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Anuário das Senhoras

Capa do primeiro número do Anuário das Senhoras, anunciado em O Malho (Rio de Janeiro, ano XXXIII, n. 31, 4 jan. 1934, p. 45). Fonte: Hemeroteca Digital da Fundação da Biblioteca Nacional.

O Anuário das Senhoras, publicação feminina carioca, foi dirigido por Alba de Mello e intencionava acompanhar as leitoras ao longo de todo o ano. O lançamento do Anuário (ou Annuário, conforme grafia inicial) ocorreu em dezembro de 1933 e continuou a circular de maneira ininterrupta até o exemplar destinado ao ano de 1958. O título pertencia à Sociedade Anônima d’O Malho, empresa fundada por Luiz Bartolomeu de Souza e Silva e Antônio Azeredo e que contou, ao longo do tempo, com diferentes sócios majoritários. A firma era responsável por diversos periódicos, a saber, O Malho (1902-1954), O Tico-Tico (1905-1977), Ilustração Brasileira (1909-1958), Para Todos (1919-1958), Cinearte (1926-1942), dentre vários outros.

A figura central da publicação era Alba de Mello, que escreveu muitos textos, seja com próprio nome ou como Sorcière, sobre moda, comportamento feminino e temas voltadas para o lar. A escritora colaborou com outros periódicos, como Fon-Fon (1907-1958), Para Todos, Cinearte, Tico-Tico e O Malho, e exerceu o cargo de secretária na Câmara dos Deputados do Rio de Janeiro de 1920 a 1961. Cearense, nascida em 7 de maio de 1894, era neta de Leonarda de Mello Marinho e Antônio de Mello Marinho, líder do Partido Conservador durante a monarquia e, posteriormente, chefe do Partido Republicano no interior do Ceará. Acompanhando as andanças do pai, Antônio de Mello Filho (??-1926), também político, filiado ao republicanismo e jurista, atuou como advogado e promotor em diferentes cidades do Ceará e em Belém. Alba de Mello chegou ao Rio de Janeiro somente em 1912 e iniciou a carreira de escritora em 1913, casou-se aos vinte anos com Waldemiro Amadel Soares Filho, que ocupou cargos de destaque junto ao governo de Getúlio Vargas.

Até 1943, a redação do Anuário esteve instalada na Travessa do Ouvidor, n. 34, e de 1945 em diante, no quinto andar da Rua Senador Dantas, n. 15. O exemplar de 1934 custava 6$000, valor que passou para 8$000 em 1942 e, ainda nesse ano, com a mudança da moeda, para CR$ 10,00, chegando ao preço máximo de CR$ 30,00. Em termos de comparação, o número avulso da revista Cruzeiro (1928-1985), a mais popular do país e com periodicidade semanal, custava 1$500 em 1934 e CR$ 15,00 em 1958. O Anuário era impresso em papel couché, na tipografia d’O Malho, que dispunha de métodos modernos, que incluíam offset e rotogravura.

Em relação às capas, apenas a primeira foi composta com papel de elevada gramatura e com desenho de uma leitora, todas as demais assumiram padrão diverso, com papel de menor qualidade, ainda que mais denso do que as folhas internas e sem representação feminina, contando apenas com estampas geométricas, florais e coloridas, por vezes em alto relevo.

A grafia do título variava em termos de posição, tamanho, cor e estilo da fonte, predominado a letra cursiva. O periódico tinha grandes dimensões (18 x 27cm), com cerca de 270 a 320 páginas, e formato de brochura. Vê-se, portanto, que a publicação era feita para durar e ornar o ambiente da casa, que ganhava ar de refinamento. Nas páginas internas, havia muito material iconográfico, fosse em preto e branco ou em cores vivas, tanto nos textos destinados às leitoras quanto nos vários anúncios presentes nas diferentes edições. A publicação contava com ilustradores da empresa O Malho, a exemplo de Paulo Amaral, Goulart (Luiz Goulart), Fragusto (Augusto T. Fragoso), Solon, Osvaldo Magalhães, Rodolfo, Cláudio e César, bem como apresentava traços dos estrangeiros Régis Manset, Maurice Toussaint e Joseph Hémard, ainda que houvesse material não assinado.

Em relação a organização interna do material, no início não havia seções bem definidas, o que só se observa com o decorrer dos anos. Dentre as seções mais frequentes pode-se citar “Noivas”, “Pra gente miúda”, “Lingerie e pijamas”, “Decoração da casa: lençóis bonitos toalhas e outras coisas” e “Forno e fogão”. Textos mais fluidos também se destacaram na disposição interna, a exemplo de “Conselhos úteis”, “Conselhos práticos”, “Utilidades” ou “Conselhos à dona de casa”. Mesclavam-se a esses assuntos anúncios como Regulador Xavier, Banco do Brasil, Caixa Econômica, Lavolho, Leite de Rosas, Leite de Colônia, Rugol, Cinta Moderna, Creme Depilatório Racé, Pasta Russa, Creme Pollah etc. Embora outras publicidades se sobressaíssem em página única, como Torre Eiffel, cigarros da Cia. de Souza Cruz, Brahma, Air France, Panair do Brasil, cartas Copag, Helena Rubinstein, General Electric, produtos da Marca Peixe, Max Factor, produtos Dagelle e maquiagem Coty. A estratégia da Nestlé incluía a publicação de receitas utilizando seus produtos, cujos anúncios ganhavam impressão colorida frente e verso, com papel couchê de maior gramatura, o que convidava as leitoras a destacá-los e compor seus próprios livros de receita.

No que respeita aos textos, cabe destacar a variedade de gêneros, que incluía poesias, contos e crônicas de reconhecidos literatos, à exemplo de Leonor Posada, Leôncio Correia, Adelmar Tavares, Benjamim Costallat, Othon Costa, Maria Eugenia Celso, Berilo Neves, Hyldeth Favilla, Humberto de Campos, Ada Macaggi, João Guimarães, Olegário Mariano, Machado de Assis e Olavo Bilac. Tal como nas ilustrações, também se recorria com grande frequência a pseudônimos. Moda, cotidiano, educação dos filhos, beleza, receitas, bordados, crochê, cuidados com o lar, normas de higiene e conselhos misturavam-se com artigos sobre eventos e personalidades históricas, atualidades no campo científico, com particular atenção para a Medicina, e novidades do cinema.

O último número do Anuário das Senhoras não trouxe qualquer explicação a respeito do fim do periódico. Contudo, supõe-se que a sua linha editorial não acompanhou as mudanças socioculturais observadas na sociedade brasileira, sobretudo no que respeita ao papel feminino no final da década de 1950, quando as reivindicações em prol da atuação do espaço público ganharam protagonismo. O mercado editorial, por sua vez, também se diversificava e, em breve, o peso da Editora Abril, com suas múltiplas revistas, alterou padrões vigentes. Acrescente-se o impacto, ainda que restrito, da televisão e da velocidade das transformações na produção industrial, que multiplicou os eletrodomésticos e a própria alteração demográfica do país, que tendia a se tornar cada vez mais urbano. A fórmula anuário já não satisfazia as necessidades e as exigências das leitoras.

Ramona Lindsey Rodrigues Mendonça

Para saber mais:

BUITONI, Dulcília Schroeder. Formas da representação – Século XX. In: ______. Mulher de papel: a representação da mulher pela imprensa feminina brasileira. São Paulo: Summus, 2009. p. 51-186.
CHARTIER, Roger. O mundo como representação. Estudos Avançados. São Paulo, v. 5, n. 11, 1991, p. 179-180. Disponível em: https://www.revistas.usp.br/eav/article/view/8601.
GARCIA, Janaína A. Beraldo. Escola de modelos: três décadas do Anuário das Senhoras (1934-1954). Dissertação (Mestrado em História). Universidade Federal do Paraná, Curitiba. 2004. Disponível em: https://acervodigital.ufpr.br/handle/1884/13527.
MENDONÇA, Ramona Lindsey Rodrigues. A ausência publicada: as noções de feiura a partir das definições de beleza no Anuário das Senhoras (1943-1958). Mossoró: Ed. da UERN, 2020. Disponível em: https://drive.google.com/file/d/1Qve_tO5jt9a-jxD0KJYigKRxRwRM6ZOh/view.
______; MENDES, Francisco Fabiano de Freitas. Das modas às tintas: representações do feminino nas publicidades da revista Anuário das Senhoras (1940-1950). dObra[s] – Revista da Associação Brasileira de Estudos de Pesquisas em Moda, [s.l.], v. 14, n. 29, p. 186-203, 2020. Disponível em: https://doi.org/10.26563/dobras.v14i29.1143.

 

Sobre o periódico:

Exemplares do Anuário estão disponíveis na Hemeroteca Digital da Fundação da Biblioteca Nacional; outros, pertencentes à Biblioteca Municipal Ney Pontes, da cidade de Mossoró (RN), foram doados para o Núcleo de Documentação e Pesquisa Histórica (NUDOPH), da Universidade do Estado do Rio Grande do Norte (UERN).
 

Publicação do verbete: nov. 2024.