lopes Vieira, Áurea Pires, Auta da Souza, Inês Sabino. Exemplar dos objetivos expostos nesse editorial é o texto de Júlia Lopes de Almeida, o qual enfatiza a necessidade da educação, tanto para que a mulher possa melhor educar seus filhos, quanto para exercer uma profissão remunerada, de grande valia em caso de necessidade. Essa mesma temática é retomada por outras escritoras, inclusive, pela diretora do periódico. Maria Emília, uma colaboradora muito combativa, exorta as mulheres a tomarem a iniciativa do aprimoramento de sua educação, deixando a posição cômoda de tuteladas, tornando-se mulheres fortes e participando das decisões familiares.
A revista aceitava a colaboração masculina. Entre os participantes, destaca-se Sílvio de Almeida, marido de Presciliana, o qual, juntamente com outros escritores, como Xavier de Carvalho ou Nelson de Sena, defende a emancipação feminina de maneira assertiva. Colaboradores também criticam a pretensa inferioridade feminina, os preconceitos e a moral anacrônica; evocam a injustiça do Código Civil, que considera a mulher casada relativamente incapaz, e do Código Penal, que possibilita ao homem fazer justiça com suas próprias mãos em defesa da honra.
O periódico apresentava algumas colunas fixas, destacando-se a “Carta do Rio”, escrita por Maria da Clara da Cunha Santos; também João Vieira de Almeida manteve, durante alguns números a “Crônica onímoda”. Por estarem presentes em todos os números, duas seções devem ser realçadas: “Seleção” e “Notas pequenas”. Em “Seleção”, são transcritas frases importantes, trechos significativos, pequenos artigos sobre a mulher, assinados por autores relevantes. Também constam notícias do mundo artístico, entre outras. Eventualmente, ocorre o registro da correspondência referente à recepção de A Mensageira.
Entre as matérias veiculadas, com origem em outro periódico, destaca-se o artigo reproduzido da Gazeta de Petrópolis, defendendo o sufrágio feminino, aspecto esse criticado por J. Vieira de Almeida e por Xavier de Carvalho. Nenhuma autora manifestou-se a respeito do tema. Outro artigo, originado em O País, refere-se à primeira advogada brasileira, Myrthes de Campos, que pôde atuar no tribunal do júri, com repercussão muito positiva por colaboradoras da revista.
No dia 15 de janeiro de 1900, com uma edição de 24 páginas, oito a mais que os números normais, encerra-se a publicação da revista. Presciliana comunica o fato na seção “Notas pequenas”, na qual agradece aos leitores e colaboradores que prestigiaram a revista durante o período de sua publicação.
Cecil Jeanine Albert Zinani
Para saber mais:
ZINANI, Cecil Jeanine Albert (Org.). Imprensa feminista e literatura: contribuições da revista A Mensageira. Caxias do Sul: EDUCS, 2019.
Sobre o periódico:
Alguns números originais podem ser visualizados na BN Digital: https://bndigital.bn.gov.br/dossies/periodicos-literatura/titulos-impressos-periodicos-literatura/a-mensageira-revista-literaria-dedicada-a-mulher-brazileira/.
Publicação do verbete: jul. 2024.