• INÍCIO •           • APRESENTAÇÃO •           • CONTEÚDOS •           • PRODUÇÕES •           • COMO CITAR •          • EQUIPE •           • LINKS •           • CONTATO 

      A     B     C     D     E     F     G     H     I     J     K     L     M     N     O     P     Q     R     S     T     U     V     W     X     Y     Z      

 


A Semana

A Semana: folha hebdomadária. Benguela. Circulou de 20/11/1892 a 24/7/1893, 21 números. Fundador, editor e redator: Pedro Félix Machado.  Impressão: tipografia Progresso, Benguela; tipografia de A Semana, Benguela.

            Periódico generalista, o primeiro número só continha anúncios, por opção. Nos seguintes inserem-se notícias e crônicas, a maioria com tom irônico. O noticiário foi, sobretudo, local, episodicamente nacional e internacional, de interesse comercial e, pontualmente, cultural e literário.

            O título repete o de um jornal publicado pela Imprensa Nacional em Lisboa (1850-1852) pelo ultrarromântico João de Lemos e por António da Silva Túlio. A diferença está no subtítulo do periódico lisboeta: jornal literário e instrutivo.

            A relação com a literatura vem desde logo pelo facto de o seu fundador e redator ser um poeta (Sorrisos e desalentos) e ficcionista (Scenas d’Africa). Publicou no seu semanário, assinando “PM”, quatro contos em forma de folhetins (n. 2, 8, 10 e 21), em geral na primeira página. O terceiro folhetim passa-se no Dombe Grande (província de Benguela) e o seu narrador é autobiográfico (talvez também o seja no segundo), tratando-se de uma estória muito próxima do que hoje classificamos como fantástico, marcada certamente pelas confessadas leituras de Poe (Minuta do agravo do despacho de pronúncia de Eduardo Braga). Os títulos dos folhetins são: «Livre» (n. 2), «Em flagrante» (n. 8), «Ossos do ofício» (n. 10) e «Realismos» (n. 21).

            Publicou também pequenas estórias, ou sugestões narrativas, articulando caricaturas e textos curtos, legendas, falas de personagens, como veio a fazer-se na banda desenhada. O procedimento era igual ao de Rafael Bordalo Pinheiro em Portugal e, na sequência do português, ao do irmão de Pedro Félix Machado, Julião Machado, no Brasil e em Portugal.

            O impacto de A Semana só foi forte no local. Em Luanda, por força do cariz polêmico, teve algum eco, mas escasso.

            Nesse mesmo tempo estava Julião Machado no Rio de Janeiro, com Olavo Bilac, publicando em revistas e jornais. É possível que os irmãos contactassem um com o outro, pelo que Pedro Félix Machado podia expedir para a capital brasileira alguns exemplares de A Semana. Os desenhos articulados com texto, de que falei, podem ter sido enviados pelo irmão, não sabemos, porque nenhum deles está assinado.

            Por outro lado, em A Semana, Pedro Félix Machado anunciava um escritório em Lisboa, com um sócio, para tratar de assuntos jurídicos e afins. Mantinha, portanto, correspondência com Lisboa, que lhe permitia fazer lá chegar o semanário.

            Em ambos os casos, a plausível articulação se dava com duas cidades-porto e duas capitais dos dois únicos (à época) países lusógrafos.

            Os números de A Semana por mim consultados, encontrei-os em processos judiciais do arquivo do Tribunal de Benguela e na Biblioteca Nacional em Lisboa, em cujo site se pode ver a ficha respetiva. Na BNL há só os números 1, 2, 8, 10, 14 e 21. Neste último número (de 24-7-1893) aparece como editor e redator Paulo Cardozo. O n. 2 é que indica tratar-se de uma “folha hebdomadária”.

 Francisco Soares

 

Para saber mais:

MACHADO, Pedro Félix. Minuta do agravo do despacho de pronúncia de Eduardo Braga. Benguela: sn, [1893?].
______. Scenas d’Africa - ? - romance íntimo. 2ª edição: Nelson Pestana. Lisboa: IN-CM, 2004.
______. Sorrisos e desalentos. 2ª edição: Francisco Soares. Lisboa: IN-CM, 2000.
______. Sorrisos e desalentos. Lisboa: Ferin, 1892.