Roque Oliveira Callage nasceu em Santa Maria, em 13 de dezembro de 1888, e faleceu em Porto Alegre, em 23 de maio de 1931. Irmão de Fernando e Nenê Callage, foi jornalista, cronista, escritor, funcionário público, caixeiro e professor. Roque Callage também ajudou a fundar o Instituto Histórico e Geográfico do Rio Grande do Sul e é patrono da Academia Rio-Grandense de Letras, concedendo seu nome à cadeira de número 35.
Diferente de muitos jovens jornalistas sul-rio-grandenses, Roque Callage não ingressou no ensino superior, tendo apenas concluído seus estudos primários em Santa Maria. Autodidata, começou a trabalhar no comércio aos 14 anos, procurando a instrução intelectual em seu tempo livre. Participou de alguns semanários, dos quais se destaca A Sogra, O Estudante, O Boêmio, A Tribuna, O Comércio, Diário da Tarde e O Popular. Em Santa Maria, também trabalhou na redação do jornal O Estado, dirigido por Andrade Neves Neto. Em 1907, além de redator do jornal, assumiu o cargo de professor de língua portuguesa no Ginásio Ítalo-Brasileiro.
Sua obra de entrada no mundo literário foi Prosa de ontem, em 1908, publicada ainda em Santa Maria. Renegado pela crítica e pelo próprio autor, o compêndio de contos apresenta marcante influência de Eça de Queirós, inspiração da juventude de Callage. Em 1910, sua segunda obra, Escombros, encontrou maior receptividade dos círculos intelectuais gaúchos. Mudou-se para São Gabriel e estudou a cultura sul-rio-grandense, suas lendas e costumes. Sua amizade com Alcides Maya, assim como a experiência do convívio com os peões e tropeiros da região, ajudaram a redirecionar sua produção literária, como conferido em sua terceira obra, Terra gaúcha, de 1914.
Mudou-se para o Rio de Janeiro em 1916, onde acumulou as funções de funcionário da Biblioteca Nacional com o trabalho em diversas redações, como A Notícia, A Tribuna, A Noite e A Gazeta. Após quase dois anos na capital da república, retornou a Porto Alegre, ingressando na redação do Correio do Povo. Seu estabelecimento em Porto Alegre culminou com a retomada dos estudos sobre a tradição gaúcha. Escritor predominantemente regionalista, Callage valoriza e interpreta a realidade sulina em seus contos que versam sobre a Campanha, o gaúcho fora de seu ambiente, o folclore, os costumes e a paisagem. Com a Revolução de 1923, estabeleceu-se ao lado dos defensores de Assis Brasil, enviando notas em primeira mão ao Correio do Povo, direto do campo de batalha.
Entre fins de 1923 e início de 1924 esteve em São Paulo, ocasião em que publicou o livro O drama das coxilhas, pela editora de Monteiro Lobato, e proferiu inúmeras conferências literárias, tanto na capital paulista quanto em cidades do interior. Após seu retorno ao Rio Grande do Sul, trabalhou alguns meses no Correio do Povo antes de assinar a coluna “A Cidade”, no Diário de Notícias, em março de 1925. Grande momento de sua carreira, desempenhou no jornal a função de cronista por mais de cinco anos, quando se exonerou, no final de 1930, para assumir a função de inspetor federal de ensino, na cidade de Rio Grande. Ao retornar à capital gaúcha, voltou a colaborar com o Correio do Povo, antes de falecer vítima de tuberculose.
Suas obras são: Prosas de ontem (1908), Escombros (1910), Terra gaúcha (1914), Terra natal (1920), Rincão (1921), O drama das coxilhas (1923), Vocabulário gaúcho (1926), Quero-quero (1927), No fogão gaúcho (1929), Episódios da Revolução (1930), contos, além de assinar inúmeras crônicas no Correio do Povo (1922-1924) e no Diário de Notícias (1925-1930), assim como algumas contribuições esparsas na Revista do IHGRGS (1922-1925). Roque Callage ainda deixou inéditos o romance gauchesco Fronteira e um compêndio intitulado Crônicas e ensaios.
Henrique Perin
Para saber mais:
PERIN, Henrique. Roque Callage e os esquecidos d’A Cidade: a exclusão social em Porto Alegre através do olhar de um cronista (1925-1930). Rio de Janeiro: Ases da Literatura, 2024.
Publicação do verbete: fev. 2025.