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Machado de Assis

 

  Machado de Assis, escritor-jornalista   

 Joaquim Maria Machado de Assis, autor maior das letras brasileiras, em trajetória ascendente de reconhecimento mundial, deve ser considerado o maior escritor-jornalista brasileiro do século XIX. Ele nasceu no Rio de Janeiro em 21 de junho de 1839 e ali viveu até 29 de setembro de 1908. Apesar de sempre ter vivido no Rio de Janeiro e de raramente ter deixado essa cidade, o literato estava imerso em uma “civilização do jornal”, que pode ser definida como uma época de grande expansão do jornal e da leitura de periódicos em geral, a qual coincide, em parte do mundo ocidental, com o caráter massivo da produção desses impressos. Naquele tempo, passou também a existir a possiblidade de difundi-los amplamente, além de as grandes transformações sociais, econômicas, políticas e culturais da modernidade terem representado, ao mesmo tempo, causa e consequência de novos ritmos no curso dos dias e dos acontecimentos.

Machado de Assis foi jornalista, contista, cronista, crítico literário, romancista, poeta e teatrólogo. No final do século XIX, empreendeu tarefa de grande importância para a institucionalização das letras no Brasil, pois participou da fundação da Academia Brasileira de Letras em 20 de julho de 1897, tornando-se o primeiro presidente dela (1897-1908). O ano de 1897, aliás, representou um marco de mudança na luta de Machado de Assis em prol da literatura brasileira e das letras em geral. Até então, ele fora incansável colaborador dos periódicos da Corte e publicara grande parte de sua obra nos jornais. No que se refere à ficção, parte dela passou do suporte periódico ao livro.

Entre seus nove romances, apenas quatro não ocuparam as páginas dos periódicos: Ressurreição, 1872; Dom Casmurro, 1899; Esaú e Jacó, 1904; e Memorial de Aires, 1908. Importante observar que, em relação aos três últimos, Machado já abandonara a escrita periódica (sua última crônica da série “A semana” foi publicada na Gazeta de Notícias em 4 de novembro de 1897), tendo ele voltado esporadicamente a esse e a outros periódicos até o ano de sua morte. Os outros cinco romances de Machado de Assis apareceram primeiramente na imprensa fluminense: A mão e a luva foi publicado no jornal O Globo, entre 26 de setembro e 3 de novembro de 1874; Helena, também em O Globo, entre 6 de agosto e 11 de setembro de 1876; Iaiá Garcia apareceu no rodapé do jornal O Cruzeiro, entre 1º de janeiro e 2 de março de 1878; Memórias póstumas de Brás Cubas foi publicado na Revista Brasileira, entre março e dezembro de 1880; Quincas Borba, quando apareceu em livro em 1891, já havia saído na revista A Estação, entre 1886 e 1891, em uma versão diferente.

No que se refere aos contos, a maior parte deles foi publicada primeiramente na imprensa para, mais tarde, a partir de seleção rigorosa, ocupar as páginas dos livros. Na verdade, a maior parte deles jamais abandonou as páginas efêmeras dos periódicos durante a vida de Machado de Assis, como se tivessem sido moldados para os inúmeros jornais e revistas nos quais o escritor colaborou. Dentre os cerca de 200 contos machadianos, 114 ficaram dispersos. Eles foram publicados entre a década de 1850 e os primeiros anos 1900, cronologicamente, em A Marmota, O Futuro, Jornal das Famílias, A Época, A Estação, Gazeta Literária, A Quinzena, Almanaque dos Fluminenses (para o ano de 1890), Almanaque da Gazeta de Notícias, Almanaque Brasileiro Garnier e Revista Brasileira. Esses 114 que permaneceram nos periódicos foram recolhidos mais tarde por pesquisadores da obra machadiana, tendo sido Raimundo Magalhães Júnior o pioneiro da tentativa de publicar os inéditos em livro, visando à completude do conjunto. Eles contrastam com os 76 textos, mais ou menos quarenta por cento da produção contística total de Machado de Assis, os quais o próprio escritor retirou dos periódicos cariocas e republicou nas recolhas e miscelâneas: Contos fluminenses (1870), seis contos, a maior parte retirados do Jornal das Famílias; Histórias da meia-noite (1874), seis contos, também retirados do Jornal das Famílias; Papéis avulsos (1882), doze contos, a maior parte retirados de A Estação, A Época e Gazeta de Notícias; História sem data (1884), dezoito contos retirados da Gazeta de Notícias, A Estação e Gazeta Literária; Várias histórias (1896), dezesseis contos retirados da Gazeta de Notícias; Páginas recolhidas (1899), oito contos retirados da Gazeta de Notícias, Gazeta Mercantil, A Estação e A Semana; por último, Relíquias de Casa Velha (1906), única miscelânea onde a maioria dos contos era inédita, mas, mesmo assim, alguns deles vieram de A Estação, Gazeta de Notícias e do Almanaque Brasileiro Garnier.

No século XIX, a crônica da semana parece ter sido uma tarefa que desafiou alguns de nossos melhores escritores, entre eles Machado de Assis. No que tange às crônicas escritas por Machado de Assis, foram cerca de 600 textos, sem considerar a atribuição de autoria que recentemente acrescentou ao conjunto cerca de 300 “Badaladas”, publicadas entre junho de 1869 e março de 1876 na “Revista da semana”, da Semana Ilustrada (ASSIS, 2019). Foram, portanto, 900 crônicas, distribuídas em 14 séries que variavam muito quanto ao estilo e natureza do assunto (crônica de variedades, de crítica literária, comentários políticos, escritas com tom galhofeiro ou profundamente irônico etc.), ao longo do tempo (1859-1897) e a depender do periódico em que apareceram. Uma relação das crônicas completas de Machado de Assis (considerando-se apenas o folhetim-variedades, e não a crítica literária, teatral, entre outros) deve ser extraída da seguinte colaboração jornalística do escritor: “Comentários da semana”, Diário do Rio de Janeiro, 12 de outubro de 1861 a 5 de maio de 1862; “Crônica”, O Futuro, 15 de setembro de 1862 a 1º de julho de 1863; “Ao acaso”, Diário do Rio de Janeiro, 5 de junho de 1864 a 16 de maio de 1865; “Badaladas”, junho de 1869 e março de 1876, na “Revista da semana” da Semana Ilustrada; “Histórias de quinze dias”, Ilustração Brasileira, 1º de julho de 1876 a 1º de janeiro de 1878; “História de trinta dias”, Ilustração Brasileira, fevereiro de 1878 a abril de 1878; “Notas semanais”, O Cruzeiro, 2 de junho de 1878 a 1º de setembro de 1878; “Balas de estalo”, Gazeta de Notícias, 2 de julho de 1883 a 22 de março de 1886; “A+B”, Gazeta de Notícias, 12 de setembro de 1886 a 24 de outubro de 1886; “Gazeta de Holanda”, Gazeta de Notícias, 1º de novembro de 1886 a 24 de fevereiro de 1888; “Bons dias!”, Gazeta de Notícias, 5 de abril de 1888 a 21 de agosto de 1888; “A Semana”, Gazeta de Notícias, 24 de abril de 1892 a 28 de fevereiro de 1897. Disso temos que a Gazeta de Notícias foi o periódico ao qual mais se dedicou Machado de Assis, ali publicando exclusivamente as suas crônicas posteriormente aos anos 1880 e onde apareceram dezenas de seus contos.

Essa imensa atuação nos periódicos brasileiros, sobretudo cariocas, não lhe assegurou presença na imprensa de outros espaços lusófonos. Seus poemas circularam espaçadamente na imprensa portuguesa (SAYERS, 1983) e o romance Memórias póstumas de Brás Cubas começou a ser publicado em um jornal do Porto, mas foi descontinuado (A Folha Nova, 12 de outubro a 22 de novembro de 1883, apenas até o capítulo XXVIII, “Contanto que...”).

Em conclusão, alguns traços daquilo que é compreendido pela crítica literária como a singularidade na obra machadiana deve ser reinterpretada como resultado da fixação de Machado de Assis ao suporte periódico: a sua escrita ficcional mais valorizada é tributária da crônica e a experiência do jornalista foi fundamental para a formação do escritor de ficção. Mais que isso, em Machado de Assis, a fusão entre o escritor e o jornalista é basilar para um fazer literário que se constrói com uma leitura crítica e, ao mesmo tempo, plástica dos suportes periódicos na qual a obra foi primeiramente veiculada.

 Lúcia Granja

 

Para saber mais:

ASSIS, Machado de. Badaladas do Dr. Semana, por Machado de Assis. Pesquisa, organização, apresentação e notas de Sílvia Azevedo. São Paulo: Nankin, 2019.
GRANJA, Lucia. Machado de Assis- antes do livro, o jornal: suporte, mídia e ficção. São Paulo: Ed. da UNESP, 2018. Disponível em: http://editoraunesp.com.br/catalogo/9788595462816,machado-de-assis-antes-do-livro-o-jornal.
KALIFA, Dominique et al. La civilisation du jornal: une histoire de la presse française au XIXe siècle. Paris: Nouveau Monde, 2011.
MACHADO, Ubiratan. A viagem de Machado de Assis a Minas e o Quincas Borba. In: MACHADO, Ubiratan. Três vezes Machado de Assis. Cotia: Ateliê; São Paulo: Oficina do Livro Rubens Borba de Moraes, 2007. p 9-24.
SAYERS, Raymond. Onze estudos de literatura brasileira. Trad. Roberto Raposo. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira; Brasília: INL, 1983.

 Sobre o autor:

            O portal da página eletrônica do autor foi idealizado e dirigido pela pesquisadora Marta de Senna, que preparou a edição eletrônica de todos os romances e de todos os contos de Machado de Assis, com notas contextuais em hipertexto e uma introdução explicativa à trajetória de publicação de cada texto machadiano (ou grupo de textos, no caso dos contos). Conferir a aba “Romances e contos em hipertexto”. O portal conta ainda com um banco de dados que identifica e explica as referência intertextuais que aparecem nesses textos de ficção de Machado de Assis. Conferir as “Citações e alusões na ficção de Machado de Assis”.

(MACHADO DE ASSIS - Contos e Romances)

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