Foto da autora, do livro Ana, a lúcida: bibliografia de Ana Plácido, de Maria Amélia Campos.
Nascida a 27 de setembro de 1831, na cidade do Porto (Portugal), Ana Augusta Vieira Plácido foi batizada a 8 de outubro do mesmo ano na igreja de Santo Ildefonso. Filha de José Plácido Braga (?-1852), conhecido comerciante do Porto, e Dona Ana Augusta Vieira (1799-1855), casou-se, em 28 de setembro de 1850, por obediência ao pai, com um rico comerciante, “brasileiro” de torna-viagem, Manuel Pinheiro Alves. Ana Plácido tinha dezenove anos de idade e veia poética; Pinheiro Alves, quarenta e três e veia comercial. O casamento era tido como uma forma de garantir o futuro da filha e resolver a má situação financeira da família. Ana Augusta manteve-se neste casamento por oito anos, mas após este período saiu da casa do marido e foi viver com o homem que de facto amava, o escritor Camilo Castelo Branco. Tal situação causou um grande escândalo na sociedade portuense e, por esta razão, Pinheiro Alves mandou prender a esposa num convento, em Braga, por forma a separar os amantes. Contudo, Ana Plácido voltou a fugir com Camilo. Pinheiro Alves apresentou então queixa no Tribunal Criminal, do Porto, contra o casal por crime de adultério.
A 6 de julho de 1860, Ana Plácido, aos 28 anos de idade, foi presa (com o filho pequeno, fruto do casamento) na Cadeia da Relação do Porto, sem direito a fiança (só depois Camilo se entregou à justiça). Significativamente, levou para a prisão uma biblioteca pessoal (cerca de 500 livros) e muito material para escrita. Apesar da clausura ter sido uma fase traumática na vida da escritora, este foi o seu período de maior produção literária. Os temas do casamento por obrigação e do adultério feminino serão uma constante na intriga das suas personagens. Durante o cárcere escreveu o livro Luz coada por ferros, que mereceu uma resenha crítica de Machado de Assis no jornal O Futuro, periódico literário do Rio de Janeiro. Esta foi a única obra em que usou o seu nome, Ana Plácido: após os escândalos da prisão por adultério, passou a assinar com pseudónimos masculinos (Gastão Vidal de Negreiros, Lopo de Sousa) e siglas dos nomes próprios (A. A.).
Ainda na prisão, manteve participação na imprensa portuguesa e brasileira publicando crônicas, poemas, folhetins, resenhas críticas e traduções. Sua obra encontra-se ainda hoje dispersa nos jornais contemporâneos: Amigo do Povo: comercial, industrial e agrícola (Porto), O Futuro (Rio de Janeiro), Gazeta de Portugal, O Civilizador: jornal de literatura, ciências e belas artes, Revista ABC, A Esperança: semanário de recreio literário, Gazeta Literária do Porto, Diário Ilustrado, O Ateneu: revista contemporânea de Portugal e Brasil, Almanaque Familiar, Revolução de Setembro, O Nacional, O Mundo Elegante, Jornal Semanário (Porto), O Leme e Pensamento Livre (Porto). Após sair da prisão, Ana Plácido ainda publicou o livro Herança de lágrimas (1863) e manteve participação muito ativa na imprensa. Contudo, com o passar do tempo, os afazeres do lar e o cuidado com os filhos e marido a foram afastando da atividade literária. Sua última publicação ocorreu em 1895 no jornal O Leme, assinada somente com o título monárquico que adquiriu ao casar-se com Camilo Castelo Branco: Viscondessa de Correia Botelho. A escritora faleceu em 20 de setembro de 1895. A sua obra, muito dispersa e esquecida, aguarda desde então uma atenção mais demorada.
Maria Luísa Taborda Santiago
Para saber mais:
SILVA, Fabio Mario da. Ana Plácido: o mais célebre adultério feminino no Portugal oitocentista. Letras em Revista, v. 11, n. 2, maio 2021. Disponível em: https://ojs.uespi.br/index.php/ler/article/view/398. Acesso em: 3 abr. 2022.
Publicação do verbete: maio 2024.