Capa do primeiro número da revsita
Estética foi um importante periódico do movimento modernista brasileiro. Contou apenas com três números, que foram suficientes para estampar polêmicas, difundir tendências e incitar o movimento que estava tão em alta no país. O primeiro número foi lançado em setembro de 1924 e os outros dois no ano seguinte, de janeiro/março e abril/junho. Esta foi uma revista que fez parte de uma série de outros títulos periódicos que foram lançados pelo grupo que realizou, em fevereiro de 1922, a Semana de Arte Moderna. Também foi uma revista lançada fora de São Paulo, cidade destaque do movimento.
Os responsáveis por Estética foram Prudente de Moraes, neto e Sérgio Buarque de Holanda, na época apenas dois jovens estudantes, respectivamente 20 e 22 anos, da Faculdade Nacional de Direito. A edição da revista marcou a pouca profissionalização, pois, para editarem o periódico, os diretores e outros interessados reuniam-se na Livraria Odeon, na Avenida Rio Branco, 157, Rio de Janeiro, e encetavam longas conversas informais sobre como se daria a publicação do periódico. A impressão do primeiro número ficou a cargo de Pestana & Irmãos, já os demais foram impressos na gráfica editora Paulo, Pongetti & Cia. Os valores dos exemplares variaram em 2$000 (dois mil réis) no primeiro número e 3$000 (três mil réis) nos dois seguintes. Também há a menção, nos dois primeiros números, de uma assinatura anual de 8$000 (oito mil réis), por quatro exemplares.
Em relação ao projeto gráfico, Estética foi uma revista modesta comparada a sua congênere Klaxon, mensário de arte moderna (São Paulo, 1922-1923). Enquanto esta revista possuía uma capa arrojada, a revista carioca apelou para a simplicidade, cuja primeira página continha apenas informações essenciais do número. Vale ressaltar que tal decisão pode ter sido influência de outro periódico, The Criterion (Londres, 1922-1923), que possuía muitas semelhanças com a capa de Estética. A revista distribuía, ao longo de 120 páginas de cada exemplar, textos com legibilidade, espaçamentos bem alternados e muito pouco anúncios, em sua maioria ilustrados por Pedro Nava. Além do Rio de Janeiro, a revista também foi distribuída na capital paulista pela Livraria Garroux, então dirigida por José Olympio; também foi distribuída em Belo Horizonte, por Pedro Nava, e em Recife, por Joaquim Inojosa.
Estética reuniu distintos colaboradores, a exemplo de Manuel Bandeira, Mário de Andrade, Graça Aranha, Renato de Almeida, Couto de Barros, Álvaro Moreyra, Menotti del Picchia, Carlos Drummond de Andrade, Sérgio Milliet, e ainda colaboraram com textos críticos os diretores da revista, Prudente de Moraes, neto e Sérgio Buarque de Holanda.
Estética ansiava ser a continuação de Klaxon, revista já mencionada de grande importância ao movimento modernista no Brasil. No entanto, a revista carioca não se limitou apenas a ser a continuação de sua congênere. Embora tenha sido publicada no Rio de Janeiro, Estética foi uma revista que reuniu o grupo do eixo Rio e São Paulo para a sua produção. Na opinião dos diretores, enquanto Klaxon rompia com uma série de ditames da então “cultura brasileira”, Estética visava sair desse campo polêmico e construir algo concreto.
Apesar de então desejar ser um periódico conciliador, Estética apresentou diversos desentendimentos. A revista foi palco de diversas disputas ideológicas, como a cisão do grupo de Graça Aranha. Embora no número de estreia a revista tenha estampado o ensaio “Mocidade e estética”, de Graça Aranha, no número 3, Mário de Andrade publicou o texto “Carta aberta a Alberto de Oliveira”, indagando que o Modernismo não havia sido trazido da Europa por Graça Aranha, pois aqui já havia um grupo formado por Anita Malfatti, Victor Brecheret e Oswald de Andrade. E ainda, em outra publicação, ressalta-se a modernidade na obra Memórias sentimentais de João Miramar, o que fez com que o grupo de Graça Aranha desconfiasse que os jovens de Estética estivessem coniventes com os paulistas.
É importante frisar que, diferente de Klaxon, a matéria única de Estética foi a literatura. Enquanto aquela revista publicava textos de cinema, música e artes plásticas, a revista carioca publicou muitos ensaios e resenhas de obras do movimento ou que estivessem com afinidade ao movimento. Diversos poemas também foram publicados. Merecem destaque as publicações do terceiro número: o “Noturno de Belo Horizonte”, de Mário de Andrade, que abriu o volume, e os poemas do então jovem Carlos Drummond de Andrade, “Construção”, “Sentimental” e “Raízes e caramujos”, os dois primeiros incluídos em seu livro de estreia, publicado anos mais tarde.
As revistas literárias e culturais sempre enfrentaram dificuldades financeiras, e com Estética não foi diferente. Assim, sua curta duração pode ser explicada por este fato. Porém, é inegável a sua importância para o movimento modernista brasileiro. Com Estética, o modernismo estava pronto para expandir-se para outras localidades do país, como aconteceu com o lançamento de diversos outros periódicos.
Helen de Oliveira Silva
Para saber mais:
SILVA, Helen de Oliveira. Dados editoriais. Disponível em: https://br.revistasdeideias.net/pt-pt/estetica/foreword/editorial-data. Acesso em 27 nov. 2024.
Sobre o periódico:
Exemplares de Estética estão disponíveis na Hemeroteca Digital da Fundação da Biblioteca Nacional.
Publicação do verbete: mar. 2025.