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Sílvia da Vinha
Sílvia da Vinha foi uma escritora que apresentou textos no periódico Pontos e Vírgulas, folha voltada ao humor e à caricatura, que circulou na cidade portuguesa do Porto, entre os anos de 1893 e 1895. Tais escritos se fizeram presentes nas páginas do jornal entre junho de 1894 e julho de 1895. A literatura especializada sobre a imprensa e os jornalistas portugueses não traz nenhuma informação sobre Sílvia da Vinha, não havendo qualquer dado sobre a sua biografia. Os únicos dados sobre a escritora estão expressos no próprio Pontos e Vírgulas, no qual há várias referências à Sílvia, notadamente quanto ao fato de que seus textos tornaram-se um significativo atrativo entre o público leitor do periódico. Foram os seguintes os títulos publicados pela escritora no jornal portuense: “Uma paixão impossível”; “Um drama nas trevas”; “A noite de São João”; “Quem a Deus busca...”; “Um incorrigível”; “Uma tragédia”; “A inglesa”; “Duas almas gêmeas”; “Um rapto”; “Salva!”; “O vestido de baile”; “Ir buscar lã...”; “A corça”; “Um cataclismo”; “Fugir de Cila...”; “Um susto”; “Debaixo da cama”; “Uma ideia”; “Rivais”; “O Porto herege”; “Uma distração”; “De um argueiro...”; “Adúltera?”; “Uma desilusão”; “Metempsicose”; “Uma tentação”; “Pela fantasia”; “A mendiga”; “O fidalgo”; “Em flagrante”; “O carnaval”; “Comédia eterna”; “Balada”; “Por Terpsícore”; “Um futuro diplomata”; “Dupla decepção”; “Cherchez la Femme”; “Mamã! Papá!”; “Tarde!”; “O eterno poema”; “Uma aventura galante”; “O filho do rendeiro”; “Um mistério”; “Fábula”; “O almoço de Lotário”; “A punição”; “A emancipação das mulheres”; “Ambiciosa”; “Entre a cruz e a caldeirinha”; “A irmã de caridade”; “Dolorosa”; e “A raptada”. Anunciada como contista da publicação portuense, seus trabalhos variaram no formato entre o próprio conto e a crônica, aparecendo também a figura da polemista. O conjunto de suas colaborações traz uma produção textual variada quanto à temática, envolvendo questões como: os assuntos sentimentais, como paixões ou incursões amorosas bem ou mal sucedidas; a ação das moças cocotes e dos rapazes conquistadores e as dores e desilusões causadas pelo amor; a dicotomia entre o casamento embasado no amor romântico e o matrimônio arranjado por interesse financeiro; as desigualdades entre as comunidades interioranas e rurais em relação à vida nas grandes cidades; o êxodo rural e a busca por sobrevivência e até de ascensão social do homem no campo no meio urbano; a visão aguçada acerca das mazelas sociais, com ênfase ao sofrimento em torno da pobreza e das condições de vidas dos pobres e trabalhadores; e um enfoque crítico quanto à aristocracia, ao clero e até mesmo à monarquia. Os artigos de Sílvia da Vinha também realizam incursões ao debater sobre o feminino, como comentários que iam desde aspectos estéticos em torno da beleza e da feiura, da moda e da aparência, passando por questões morais como as virtudes feminis, caso da manutenção da virgindade e a busca pelo casamento, e chegando ao debate acerca da emancipação da mulher.
Francisco das Neves Alves e Isabel Lousada
Para saber mais:
ALVES, Francisco das Neves; LOUSADA, Isabel Maria da Cruz. Uma contista na imprensa humorístico-ilustrada portuguesa: Sílvia da Vinha no semanário Pontos e Vírgulas. Lisboa: CLEPUL; Rio Grande: Biblioteca Rio-Grandense, 2021. Disponível em: https://issuu.com/bibliotecariograndense/docs/cole_o_documentos_45.
______. Sílvia da Vinha: escrita feminina na imprensa caricata portuense. Lisboa: CLEPUL, 2019.
ALVES, Francisco das Neves; LOUSADA, Isabel Maria da Cruz; GEPIAK, Luciana Coutinho. Escrita feminina dos dois lados do Atlântico: Julieta de Melo Monteiro, Sílvia da Vinha e Revocata Heloísa de Melo. Lisboa: Cátedra Infante Dom Henrique; Rio Grande: Biblioteca Rio-Grandense, 2020. Disponível em: https://issuu.com/bibliotecariograndense/docs/cole__o_rio-grandense_38.
A Semana
A Semana: folha hebdomadária. Benguela. Circulou de 20/11/1892 a 24/7/1893, 21 números. Fundador, editor e redator: Pedro Félix Machado. Impressão: tipografia Progresso, Benguela; tipografia de A Semana, Benguela.
Periódico generalista, o primeiro número só continha anúncios, por opção. Nos seguintes inserem-se notícias e crônicas, a maioria com tom irônico. O noticiário foi, sobretudo, local, episodicamente nacional e internacional, de interesse comercial e, pontualmente, cultural e literário.
O título repete o de um jornal publicado pela Imprensa Nacional em Lisboa (1850-1852) pelo ultrarromântico João de Lemos e por António da Silva Túlio. A diferença está no subtítulo do periódico lisboeta: “jornal literário e instrutivo”.
A relação com a literatura vem desde logo pelo facto de o seu fundador e redator ser um poeta (Sorrisos e desalentos) e ficcionista (Scenas d’Africa). Publicou no seu semanário, assinando “PM”, quatro contos em forma de folhetins (n. 2, 8, 10 e 21), em geral na primeira página. O terceiro folhetim passa-se no Dombe Grande (província de Benguela) e o seu narrador é autobiográfico (talvez também o seja no segundo), tratando-se de uma estória muito próxima do que hoje classificamos como fantástico, marcada certamente pelas confessadas leituras de Poe (Minuta do agravo do despacho de pronúncia de Eduardo Braga). Os títulos dos folhetins são: «Livre» (n. 2), «Em flagrante» (n. 8), «Ossos do ofício» (n. 10) e «Realismos» (n. 21).
Publicou também pequenas estórias, ou sugestões narrativas, articulando caricaturas e textos curtos, legendas, falas de personagens, como veio a fazer-se na banda desenhada. O procedimento era igual ao de Rafael Bordalo Pinheiro em Portugal e, na sequência do português, ao do irmão de Pedro Félix Machado, Julião Machado, no Brasil e em Portugal.
O impacto de A Semana só foi forte no local. Em Luanda, por força do cariz polêmico, teve algum eco, mas escasso.
Nesse mesmo tempo estava Julião Machado no Rio de Janeiro, com Olavo Bilac, publicando em revistas e jornais. É possível que os irmãos contactassem um com o outro, pelo que Pedro Félix Machado podia expedir para a capital brasileira alguns exemplares de A Semana. Os desenhos articulados com texto, de que falei, podem ter sido enviados pelo irmão, não sabemos, porque nenhum deles está assinado.
Por outro lado, em A Semana, Pedro Félix Machado anunciava um escritório em Lisboa, com um sócio, para tratar de assuntos jurídicos e afins. Mantinha, portanto, correspondência com Lisboa, que lhe permitia fazer lá chegar o semanário.
Em ambos os casos, a plausível articulação se dava com duas cidades-porto e duas capitais dos dois únicos (à época) países lusógrafos.
Os números de A Semana por mim consultados, encontrei-os em processos judiciais do arquivo do Tribunal de Benguela e na Biblioteca Nacional em Lisboa, em cujo site se pode ver a ficha respetiva. Na BNL há só os números 1, 2, 8, 10, 14 e 21. Neste último número (de 24-7-1893) aparece como editor e redator Paulo Cardozo. O n. 2 é que indica tratar-se de uma “folha hebdomadária”.
Francisco Soares
Para saber mais:
MACHADO, Pedro Félix. Minuta do agravo do despacho de pronúncia de Eduardo Braga. Benguela: sn, [1893?].
______. Scenas d’Africa - ? - romance íntimo. 2ª edição: Nelson Pestana. Lisboa: IN-CM, 2004.
______. Sorrisos e desalentos. 2ª edição: Francisco Soares. Lisboa: IN-CM, 2000.
______. Sorrisos e desalentos. Lisboa: Ferin, 1892.