Foto da autora, retirada do Almanaque de Lembranças Luso-Brasileiro (1901).
A escritora oitocentista sul-rio-grandense Andradina América Andrade de Oliveira nasceu em Porto Alegre, em 12 de junho de 1864[1] e faleceu em São Paulo, em 19 de junho de 1935. Quando falece o pai, a família passa a viver em Rio Pardo, com parentes maternos, e, ainda jovem, casa-se com o Alferes Augusto Martiniano de Oliveira, de cuja união nascem os filhos Adalberon e Lola. Com o falecimento do marido, em 1888, Andradina torna-se responsável pela manutenção do lar e começa a ministrar aulas em diversas cidades do estado, dedicando-se, igualmente, à literatura e ao jornalismo, sendo conferencista, biógrafa, teatróloga, poeta, contista, romancista. No período entre 1915-1920, a escritora e a filha Lola realizam uma viagem cultural, percorrendo o Uruguai, a Argentina, o Paraguai e a cidade de Cuiabá, na qual permaneceram por dois anos, devido à excelente receptividade. Após esse período, mãe e filha transferem-se para Jaú, posteriormente, para Ribeirão Preto e, por fim, para a cidade de São Paulo.
Comprometida com a importância de divulgar o pensamento feminino da época, Andradina funda o jornal Escrínio, em 1898, em Bagé (RS), sendo editado, também, em Santa Maria e Porto Alegre. Desde o editorial do primeiro número, a autora enfatiza a relevância de as mulheres terem um espaço para colocarem à mostra “sua cultivada inteligência”. Em artigo publicado no Escrínio, Andradina divulgou minucioso retrospecto da história feminina, evidenciando injustiças a que mulheres foram submetidas, como também apontando as que se distinguiram nas mais diferentes épocas e sociedades. Ainda aproveitava espaços do Escrínio, publicando pequenas notas sobre conquistas de mulheres no país e no mundo, assinalando a atuação feminina. Notabilizava, assim, o lema do periódico: “Pela mulher”.
Sempre atuante, a autora colaborava em diversos jornais e revistas com sua criação intelectual, tais como Eco do Sul (Rio Grande), Corimbo (Rio Grande), Correio do Povo (Porto Alegre), Almanaque Literário e Estatístico do Rio Grande do Sul (Rio Grande), A Violeta (Cuiabá), Folha do Norte (Pará). É relevante destacar sua participação em A Mensageira, de São Paulo, fundada e dirigida por Presciliana Duarte de Almeida. Também participou no Almanaque de Lembranças Luso-Brasileiro, editado em Lisboa, a partir do ano de 1851, e no Jornal do Comércio, de Porto Alegre. Neste último, em fins do ano de 1890, a autora publicou uma série de artigos intitulados “Defesa da mulher”. Damasceno Vieira (A Mensageira, 1987) considerou que esses escritos colocavam Andradina entre as escritoras brasileiras de maior talento. Vale ressaltar que a autora contar com textos divulgados no importante periódico português Almanaque de Lembranças Luso-Brasileiro foi um feito memorável, visto que isso a fez conhecida além-mar, enquanto a literatura sul-rio-grandense, composta primordialmente por escritores, apenas começava a se firmar como tal.
Importantes inventários a respeito da produção intelectual da escritora, apresentados por Schmidt (2004) e Flores (2007) [2], abrangem o período entre 1878 e 1935: na dramaturgia, ela dedicou-se, principalmente, à produção de dramas, sendo registrada uma comédia. Nas obras de contos, destaca-se Cruz de pérolas (1908), pela qual a autora, no mesmo ano da publicação, recebe medalha de ouro na Exposição Nacional do Rio de Janeiro. Além disso, escreveu romances, entre os quais sublinham-se O perdão (1910) e Divórcio? (1912), bem como obra poética, literatura infantil e ainda outras produções como almanaques, artigos, biografias, conferências.
A jornada de Andradina América Andrade de Oliveira destaca-se por relevante ação no contexto sociocultural, por seu comprometimento com a luta por direitos humanos, por uma educação renovada, pela defesa da emancipação feminina mediante acesso à educação, à profissão, à participação política, ao divórcio. Muitos de seus textos endossam sua constante preocupação com essas questões, evidenciando-a como notável representante do feminismo do Rio Grande do Sul do fin de siècle. E, mesmo enfrentando restrições e preconceitos durante sua trajetória, Andradina buscou conquistar um lugar no universo das letras, participando do processo cultural e literário do século XIX e início do XX, o que alcançou com êxito.
Salete Rosa Pezzi dos Santos
Para saber mais:
[1] Registros sobre a vida da autora apontam divergências quanto à data de seu nascimento. Neste texto, são retomados os apontamentos de Flores (2011).
[2] Para saber detalhes sobre esses estudos, ver Santos (2020).
Publicação do verbete: jul. 2024.