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Clarim da Alvorada, O

O mensário negro, fundado como O Clarim, na cidade de São Paulo, por Jayme de Aguiar e José Correia Leite, em 6 de janeiro de 1924, adicionou os termos da Alvorada na quinta edição, mantidos até sua extinção, em 28 de setembro de 1940. Ao todo, foram publicados 78 números. Entre a edição de estreia e o número 36, datado de 15 de outubro de 1927, a direção ficou a encargo de José Correia Leite e Jayme de Aguiar, sob o pseudônimo de Jim de Araguary.

Depois de uma breve interrupção, a publicação foi retomada em 5 de fevereiro de 1928, com Urcino dos Santos e João Soter da Silva como diretores e, para marcar a nova etapa, inseriu-se no cabeçalho os dizeres “Segunda fase”, e a numeração foi reiniciada. A partir de 23 de agosto de 1930, Sebastião G. Castro agregou-se à direção e permaneceu no jornal até o encerramento desta fase, em 13 de maio de 1932. Após oito anos, uma única edição, que retomou o título, foi publicada em 28 de novembro de 1940, sob a batuta de José de Assis Barbosa, em homenagem à Lei do Ventre Livre. Nota-se a inscrição “Terceira fase” no cabeçalho, indicativo do intento de dar continuidade à publicação, o que não ocorreu.

O periódico possuía quatro páginas, as imagens eram raras e os anúncios divulgavam estabelecimentos comerciais e prestadores de serviços da própria comunidade negra. Os números avulsos custavam 200 réis, a assinatura semestral 3 mil e a anual variava entre 5 e 8 mil, valores abaixo daqueles cobrados pelos jornais de grande circulação. A imprensa negra do período lutava com dificuldades de ordem econômica e material, tanto que muitos jornais sobreviveram menos de um ano, pois eram feitos por e se destinavam a pessoas, em geral, menos favorecidas, fruto de séculos de escravismo e da falta de reparação social.

Jayme de Aguiar e José Correia Leite foram os principais redatores durante toda a existência do jornal, ambos autodidatas. Aguiar escrevia, sobretudo, poemas e contos, nem sempre diretamente relacionados com o movimento negro, enquanto Leite respondia por textos em prosa, com críticas explícitas à desigualdade racial.

No cabeçalho do primeiro número, o jornal estampou o subtítulo “Órgão Literário, Científico e Político”, que se alterou para “Literário, Científico e Humorístico” na segunda edição, e para “Literário, Noticioso e Humorístico” na terceira. Na segunda fase, iniciada em 1928, nova mudança, desta feita para “Noticioso, Literário e de Combate”. A permanência do termo “literário” indica a relevância do conteúdo para o projeto editorial da folha, pois, não raro, a ficção se constituía em oportunidade para criticar o preconceito racial e reafirmar a importância da cultura negra para a constituição da nacionalidade brasileira, bem como a necessidade de valorização dos afrodescendentes, com especial destaque para as mulheres negras. São exemplos o poema “À gente negra”, de Arlindo Veiga, veiculado em 15 de janeiro de 1927, e o soneto “À mãe preta”, autoria de Reis de Carvalho e estampado em 13 de maio de 1929. Ademais, os redatores reproduziram obras de autores negros célebres para homenageá-los e utilizá-los como exemplos fosse de ascensão social ou da produção intelectual, sempre associadas à educação, discurso perceptível desde a edição de estreia d’O Clarim, que, na primeira página, estampou o poema “Coração”, de Cruz e Sousa, seguido de breve biografia e de artigo intitulado “Imitemo-los”.

Considera-se que a criação d’O Clarim da Alvorada em 1924 inaugurou a segunda fase da imprensa negra paulista (1924-1937), caracterizada pela acentuação da combatividade dos periódicos produzidos por e para afrodescendentes. A trajetória da folha esteve atrelada ao Centro Cívico Palmares (São Paulo, 1926-1929), entidade fundada em prol da melhoria das condições de vida dos negros, com enfoque na alfabetização, tal qual a Frente Negra Brasileira (São Paulo, 1931-1937) – a maior organização afrodescendente da década de 1930 –, pois, além da folha divulgar as atividades de ambas as entidades, alguns de seus colaboradores também eram membros filiados às agremiações. Além disso, O Clarim da Alvorada destacou-se por adotar o pensamento panafricanista na sua coluna “O Mundo Negro”, na qual defendeu concepções de intelectuais como as do norte-americano Marcus Garvey, que mantinha o jornal Negro World (1918-1933), inspiração para o nome da coluna, e Robert Abbot, fundador do Chicago Defender (1905-), com o qual José Correia Leite mantinha contato.

O Clarim da Alvorada está disponível para consulta na Hemeroteca Digital da Biblioteca Nacional.

Ingrid Aveldiane Adriano Pardinho

Para saber mais:

ALMEIDA, Sandra Regina Araújo de. A recepção do pensamento pan-africanista no Brasil: a coluna “O Mundo Negro” em O Clarim d’Alvorada. 2019. Dissertação (Mestrado em Ciências Sociais). Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro, Seropédica, 2019.
BASTIDE, Roger. A imprensa negra no estado de São Paulo. Estudos Afro-Brasileiros, Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras da Universidade de São Paulo, Boletim CXXI, n. 2, p. 51, 1951.
FERRARA, Miriam Nicolau. A imprensa negra paulista (1915-1963): um estudo monográfico. Revista África, São Paulo, n. 3, p. 246-256, 1983.
FRANCISCO, Flávio Thales Ribeiro. Fronteiras em definição: identidades negras e imagens dos Estados Unidos e da África no jornal O Clarim da Alvorada (1924-1932). 2010. Dissertação (Mestrado em História). Universidade de São Paulo, São Paulo, 2010.
LEITE, José Correia; CUTI. ...E disse o velho militante José Correia Leite. São Paulo: Secretaria Municipal de Cultura, Coordenadoria Especial do Negro, 1992.

SANTOS, Renan Rosa dos. Ideias e ações pela integração negra: a trajetória do jornal O Clarim da Alvorada (1924-1932). 2021. Dissertação (Mestrado em História). Universidade Federal de São Paulo, Guarulhos, 2021.

Publicação do verbete: nov. 2024.