A escritora Anália Vieira do Nascimento nasceu em Porto Alegre, em 2 de setembro de 1854, falecendo, na mesma cidade, em 24 de janeiro de 1911, aos 56 anos. Casou-se com o bacharel Rodrigo Antônio Fernandes Lima, em 1873, e, em 1874, nasceu Abílio, seu filho único. Anália, bem como seus irmãos João Damasceno e Manuel Vieira, frequentou a Escola Normal de Porto Alegre, atualmente, Instituto de Educação Flores da Cunha, formando-se no magistério. Após ser aprovada em concurso público, foi regente de classe por 25 anos.
Sua carreira de escritora limitou-se, praticamente, ao Almanaque de Lembranças Luso-Brasileiro (publicado em Lisboa entre 1851 e 1932), no qual onze senhoras gaúchas publicaram poemas e passatempos. A primeira colaboração desse grupo pertence a Anália Vieira do Nascimento, tendo ocorrido em 1871 – trata-se do “Logogrifo XI” –, e a última participação de escritora sul-rio-grandense ocorreu em 1903, com o poema “A estátua”, de Maria Clara da Cunha Santos.
Anália iniciou sua colaboração com o Almanaque de Lembranças Luso-Brasileiro em 1871, estendendo-se até 1893. Nesse período, foi não somente a autora mais assídua dessa publicação, pois não compareceu em apenas três edições (1884, 1890 e 1892), como também, a de maior volume de produção; houve anuários em que participou da edição normal e do suplemento. Assinou 37 trabalhos: 16 passatempos (logogrifos, charadas e enigmas), 20 poemas e um texto em prosa.
Logogrifo é uma espécie de poema que propõe um enigma, para ser resolvido a partir de pistas que são oferecidas ao leitor. Foi por meio dessa modalidade que Anália estabeleceu contato com outros autores do Almanaque e com leitores, os quais resolviam os enigmas propostos. Em geral, essas publicações portavam dedicatórias, assim o “Logogrifo XI” foi dedicado a um logogrifista português, Sr. Manuel Maria Lúcio, a propósito de suas publicações nos anos de 1867 e 1869.
Os poemas de Anália, com poucas exceções, inserem-se na estética romântica, versando sobre morte, natureza, saudade, exílio, o tempo que passa. Um exemplo dessa tendência é o poema “Lucília”, em que tematiza a morte de uma jovem a quem chama de irmã. Também escreve poemas de ocasião, para álbuns de amigas, utilizando a forma de acróstico, ou, ainda, sobre algum acontecimento especial, como o poema “Goivos”, no qual homenageia a falecida esposa do editor do Almanaque, Sra. Maria da Piedade Moreira Freire de Aboim Cordeiro.
Conhecia o idioma francês, tendo escrito o poema “Soin”, no qual alternava versos em português e em francês. Um poema que se destaca é “Epístola”, escrito a partir da provocação do editor para que ela alçasse voos mais elevados. O poema contém 37 estrofes, vazadas em diversos metros, no qual discute as possibilidades de composição poética das escolas realista e romântica, comentando as críticas que provocaria qualquer das alternativas que escolhesse. Após elencar conhecimentos sobre literatura, filosofia e ciência, conclui que lhe falta erudição para levar a contento tão significativa tarefa. Finaliza o poema de forma irônica, afirmando que deve conformar-se em ser apenas logogrifista.
O texto em prosa denominado “Victor Hugo (carta)” consiste em considerações críticas sobre o romance Trabalhadores do mar, de Victor Hugo. Nesse texto, a autora revela seu apreço pela obra, considerando-a um pequeno poema, ao mesmo tempo em que critica o que considera a exposição de uma erudição supérflua, que pode afastar o leitor. Também faz observações pertinentes à concepção do amor por parte das mulheres. Anália também publicou no Almanaque Popular, dirigido por Hipólito da Silva, de Campinas, os poemas “Num álbum” e “Soin”, já veiculados pelo Almanaque de Lembranças.
A autora é verbete no Dicionário bibliográfico brasileiro, de Sacramento Blake, e no Dicionário crítico de escritoras brasileiras: 1711-2001, de Nelly Novaes Coelho. É citada por Guilhermino Cesar, na História da literatura do Rio Grande do Sul, num rol de autores, na seção “Outros poetas”. Anália tornou-se objeto de estudo a partir de investigações sobre o Almanaque de Lembranças, destacando-se o alentado trabalho de Beatriz Weigert, Anália Vieira do Nascimento: 1854-1911 – estudo e antologia, publicado em Lisboa, em 2017. No Rio Grande do Sul, foi publicado um capítulo sobre a autora na obra Retratos de camafeu (dois volumes: biografias e antologia), organizada pela professora Maria Eunice Moreira.
Cecil Jeanine Albert Zinani
Para saber mais:
______. Anália Vieira do Nascimento: poetisa gaúcha no Almanaque de Lembranças Luso-Brasileiro. In: MOREIRA, Maria Eunice (Org.). Retratos de camafeu: biografias de escritoras sul-rio-grandenses. Lisboa; Rio Grande: Cátedra Infante Dom Henrique para os Estudos Insulares Atlânticos e a Globalização; Biblioteca Rio-Grandense, 2020. p. 13-31.
Publicação do verbete: jul. 2024.