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Alfredo Troni

Nascido a 4 de fevereiro de 1845, provavelmente en São Martinho do Bispo, Portugal, Alfredo Troni seria batizado como filho de pais incógnitos. Só em 1869 foi perfilhado pelo seu pai, José Adolfo Troni, formado em Direito em Coimbra e lente da respetiva universidade. Alfredo viria também a graduar-se nesse ramo e na mesma universidade, em 1867.

Dois anos depois, começa, em África, a sua carreira profissional. Esta decisão, cujo motivo se desconhece (alguns autores referem razões políticas, mas não apresentam provas), tem a sua primeira etapa em São Tomé e Príncipe, com o cargo de secretário do governo da Província. No final desse mesmo ano de 1869, é nomeado delegado do procurador da Coroa em Cabo Verde.

A sua vida em Angola desenrola-se a partir de 1874, com a nomeação para juiz de direito da comarca de Benguela, de onde será transferido para Luanda no final desse ano. Ao mesmo tempo que exerce funções judiciais, Troni vai sendo chamado a desempenhar uma série de cargos e tarefas de natureza político-administrativa, alguns deles de certo relevo.

Em 1878, ocorre o primeiro revés na sua carreira política: é eleito como deputado às Cortes pela província de Angola, mas não chega a tomar posse, o que se terá devido à intervenção do governador, que terá anulado a eleição.

Um aspeto interessante da combatividade política de Troni está documentado na edição que deu ao prelo em 1898, na tipografia do seu jornal Mukuarimi: um volume de 100 páginas contendo os Discursos proferidos pelo Deputado pelo 1.º círculo da Província de Angola Joaquim Alfredo da Silva. Logo na apresentação, intitulada “Ao público”, se percebe o intuito satírico da publicação: “O editor disto não tem pretensões a figurar de espirituoso à custa do sr. Joaquim Alfredo da Silva Ribeiro. Deseja simplesmente mostrar aos eleitores do 1.º círculo de Angola que o seu representante nada fez em proveito do seu círculo”. Apesar do aviso, a surpresa não desaparece perante a ousadia de inscrever em todas as páginas seguintes a singela declaração “NADA”.

Lograda a carreira parlamentar, Alfredo Troni interrompe também as suas funções judiciais. Alguns estudiosos afirmam que foi destacado para Moçambique e que, recusando o lugar, trocou a magistratura pela advocacia. Seja como for, continua a ser uma personalidade civicamente influente, ocupando diversas posições em estruturas político-sociais, como a Junta Geral da Província, a comissão para a comemoração do 4.º centenário da descoberta do caminho marítimo para a Índia ou a presidência de estruturas como a Associação Comercial de Luanda ou a Câmara Municipal da mesma cidade.

Mas a faceta mais interessante de Alfredo Troni é a de jornalista e de ficcionista. Fundou e dirigiu, em Luanda, três jornais: o Jornal de Loanda (publicado – segundo Júlio de Castro Lopo (1964) – entre 07.07.1878 e 15.01.1882), Mukuarimi e Os Concelhos de Leste. Infelizmente apenas o primeiro parece ter chegado até aos nossos dias de forma integral: o próprio Lopo, que se dedicou com persistência à história do jornalismo de Angola, não conseguiu consultar nenhum número de Mukuarimi e apenas pôde ter acesso a cinco exemplares do último título. Quanto ao Jornal de Loanda, só a antiga Biblioteca Municipal dessa cidade parece dispor da coleção completa. Em Portugal, a Biblioteca Nacional é a única instituição que conserva alguns escassos números. Apesar disso, dispomos da apreciação de Salvato Trigo, que considerou o Jornal de Loanda exemplo de “um jornalismo mordaz e intervencionista” (Trigo, 1977, p. 39), marcando a transição de um periodismo “colonial, anterior a ele, para o nacional que ele, de certo modo, incentivará” (Trigo, 1977, p. 42-3).

Um último aspecto do trabalho de Troni como jornalista que importa investigar de modo sistemático diz respeito à sua colaboração noutros periódicos, tanto de Angola, como foi o caso de O Cruzeiro do Sul, referido por Júlio Lopo, como de Lisboa.

O seu labor como ficcionista é o mais conhecido e o que lhe tem granjeado mais reconhecimento e admiração. Manifesta-se na novela (ou conto) Nga Muturi, publicada, em 1882, em dois jornais de Lisboa, o Diário da Manhã (entre 16.06 e 06.07) e o Jornal das Colónias (de 08.07 a 25.08). Segundo Eduardo Bonavena terá havido uma edição anterior, no Jornal de Loanda, em meados de 1881 (Bonavena, 1986, p. 36).

            Faleceu a 25 de julho de 1904, em Luanda, Angola.

 Francisco Topa

 

Para saber mais:

ANTÓNIO, Mário. Alfredo Troni, ficcionista. Boletim Cultural da Câmara Municipal de Luanda, n. 43, p. 11-15, 1974.
BONAVENA, E. Documentos. Archote, n. 2, p. 32-39, 1986.
LARANJEIRA, Pires. Alfredo Troni. In CRISTÓVÃO, Fernando et al. (Dir. e Coord.). Dicionário temático da lusofonia. Lisboa: ACLUS / Texto Editores, 2005.
LOPO, Júlio de Castro. Um doutor de Coimbra em Luanda. Luanda: Museu de Angola, 1959. (Separata de Arquivos de Angola, 2.ª série, XII, 47-50, p. 217-234, jan.-out. 1955).
LOPO, Júlio de Castro. Jornalismo de Angola: subsídios para a sua história. Luanda: Centro de Informação e Turismo de Angola, 1964.
TRIGO, Salvato. Introdução à literatura angolana de expressão portuguesa. Porto: Brasília Editora, 1977.
TRONI, Alfredo. Nga Mutúri. [Edição e] prefácio de M. António. Lisboa: Edições 70, 1973.
TOPA, Francisco. Alfredo Troni, doutor de Coimbra, cidadão de Angola. Revista de Estudos Literários, Coimbra, n. 5, p. 161-188, 2015.

Tema(s): Autor(a)
Sujeto: A